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Grupos de discussão: conceito e importância

No documento RAFAEL ADRIANO DE OLIVEIRA SEVERO (páginas 51-53)

O grupo de discussão insere-se num jeito de fazer pesquisa que privilegia as interações e uma maior inserção do pesquisador no universo dos sujeitos, reduzindo assim, os riscos de interpretações equivocadas sobre o meio pesquisado. É um instrumento de explorações de opiniões coletivas e não apenas individuais, onde Mangold (1960 apud WELLER, 2006, p.245) descreve que,

[...] a opinião do grupo não é a soma de opiniões individuais, mas o produto de interações coletivas. A participação de cada membro dá-se de forma distinta, mas as falas individuais são produtos da interação mútua [...]. Dessa forma as opiniões de grupo cristalizam-se como totalidade das posições verbais e não-verbais. (MANGOLD, 1960, p. 49).

Nesse sentido, os grupos de discussão constituem uma ferramenta importante para a reconstrução dos contextos sociais e dos modelos que orientam as ações dos sujeitos. Passaram a ser utilizados na pesquisa social empírica pelos integrantes da Escola de Frankfurt a partir dos anos 50, do século XX, especificamente em um estudo realizado em 1950-1951 e coordenado por Friedrich Pollok, no qual foram realizados grupos de discussão com 1800 pessoas de diferentes classes sociais.

Somente no final da década de 1970 que esse procedimento recebeu um tratamento teórico-metodológico – ancorado no interacionismo simbólico, na fenomenologia social e na etnometodologia - caracterizando-se dessa forma como um método e não apenas como uma técnica de pesquisa de opiniões.

De acordo com Weller (2006):

Para que os grupos de discussão adquiram propriedade de método, é necessário que os processos interativos, discursivos e coletivos que estão por detrás das opiniões, das representações e dos significados elaborados pelos sujeitos sejam metodologicamente reconhecidos e analisados à luz de um modelo teórico ou, em outras palavras, quando interpretados com base em categorias metateóricas relacionadas a uma determinada tradição teórica e histórica. (WELLER, 2006, p. 245).

Vê-se que, o trabalho com um grupo de discussão exige não somente o domínio metodológico e metateórico do tema, mas também um conhecimento sobre o meio pesquisado, a situação social dos entrevistados, atividade profissional, entre outros aspectos.

Os grupos de discussão estabelecem uma via de acesso que permite a reconstrução dos diferentes meios sociais e das inteligibilidades coletivas do grupo. Seu objetivo principal é a análise dos fenômenos relacionados ao meio social, ao contexto geracional, às experiências de exclusão social, entre outros. A análise do discurso do sujeito, do ponto de vista do sentido subjetivo do sujeito é fundamental e auxiliará na identificação da importância coletiva de um determinado tema.

Callejo (2002) ao se referir aos grupos de discussão e análise de seus discursos, nos diz que,

[...] o grupo de discusión é una técnica conversacional que recolle a dimensión incoherente do discurso. Esta concepción atópase na liña da escola formada por Jesús Ibáñez, Ángel de Lucas, Alfonso Ortí e Luis Enrique Alonso. Así, o grupo de discusión é una técnica mais próxima ó discurso informal ou espontâneo, que é onde teñem lugar os conflictos sociais. Esta concepción fundamenta o gran potencial desta técnica e é, a vez, a fonte das súas limitacións, a que non todo se fala em situacións públicas. (CALLEJO, 2002, p. 91).

Na perspectiva de Callejo (2001), o que o grupo de discussão possui como algo particular e inovador reside no fato de durante o debate, perante um tópico de discussão, cada um dos elementos do grupo ter a possibilidade de apresentar, de defender, de construir e de desconstruir os seus pontos de vista numa lógica de interação que se tornou mais profunda e complexa, chegando-se a um conjunto de opiniões comuns a todos os sujeitos do grupo.

Portanto, o grupo de discussão se apresenta como uma possibilidade altamente favorável aos estudos sociológicos, principalmente àqueles que procuram compreender os dilemas e as diferentes perspectivas sociais e dos sujeitos envolvidos, principalmente no estudo de situações revestidas de alguma complexidade como as que são vivenciadas em ambientes escolares.

A discussão, efectivamente, não tem como objectivo a busca de consenso entre os participantes; o que permite é recolher um grande leque de opiniões e pontos de vista que podem ser tratados extensivamente. A situação de grupo produz a deslocação do controlo da interação desde o investigador até aos participantes, o que dá uma maior ênfase [...] aos pontos de vista dos participantes, facto que permite um aprofundamento dos

temas propostos à discussão, o que dificilmente se consegue de outra maneira. (FABRA E DOMÉNECH, 2001, p. 33-34).

Por ser uma técnica que apresenta uma alta validade subjetiva, torna-se necessário selecionar um espaço adequado para o decurso dos trabalhos, sobretudo porque a liberdade de expressão e a confidencialidade assumem muita relevância não só para o investigador, mas, sobretudo, para os participantes, particularmente no que respeita à garantia de poderem expressar livremente suas opiniões críticas sem constrangimentos. (FABRA; DOMENECH, 2001, p. 34).

Nesse sentido, o papel do investigador requer flexibilidade, capacidade de observação do grupo, perspicácia e sutileza para ajudar a desabrochar a interação entre todos os sujeitos, a promoção da coesão dentro do grupo, a capacidade de síntese e de recondução de temáticas relevantes que possam surgir quando da discussão, Santos (2009):

Assim, a pessoa que conduz o grupo de discussão assume uma função essencial, particularmente no que respeita à responsabilidade de criar um bom ambiente alicerçado na confiança e na confidencialidade que permita o desabrochar natural das intervenções de todos os participantes. (SANTOS, 2009, p. 99).

Enquadrado nas técnicas qualitativas de investigação, o grupo de discussão privilegia a perspectiva dos sujeitos e as relações sociais; pois, se trata de uma ferramenta muito importante ao serviço de investigação qualitativa, particularmente no estudo de situações onde as subjetividades e as intersubjetividades se cruzam; trata-se de um processo de “estar” que exige tempo, espaços onde existem estímulos, um moderador, um processo de reagrupamento em que os sujeitos são desconhecidos uns para os outros, pois é fundamental que o objeto de investigação se construa nesta interação. (SANTOS, 2009).

No documento RAFAEL ADRIANO DE OLIVEIRA SEVERO (páginas 51-53)

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