• Nenhum resultado encontrado

INVESTIGAÇÃO 2016 Um olhar para o ingresso específico para

3 EM BUSCA DE REFERENTES BIBLIOGRÁFICOS E ELEMENTOS DAS POLÍTICAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO

3.3 EDUCAÇÃO SUPERIOR E INTERNACIONALIZAÇÃO

3.3.1 Conceito de internacionalização

Internacionalização da ES, além de baseada em relações entre nações e suas instituições, pode ser entendida como esforço sistemático no sentido de tornar a universidade mais enérgica no repensar as ações que deve adotar para encarar os desafios da globalização (MOROSINI, 2006). Dessa forma a universidade caracteriza-se “[...] como un actor estratégico en el proceso de integración” (OREGIONI, 2015, p. 12) já que “[...] pelo seu objeto – conhecimento, sempre foi acompanhada da perspectiva internacional” (MOROSINI, 2006, p. 97).

Preocupada sobre como uma definição pode moldar as políticas públicas, a reconhecida estudiosa Knight (2008) retoma alguns conceitos propostos para internacionalização da ES. Segundo a autora, na década de 1980, Arum e Van de Water (1992) conceituavam como um conjunto de atividades. Ao analisar a definição de Van der Wende entende que a mesma é limitada à medida que trata apenas da dimensão internacional e não contextualiza a internacionalização em termos institucionais e setoriais. Sendo entendida como “qualquer esforço sistemático que vise tornar a educação superior sensível às exigências e desafios relacionados com a globalização das sociedades, a economia e mercados de trabalho”, conforme Van der Wende (1997, p. 18 apud KNIGHT, 2008, p. 20, tradução da Autora)34.

Propor um conceito universal é tarefa complexa haja vista as inúmeras disparidades entre as realidades de países e regiões e os interesses dos governos e das instituições. Tais fatores influenciam diretamente os programas e políticas para esse fim (KNIGHT, 2005).

Ao longo das últimas três décadas a teórica Jane Knight tem aprimorado seus conceitos. Percebe-se que há uma evolução nas dimensões e níveis, dada as variedades e as particularidades dos contextos e stakeholders. De toda forma, não exaure tais conceitos e os utiliza de maneira complementar e de acordo com o propósito de suas análises. O Quadro 6 apresenta alguns deles, vejamos:

34Van der Wende (1997) correctly pointed out that an institutional-based definition has limitations and therefore proposed a broader definition suggesting that inter- nationalization is “any systematic effort aimed at making higher education responsive to the requirements and challenges related to the globalization of societies, economy and labor markets” (p. 18). While this definition includes important elements, it only positions the international dimension in terms of the external environment— specifically globalization—and therefore, does not contextualize internationalization in terms of the education sector itself. (KNIGHT, 2008, p. 20)

Quadro 6 – Conceitos de internacionalização da ES, propostos por Jane Knight

ANO CONCEITO

1994 “Processo de integração de uma dimensão internacional e intercultural nas funções de

ensino, pesquisa e serviço da instituição”. Knight (1994, p.7 apud KNIGHT, 2008, p. 20, tradução da Autora) 35

2003 “A internacionalização nos níveis nacional, setorial e institucional é definida como o

processo de integração de uma dimensão internacional, intercultural ou global às finalidades, funções e oferta de educação pós-secundária. (KNIGHT, 2003, p.2/3, tradução da Autora)36

2004 “[...] o processo de integração de uma dimensão internacional, intercultural ou global

na finalidade, funções (principalmente ensino/ aprendizagem, pesquisa, serviço) ou a oferta de ensino superior.” (KNIGHT 2004, p.7, apud KNIGHT, 2014, p.2, tradução da Autora)37

2008 “A internacionalização nos níveis nacional / setorial / institucional é o processo de

integração de uma dimensão internacional, intercultural ou global ao propósito, funções ou oferta de ensino superior nos níveis institucional e nacional.” (KNIGHT, 2008, p. 21, tradução da Autora)38

Fonte: Elaborado pela Autora.

Desmembrando o conceito destacado no Quadro 6, Knight (2005b) explica os elementos desta definição a partir de uma ótica adaptada à realidade do contexto do século XXI, portanto, mais genérica para incluir os diversos provedores de ES.

Assim, quando a internacionalização é tratada no nível nacional significa que o tema tem a atenção de diferentes entidades governamentais ou ONGs (departamentos de educação, assuntos externos, ciência e tecnologia, cultura, emprego, imigração e comércio, onde todos

35By the mid-1990s, a process or organizational approach was introduced by Knight (1994) to illustrate that internationalization was a process that needed to be integrated and sustainable at the institutional level. By this definition, internationalization was seen as the “process of integrating an international and intercultural dimension into the teaching, research and service functions of the institution” (p. 7). (KNIGHT, 2008, p. 20) 36“Internationalization at the national, sector, and institutional levels is defined as the process of integrating an

international, intercultural, or global dimension into the purpose, functions or delivery of postsecondary education.” (KNIGHT, 2003, p.2/3)

37“[...] Internationalization of higher education is defined as “the process of integrating an international, intercultural or global dimension into the purpose, functions (primarily teaching/learning, research, service) or delivery of higher education” (KNIGHT 2004, p.7, apud KNIGHT, 2014, p.2)

