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Busca-se no presente capítulo conceituar “Força-Tarefa”. Na realidade, não há um conceito específico para o termo. Ao contrário, há uma idéia no sentido de que “Força-Tarefa” se trata de algo provisório, criado para uma determinada demanda. Não é o que se busca na presente dissertação, através da qual se sustenta a criação de uma “Força-Tarefa permanente” para a investigação e combate à macrocriminalidade (que, como já visto, não se trata de algo provisório).

apontadas por Weber já se encontram esgotadas, ensejando novos arranjos institucionais e políticos que proporcionem o controle dos crimes nesta “era da globalização”.

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Como já referido anteriormente, a dificuldade de sua conceituação encontra- se no fato do termo ser utilizado de forma abusiva no cotidiano brasileiro, não sendo definida e compreendida entre os operadores do direito73.

A idéia de Força-Tarefa, dentro da teoria organizacional, nos remete aos conceitos de redes advindos das áreas da Sociologia e da Antropologia.

Santos, Hermílio (2007) refere:

Uma das principais características das sociedades complexas é a relevância das instituições no contexto de diferenciação social, marcada por uma especialização dos diferentes tipos de organizações da sociedade. Essa diferenciação tem sido acompanhada pelo surgimento de um tipo de arranjo institucional em rede, que implica uma maior cooperação e intercâmbio entre diversas instituições. A construção equilibrada dessa interação prospera em um ambiente institucional diversificado e plural, em que os recursos necessários (capital, conhecimento, capilaridade, capacidade de formação, etc.) para o desenvolvimento estejam desconcentrados.

Fleury (2002) destaca que as redes apresentam várias vantagens como a pluralidade de atores, possibilidade de maior mobilidade de recursos, presença pública sem aumento da estrutura burocrática, maior versatilidade e adaptabilidade ao ambiente e objetivos e estratégias oriundos de consenso obtido por meio de negociação entre seus participantes.

Matos (1980) alerta:

Em nossa época, marcada pela transitoriedade, em que se exige de homens e organizações capacidade adaptativa e inovadora, novos sistemas e novas técnicas estão sendo, sucessivamente, introduzidos. Formas

Matriciais, Forças-Tarefa, Gerência de Projetos procuram dar flexibilidade desejável às estruturas para as adaptações e ajustamentos a uma eficaz organização administrativa para resultados (Grifo do Autor).

Naím bem ilustra essa realidade:

Reunir policiais, advogados, contadores, economistas, cientistas da computação e, até mesmo, cientistas sociais em equipes integradas e funcionais com um amplo raio de ação é, de fato, difícil. Mas não é impossível. Forças-Tarefa envolvendo diferentes agências – até mesmo de países distintos – foram bem sucedidas no desmantelamento de operações de tráfico e na captura de importantes protagonistas desse comércio. O problema é que Forças-Tarefa finalmente se dissolvem, com cada membro voltando para sua repartição original, enquanto os traficantes se reagrupam

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A própria Instituição do MPRS denomina Força-Tarefa como a atuação dos Promotores em “salões de bailes”, para evitar venda de bebidas alcoólicas, em criatório de galos de rinha,em desmanches de carros, etc. Ver Anexo V.

e se adaptam. Manutenção de uma mentalidade de ‘Força-Tarefa’

envolvendo múltiplas agências em um futuro indefinido, bate de frente com tudo o que sabemos sobre o modo como as administrações públicas preferem agir (Grifo nosso) (2006, p. 235).

Brindeiro entende que:

O novo Ministério Público deve ter uma ênfase sobretudo no trabalhado das

Forças-Tarefa. Criando-se a Força-Tarefa mantém-se a observância do

princípio do Promotor Natural, cabendo aos promotores ali designados a atribuição exclusiva para atuação. Trata-se de uma nova forma de abordagem, sublinhando a integração entre os protagonistas, potencializadora, de forma participativa e transparente (2004, p. 39).

Mendroni (2002), após estudar as Forças-Tarefas americanas, refere que existem duas classificações possíveis: as Forças-Tarefa formal e informal.

A primeira seria aquele grupo que se forma:

[...] através de um contrato escrito entre os chefes dos órgãos, com duração de tempo limitado mas prorrogável, devendo perdurar até que a situação de crise seja considerada superada ou amenizada o suficiente, a ponto de poder ser combatida através dos meios normais de persecução criminal (MENDRONI, 2002, p. 31).

Os chefes ou responsáveis por cada órgão público assumem perante os demais o compromisso de co-participar com seus esforços, - de pessoal, materiais e equipamentos disponíveis e principalmente partilhando das informações, que já por acaso detenham a respeito de pessoas, situações, circunstâncias, locais, etc. Formulam um contrato no qual esse compromisso e os seus tópicos tornam-se documentados, permitindo a estabilidade do Grupo (MENDRONI, 2002, p. 32).

Já a Força-Tarefa informal prescinde de contrato escrito:

Basta que as Forças Estatais se reunam e planejem diretrizes a serem seguidas em cooperação mútua intensificada contra um determinado problema relacionado à criminalidade em determinada região. Não havendo compromisso documentado o desfazimento torna-se mais fácil e a Força- Tarefa mais instável, o que contudo não impede que sejam alcançados resultados satisfatórios (MENDRONI, 2002, p. 32).

Unem-se em verdadeiro esforço coletivo os órgãos dos representantes dos Ministérios Públicos, das Polícias, da Secretaria da Fazenda, da Receita Federal, do INSS, da Procuradoria do Município. Eles se reúnem de forma a traçar diretrizes, estratégias, trabalhando em conjunto contra determinada situação de criminalidade organizada (MENDRONI, 2002, p. 32).

