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Conceito de Sexualidade

No documento RAFAEL ADRIANO DE OLIVEIRA SEVERO (páginas 43-46)

A sexualidade humana é uma dimensão da experiência social permeada por inúmeras questões. Através dela, todo um universo de desejos, crenças e valores são articulados, definindo um amplo espectro do que entendemos como sendo a nossa identidade.

As sexualidades sempre participaram da estruturação das hierarquias sociais, fazendo parte do debate político. Vários historiadores e tratados bibliográficos que retomam os tempos históricos anteriores e atuais evidenciam a intensidade e os caminhos pelos quais as formas de sexualidades foram, e ainda são, objetos de disputa, de controle social e individual, de emancipação ou violência contra as pessoas; tais perspectivas teóricas podem ser encontradas, por exemplo, em Stearns (2010) e Foucault (1984), dois autores presentes nesta pesquisa.

Os estudos sobre a história da sexualidade são recentes e envolvem questões que algumas pessoas, mesmo em sociedade cada vez mais permissivas, preferem ainda não discutir, por exemplo, heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade, entre outros. (STEARNS, 2010; FOUCAULT, 1984, 1988).

Alguns livros de história da sexualidade, tais como História da Sexualidade: a vontade de saber (FOUCAULT, 1988); História da Sexualidade: o uso dos prazeres (FOUCAULT, 1984) e História da Sexualidade (STEARNS, 2010) concentraram-se em comportamentos exóticos, que não necessariamente lançam luz sobre aspectos ligados à sexualidade da maioria das pessoas. A sexualidade é um elemento importante da condição humana e sua história pode e deve ser investigada a partir de uma perspectiva que não tenha a intenção de excitar ou ofender.

De acordo com Carin Jämtin, ministra sueca de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, citada por Cornwall e Jolly (2008):

A sexualidade reside na essência da vida humana, naquilo que torna as pessoas plenamente humanas – é a chave de nossa capacidade de contribuir positiva e plenamente para as sociedades nas quais vivemos [...] os temas de sexualidade e direitos sexuais dizem respeito ao direito de toda pessoa à vida e à boa saúde. (CORNWALL E JOLLY, 2008, p. 31).

A sexualidade, o que não chega a surpreender dada a sua importância, sempre foi uma parte essencial do panorama da história mundial. A história da sexualidade começa com o fato de que, como muitos antropólogos apontaram, o animal humano tem algumas características distintivas. (BHANA, 2008; RASHID, 2008).

A sexualidade é uma questão de comportamento animal, embora, no caso dos seres humanos, outros fatores estejam envolvidos, pois as sociedades vêm mudando bastante nas últimas décadas.

Novos níveis populacionais com uma taxa de crescimento sem precedentes no século XX, novos dispositivos, como a pílula anticoncepcional, facilitaram uma crescente separação entre sexo e reprodução, criando maiores oportunidades; o sexo recreativo; novos tipos de mídia, como o cinema e a televisão, criam oportunidades para a visualização de estímulos sexuais; os contatos cada vez maiores entre as sociedades, inevitavelmente criam tensões, à medida que colidem diferentes padrões sexuais; novas idéias sobre os direitos humanos geram debates sobre o tratamento de certos tipos de minorias sexuais; mudanças nos padrões de trabalho e educação, com mais e mais mulheres estudando e trabalhando fora de casa; em meio a essas e outras mudanças muitas sociedades e indivíduos reagem com indignação, buscando se defender contras as inovações inadequadas em uma das áreas mais íntimas da vida humana.

Para Stearns (2010),

uma das razões que a história da sexualidade adquire importância é que envolve a oportunidade de analisar padrões de mudanças vigentes e as reações à mudança – usando a história recente para compreender melhor as nossas identidades globais contemporâneas. (STEARNS, 2010, p. 14).

Um estudo muito importante sobre a sexualidade, analisando relações entre dispositivos de poder e a produção de subjetividades no século XIX e início do XX, é o trabalho de Michel Foucault. Sua análise da sexualidade como dispositivo histórico permite a desconstrução do argumento de que a sexualidade é uma evidência

biológica e experiência universal. O objetivo de seu projeto era questionar a afirmação que toma a sexualidade como uma instância continuamente reprimida, bem como, entender como este discurso está em consonância com os modelos de poder e saberes estabelecidos na modernidade. (FOUCAULT, 1988).

Para Foucault (1988) a sexualidade é um dispositivo produzido socialmente em uma sociedade determinada e surge com o objetivo de organizar e administrar as condutas individuais e sociais. Dessa produção, que é histórica e culturalmente determinada, a sexualidade surge como categoria da relação saber-poder.

Neste debate sobre a sexualidade, um elemento fundamental surgido no fim do século XX é a relação entre identidade e sexualidade. A noção predominante de identidade no século XX procurou responder aos constantes aumentos da complexidade das sociedades modernas, através de um modelo teórico estruturado na relação eu e o nós.

Segundo Hall (2000), autores que contemporaneamente discutem a questão da identidade observam que ao contrário da identidade do ‘sujeito do iluminismo’ - que possuía uma concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo ‘centro’ consistia num núcleo interior. O “interior do sujeito não era autônomo e auto-suficiente, mas formado na relação com ‘outras pessoas importantes para ele’, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos - a cultura -, dos mundos que ele/ela habitava”. (HALL, 2000, p. 10-11).

Ainda de acordo com Hall (2000), essa percepção de identidade fundamenta- se na afirmação de que,

a identidade é formada na ‘interação’ entre o eu e a sociedade. O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o ‘eu real’, mas este é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais ‘exteriores’ e as identidades que esses mundos oferecem.(HALL, 2000, p. 10-11).

Assim, é no contexto da interação e da encenação por um indivíduo de um papel socialmente elaborado que as identidades parecem ser definida. Ela não são fixas e constantes, mas fluidas e contextuais, formuladas a partir das expectativas sociais definidas dentro de determinadas situações sociais.

No documento RAFAEL ADRIANO DE OLIVEIRA SEVERO (páginas 43-46)

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