38“Internationalization at the national/sector/institutional levels is the process of integrating an international, intercultural or global dimension into the purpose, functions or delivery of higher education at the institutional and national levels.” (KNIGHT, 2008, p. 21)

têm um interesse na dimensão internacional do ensino superior). Já quando tratada no nível setorial significa que os atores principais que tratam esta pauta são os departamentos governamentais agências e ONGs diretamente relacionados à educação. Em nível institucional identifica-se que os interesses podem ser bastante distintos entre instituições e nações, uma vez que fatores de diferentes graus podem influenciar as decisões institucionais tais como: missão, população estudantil, perfil do corpo docente, localização, fontes de financiamento, disponibilidade de recursos, grau de autonomia institucional, orientação para interesses locais, nacionais e internacionais.

Knight (2008) esclarece que a internacionalização pode ser vista como um processo, à medida em que implica um esforço contínuo. Se definida em termos de insumos, produtos ou benefícios ela se torna menos genérica, pois deve refletir as prioridades específicas de um país, instituição ou stakeholders. A noção de integração é usada para incorporar as dimensões internacional e intercultural em políticas e programas para garantir a sustentabilidade e a centralidade da missão e dos valores da instituição. Os termos internacional, intercultural e global refletem a amplitude da internacionalização, sendo que internacional refere-se às relações entre nações, culturas e países, a interculturalidade diz respeito às diversidades culturais dos países, comunidades, instituições e salas de aula, e o termo global está incluído para fornecer o sentido do escopo mundial, sem destacar o conceito de nação. Quando sublinha que as dimensões devem estar integradas ao propósito refere-se ao papel geral que o ensino superior tem para um país/região ou, mais especificamente, à missão de uma instituição. Ao falar em integração com as funções refere-se ao ensino, pesquisa, atividades acadêmicas e serviço à sociedade. Por fim, ao tratar da entrega refere-se à oferta de cursos e programas de educação, seja internamente ou em outros países.

A estudiosa latino-americana, Gacel-Ávila, apresenta algumas concepções para a internacionalização da ES:

[...] un proceso de reforma educativa, que favorece a partir del reconocimiento y el respeto a la diferencia cultural, la formación en los estudiantes de una capacidad crítica, para trabajar y convivir en la comunidad mundial. Los prepara para que sean respetuosos de las diferencias y la riqueza cultural de la humanidad con sentido de responsabilidad política, y de defensa de los principios democráticos en la sociedad en la cual viven y actúan. (GACEL-ÁVILA, 2018, p. 112)

El proceso intencional de integrar una dimensión internacional, intercultural y global en los propósitos, funciones y provisión de la educación terciaria, buscando incrementar la calidad de la educación y la investigación para todos los estudiantes y el personal de las instituciones, con la finalidad de hacer una contribución significativa a la sociedad (DE WIT, HUNTER, HOWARD, & EGRON-POLAK, 2015, p. 283 apud GACEL-ÁVILA; RODRÍGUEZ, 2018, p. 24).

Proceso que integra en las funciones sustantivas de las IES [instituciones de educación superior] una dimensión global, internacional, intercultural, comparada e interdisciplinaria, cuyo alcance es el fomento de una perspectiva y consciencia global de las problemáticas humanas en prol de los valores y actitudes de una ciudadanía global responsable, humanista y solidaria (GACEL-ÁVILA, 2006, p. 61 apud GACEL-ÁVILA; RODRÍGUEZ, 2018, p. 24).

Lamarra e Albornoz (2014, p. 41), também sob a ótica latina, correlacionam a internacionalização da ES ao imperativo da solidariedade e integração regional.

La internacionalización es un reto que implica el compromiso del país y de las instituciones a fines de repensar la articulación de los procesos de educación superior de cara a las nuevas demandas económicas, sociales, políticas, culturales y productivas. Por ello es importante adoptar estrategias de internacionalización comprehensivas, integradas y pertinentes a las políticas de desarrollo del país y de la región. Esto podrá sin duda mejorar los niveles de calidad del sistema educativo mediante alianzas estratégicas interinstitucionales, además de preparar adecuadamente los egresados con el perfil internacional, intercultural y global que requiere el nuevo siglo

Importante destacar o posicionamento de Knight (2012 apud KNIGHT, 2014) 39, no sentido de que a definição de internacionalização deve relacionar-se com a prática reorientada para valores acadêmicos e não apenas atividades de cooperação e intercâmbio.

Após a releitura atenta dos conceitos propostos e aqui destacados é possível observar que os discursos trazem a percepção de cada intelectual, desde a sua epistemologia de origem. Notadamente, os autores provenientes do Norte-global inserem em sua definição um espaço para a mercantilização da ES através da internacionalização quando olham para a extensão como serviço ou, ainda, dedicam espaço à transnacionalização, realidade já recorrente. Essa assertiva não é uma crítica apenas uma constatação, dada a realidade da ES em países desenvolvidos. A Academia do Sul global, por sua vez, potencializa o discurso de uma internacionalização voltada à cooperação acadêmica com fins humanísticos e solidários.