2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.2. Qualidade do solo
2.2.5. Indicadores de qualidade física do solo para a função
Conforme já foi comentado no item 2.2.3, Karlen & Stott (1994) sugeriram uma estrutura de trabalho para combinar indicadores de qualidade física do solo para fins de minimização da erosão hídrica pluvial, elaborada com base nos requisitos do modelo “WEPP – Water Erosion Prediction Project”. Entretanto, os autores enfatizam que, dependendo da região fisiográfica (clima, relevo, etc.) e da forma de erosão dominante (entressulcos, sulcos, voçorocas, etc.), outras combinações de indicadores são possíveis.
Souza et al. (2003) utilizaram a metodologia de trabalho sugerida por Karlen & Stott (1994) num estudo de caso, onde objetivaram o estabelecimento de um índice quantitativo de qualidade do solo para a produção de citros, com base em indicadores físicos e químicos do mesmo, em três classes de solos coesos. Tal metodologia de trabalho mostrou-se prática e adequada, inclusive, permitindo a identificação de indicadores limitantes para a produção de citros nas três classes de solo estudadas.
Apesar da constatação de praticidade e adeqüabilidade encontradas por Souza et al. (2003) na metodologia de Karlen & Stott (1994), Cogo et al. (2003), baseando-se nas três fases do processo erosivo causado pela água da chuva e na importância relativa de cada uma delas no processo, propuseram modificações em tal metodologia para a avaliação quantitativa da qualidade física do solo para fins de minimização da erosão hídrica pluvial, como pode ser visto na tabela 2. Baseando-se no que foi exposto no item 2.1, Cogo et al. (2003) argumentam que a primeira e mais importante fase do processo erosivo pela água da chuva e da enxurrada dela originada é a desagregação das partículas do solo pela ação de impacto das gotas de chuva e pela ação cisalhante do escoamento superficial. Assim, estes autores sugerem que a subfunção mais crítica de qualidade física do solo para minimizar a erosão
hídrica pluvial deva ser a resistência que o mesmo oferece à desagregação de suas partículas pela ação dos agentes erosivos recém-referidos, atribuindo a mesma o maior peso relativo (45%) dentre todas as subfunções por eles consideradas. A segunda fase do processo erosivo é caracterizada pelo transporte das partículas de solo que foram desagregadas na primeira fase, o qual, predominantemente, se dá pelo escoamento superficial ou enxurrada (no caso da erosão hídrica pluvial). Com base neste processo, os autores sugerem que a segunda subfunção mais importante de qualidade física do solo para tal propósito deva ser a de facilitar a entrada de água no solo através da sua superfície, para reduzir o volume do escoamento superficial, atribuindo à mesma o peso relativo de 35%. Como já foi comentado nos itens 2.1.2 e 2.2.3, o que, em última análise, determina a capacidade erosiva da enxurrada, é a combinação do seu volume e da sua velocidade. Assim, Cogo et al. (2003), baseando-se no fato de que a energia cinética da enxurrada (Ec = mv2/2), prima
causa do cisalhamento e do transporte de solo pelo fluxo superficial, varia com o quadrado da sua velocidade, argumentam que o solo deve dificultar o movimento da mesma e resistir à degradação física pela sua ação cisalhante. Considerando este fato, os autores atribuíram o valor relativo de 10% para esta última subfunção, dentro da função de minimização da erosão hídrica pluvial.
No item 2.2.3, foi comentada a importância do teor de água no solo antecedente às chuvas no processo de erosão hídrica pluvial, onde solos com elevado teor de água no início das mesmas saturam mais rapidamente e, assim, favorecem a enxurrada e a erosão. Em função desse fato, Cogo et al. (2003) sugeriram, como última subfunção entre as quatro por eles consideradas, para fins de minimização da erosão hídrica pluvial do solo, a capacidade do solo de facilitar o movimento e o armazenamento internos da água da chuva, atribuindo a mesma o peso relativo de 10%.
Na tabela 2, além das subfunções às quais o solo deve servir para minimizar a erosão hídrica pluvial, são também sugeridos indicadores das mesmas, em dois níveis de consideração (1o e 2o), e seus respectivos pesos
relativos. Tal consideração de indicadores de qualidade do solo em dois níveis de importância se justifica para os casos em que não é possível ou viável a medição direta do indicador considerado no primeiro (1º) nível de importância, podendo-se, então, fazer uma estimativa indireta do mesmo por meio da
TABELA 2. Sugestão de uma nova forma de consideração da qualidade do solo para a sua função específica de resistir à erosão hídrica causada pela água da chuva nas terras agrícolas (Cogo et al., 2003)
Subfunção de qualidade do solo
Peso relativo da subfunção
(%)
Indicador de qualidade do solo Nível I
Peso relativo do indicador na
subfunção (%)
Indicador de qualidade do solo Nível II
Peso relativo do indicador na
subfunção (%)
Cobertura por resíduos culturais 30
6 2,5 Resistência ao cisalhamento por
impacto das gotas da chuva 10
Textura
Tipo do mineral de argila
Argila dispersa em água 1,5
2,5 1 1 1. Resistir à degradação
física por ação do impacto
das gotas da chuva 45
Estabilidade dos agregados em água 5
Textura
Tipo do mineral de argila Teor de matéria orgânica
Biomassa microbiana 0,5
Textura 8
Rugosidade superficial 8
Selo/crosta superficial 4
Macroporos 3
Capacidade de infiltração de água 25
Tipo do mineral de argila 2
2. Facilitar a entrada de água no solo através da sua superfície (reduzir o volume
do escoamento superficial)
35
Cobertura por resíduos culturais 10
Rugosidade superficial do solo ao
acaso 5
3. Dificultar o movimento do escoamento superficial e resistir à degradação física
por ação de cisalhamento do mesmo
10
Quantidade de resíduos culturais
superficiais 5
Textura 2,5
Teor de água capilar 1,5
Tipo do mineral de argila 1
Condutividade hidráulica 6 Densidade do solo 1 Porosidade total 1,5 Raízes de plantas 1,5 4. Facilitar o transporte e o armazenamento internos da água 10 Macroporosidade 2,5 Minhocas 1
medição dos indicadores considerados no segundo (2º) nível de importância (Karlen & Stott, 1994; Gregorich, 2002; Carter, 2002).
Para finalizar o assunto em pauta, ressalta-se que, para se desenvolver um índice quantitativo de qualidade do solo para fins de minimização da erosão hídrica pluvial, medições subjetivas, qualitativas e quantitativas de todos os indicadores físicos e químicos considerados apropriados e significativos devem ser combinadas de forma consistente e reproduzível (Karlen & Stott, 1994; Cogo et al., 2003; Souza et al., 2003).