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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.2. Qualidade do solo

2.2.1. Conceito de qualidade do solo

O solo, juntamente com a água, o ar, a energia solar (luz e calor) e as plantas, é um recurso natural essencial à vida na Terra. Ele é o meio que faz com que os demais recursos interajam para permitir o crescimento das plantas terrestres, principal fonte de alimento para o homem e para os animais. Tal importância do solo se deve ao seu papel de interface entre a litosfera, a atmosfera, a hidrosfera e a biosfera (Brady & Weil, 2002). Como já foi referido na parte introdutória deste trabalho, embora não haja diferença em importância entre os recursos naturais essenciais à vida na Terra, há uma diferença definida no que diz respeito à destrutibilidade dos mesmos, ou seja, no que se refere às possibilidades de sua restauração quando eles se encontram em avançado estágio de degradação, especialmente o solo. Isto se deve ao fato de que o solo possui taxas de formação e renovação, portanto, de reposição,

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muito baixas, quando comparadas às taxas de degradação por ação antrópica, especialmente pela erosão acelerada. Assim, quando mal utilizado pelo homem, o solo pode sofrer um processo erosivo acentuado, com perdas físicas do mesmo, em adição à perda de água na forma de enxurrada, no caso da erosão hídrica pluvial, que podem grandemente superar as taxas naturais tanto de formação e de renovação de solo, quanto de erosão do solo (erosão geológica ou natural). Como resultado da erosão acelerada, especialmente a hídrica pluvial, a capacidade produtiva do solo para as culturas no local de origem do fenômeno é reduzida (dano direto da erosão) e problemas ambientais, de outras naturezas, fora do local de ocorrência do fenômeno, são criados (danos indiretos da erosão). Estes últimos dizem respeito ao assoreamento e à poluição das fontes superficiais de água, especialmente no meio rural, mas, também, no meio urbano, causados pela sedimentação dos produtos da erosão (partículas sólidas e substâncias químicas adsorvidas e, ou dissolvidas e transportadas na água de escoamento superficial da erosão hídrica).

Segundo Karlen & Stott (1994), o reconhecimento público de que é essencial manter em equilíbrio os recursos essenciais e finitos do planeta, em função do permanente crescimento de sua população, e o reconhecimento de que o solo é tão vulnerável à degradação quanto o são a água e o ar, constituíram a força por detrás dos esforços que estão sendo despendidos no sentido de melhor entender e melhor monitorar o que se denomina de qualidade ou “saúde” do solo. Cabe salientar que o crescente, e cada vez mais acentuado, interesse atual no tema qualidade do solo está associado com o assim denominado desenvolvimento sustentável. Como será visto adiante, entretanto, não é possível quantificar a qualidade do solo por meio de uma simples medição ou um simples indicador da mesma. Devido a isto, nas décadas de 1970 e 1980, principalmente nos Estados Unidos da América, a ênfase na pesquisa em erosão do solo foi no sentido de avaliar os diferentes sistemas de manejo do solo com o propósito de controlar os processos de erosão hídrica pluvial e erosão eólica do solo, para minimizar o declínio da sua capacidade produtiva para as culturas, causado pelas perdas de solo e água resultantes de tais fenômenos (Karlen et al., 2003). Segundo estes autores, a pesquisa em qualidade do solo, no entanto, passou a ser impulsionada

somente a partir da década de 1990.

O termo qualidade do solo é, muitas vezes, utilizado na literatura indistintamente do termo “saúde” do solo. No entanto, Gregorich (2002) faz uma distinção entre ambos, argumentando que o conceito de qualidade do solo engloba, já, o conceito de “saúde” do solo, uma vez que este último enfatiza mais as propriedades orgânicas e algumas outras mais dinâmicas do solo. Segundo o autor em questão, o conceito de qualidade do solo deve permitir uma visão mais ampla do mesmo, como o componente-chave para, de forma sustentada, suportar os demais ecossistemas terrestres.

A qualidade do solo pode ser definida como a capacidade do mesmo de servir uma função dentro dos limites de um ecossistema e de interagir positivamente com o ambiente externo a ele (Larson & Pierce, 1994) ou, alternativamente, como o grau de ajustamento de um solo a um uso específico, ou seja, sua habilidade ou capacidade de servir uma função específica (Gregorich, 2002). O solo pode ser considerado como possuindo cinco funções principais (funções primárias do solo), ou seja, servindo como: (i) meio de crescimento de plantas e de animais, (ii) regulador do suprimento de água, (iii) receptor e tamponador de descartes ou contaminantes, (iv) habitat para organismos de solo e (v) suporte para construções (Brady & Weil, 2002; Gregorich, 2002). Gregorich (2002), em função do seu conceito de qualidade do solo, ressalta que o desenvolvimento de uma arquitetura de trabalho útil para consideração da qualidade do solo deve iniciar com uma descrição clara das funções as quais a mesma deve ser baseada, isto é, aquelas que, provavelmente, irão influir no desempenho do solo. Além disso, deve-se ter em mente que a qualidade do solo é constituída de um elemento natural ou inerente, determinado pela interação entre seu material geológico de origem e processos pedogenéticos, como teor de argila, mineralogia, presença ou não de horizonte B textural ou coeso, etc., e de um elemento dinâmico, determinado pelas práticas de manejo adotadas pelo homem, como tipo de uso da terra, tipo e intensidade de preparo do solo, forma de manejo dos resíduos culturais, tipo de rotação de culturas, etc. Tais práticas de manejo, quando corretamente utilizadas, irão manter e, até, melhorar a qualidade do solo. Por outro lado, práticas de manejo inapropriadas, quando sujeitas a fenômenos naturais intensos, como, por exemplo, a erosão acelerada, podem diminuir a

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qualidade do solo, principalmente aquela natural ou inerente, podendo criar uma espiral crescente de degradação do solo (Ditzler, 2002).

Outros dois importantes conceitos envolvidos na qualidade do solo são o de resistência e o de resiliência. Resistência do solo refere-se à capacidade do solo de resistir a mudanças ou deformações quando confrontado com qualquer tipo de força ou perturbação externa ou, alternativamente, à capacidade do solo de continuar cumprindo integralmente uma ou mais de suas funções após ele ter sido confrontado com alguma força ou perturbação externa (Herrick & Wander, 1998). Por sua vez, resiliência do solo refere-se à capacidade do solo de se recompor das mudanças ou deformações promovidas por forças ou perturbações externas ou, em outras palavras, de readquirir sua capacidade plena de cumprir uma ou mais de suas funções após ter sofrido mudanças ocasionadas por forças externas (Seybold et al., 1999). Durante o período de distúrbio, causado pela ação de uma força externa (natural ou antrópica), a qualidade do solo é função da sua resistência. Após o período de distúrbio, a qualidade do solo passa a ser função da sua resiliência. Assim, tanto a resistência do solo ao distúrbio imposto, quanto sua resiliência após o mesmo, serão tanto maiores quanto melhor for a qualidade do solo. A resistência e a resiliência do solo atuam em conjunto para manter a sua qualidade. Contudo, a capacidade do solo de resistir a um distúrbio ou de se recompor dele, pode ser degradada ou perdida, como resultado do seu uso e, ou, do manejo inadequado, resultando em diminuição da sua qualidade (Seybold et al., 1999). Assim, o entendimento e o monitoramento completos de qualidade do solo irão permitir que os profissionais de agronomia possam avaliar melhor a sustentabilidade dos diferentes tipos de uso da terra e dos diferentes sistemas de manejo do solo empregados nas terras agrícolas (Gregorich, 2002).

Da mesma forma como os solos são estudados por meio das suas características e propriedades físicas, químicas e biológicas, a qualidade do solo pode ser estudada separando-a em qualidade física, química e biológica (Karlen & Stott, 1994). No presente trabalho, somente irão ser tratados de aspectos relacionados com a qualidade física do solo, tendo em mente a sua função primária de meio para o crescimento de plantas e de animais, porém, especificamente relacionada com a erosão hídrica pluvial.

2.2.2. Qualidade física do solo para o crescimento de plantas e de animais