Quanto ao material, equipamentos e integrantes, o autor destaca (2000, p. 32): “Cada órgão que vier integrar a Força-Tarefa deve participar com a estrutura que puder dispor, não só entregando agentes à participação, mas também veículos, equipamentos de investigação, armas, etc.”74. Os Chefes dos órgãos devem realizar uma triagem e separar aqueles interessados em participar, seja para trabalhar de forma integral na Força-Tarefa seja a título de horas extras.

Nessa realidade, Mendroni alerta:

Torna-se então intolerável a ocorrência de situações de “ciúmes”, entre integrantes das mesmas instituições e de instituições distintas. Torna-se inaceitável realizações de operações ou providências adversas e prejudiciais, umas as outras. Todos os integrantes devem ter em mente, de forma inequívoca, que trabalham para a perseguição do mesmo objetivo, e para isso, nada mais prejudicial que o trabalho desencontrado, adverso. Não se admitem disputas entre os integrantes do mesmo time, situação em que os criminosos evidentemente extraem vantagens (2002, p. 34-35).

Como no âmbito da investigação criminal, costumeiramente depara-se com a prática de diversos delitos, mister se faz utilizar os mecanismos processuais disponíveis para o caso concreto75, procurando sempre atingir os bens e o dinheiro dos chefes das organizações.

Mendroni (2002) observa que a estrutura material é essencial, em especial quanto à instalação de computadores interligados em rede com os mais diversos órgãos públicos e um local de preferência neutro, proporcionando a atuação de todos os seus integrantes, nos “moldes do sistema Norte Americano” (p. 36). Salienta a importância de um local onde a “identidade seja do próprio grupo” (p. 37)76.

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No entendimento do autor (2002, p. 33), é preciso formar uma estrutura material compatível com o combate à organização criminosa, como, por exemplo, softwares para a execução de interceptações telefônicas e acesso aos bancos de dados, micro câmeras, escutas ambientais,etc.

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Geralmente, os mecanismos legais mais utilizados são os previstos na Lei n. 9.034/95 e Lei

10.217/01 que dispõem sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de

ações praticadas por organizações criminosas (exemplos: ação controlada, infiltração de agentes, acesso a dados, delação premiada e outros); na Lei n. 9.613/98 que dispõe sobre os crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores; na Lei n. 9.807/99 que estabelece normas para organização e manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas; na Lei n.7.492/96 que se refere aos crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, etc.

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Mendroni (2002) recomenda a participação de Ministérios Públicos Estadual e Federal (coordenação das investigações e providências jurídicas), das Polícias Federal, Estadual e Militar (atuação no campo operacional), do Setor de Inteligência (com pessoal especializado em perícias diversas, computação, contadoria, telefonia, etc.), da Secretaria da Fazenda, da Receita Federal, do INSS e dos Procuradores e Agentes do Banco Central.

O autor sugere, quanto aos pressupostos para o combate, que haja uma estratégia de atuação definida (panorama geral da organização criminosa), uma investigação de campo (identificando-se todos os participantes, em especial os “testas-de-ferro”) e a obtenção de informações e documentos referentes aos dados pessoais de todos integrantes. Após, mister se faz o processamento e conferência das informações (ex. cruzamento de dados a partir de informações da declaração de imposto de renda, dados da Secretaria da Fazenda, contas de luz, água, cadastro na Junta Comercial, contas bancárias, etc.).

Para a realização dessas tarefas, Mendroni (2002) e Brindeiro (2004) sustentam a atuação exclusiva dos Agentes Policiais, especialmente treinados para tanto.

Após a coleta e exame dos dados, os Promotores de Justiça devem definir os principais pontos de ataque jurídico, para, em seguida, movimentar a máquina do Estado. É o início da atividade jurídica e normalmente da atividade jurisdicional, na medida em que se requer quebra do sigilo telefônico, sigilo bancário, fiscal, escutas telefônicas, etc. Por certo que as boas estratégias são sempre bem-vindas77 como,

por exemplo, o lançamento de contra-informações para dentro da organização criminosa desde que bem executada e sem provocar suspeitas (2002, p. 39).

O objetivo da Força-Tarefa deverá ser sempre destruir a organização criminosa. Importante concentrar esforços para destruir a organização criminosa, remetendo os demais crimes para as formas de investigação e persecução comuns.

Nos últimos anos, como bem ressalta Machado (2007), as Forças-Tarefa tornaram-se importante estratégia política78.

Silva assinala:

Assim, na atual conjuntura de violência e corrupção que assola o país, deveríamos nos empenhar numa “Força-Tarefa” para combater esses males, sem vaidades, corporativismos ou exclusividades, posto que isto não traz qualquer benefício, mormente diante da árdua luta que temos pela frente, para, acima de tudo, buscar uma melhora para a sociedade, destinatária final de nosso trabalho (2004, s/p).

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A propósito do tema, confira-se A Arte da Guerra, os 13 capítulos. Edição Especial. São Paulo: DPL, 2007.

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Em 2002, São Paulo criou a Força-Tarefa permanente para combater o comércio de mercadorias ilegais que entravam no país e acabar com a corrupção do setor de fiscalização da Prefeitura. Em 2003, foi criada a Força-Tarefa contra o crime organizado no Espírito Santo. No mesmo ano, foi criada a Força-Tarefa que comandou a “Operação Anaconda” envolvendo esquema de vendas de sentenças por Juízes Federais. Disponíveis em: <http://portal.prefeitura.sp.gov.br> e <http://notícias.correioweb.com.br>.

Medeiros bem salientou que:

As incipientes experiências de Forças-Tarefa ou grupos de atuação, surgidas no seio do Ministério Público Federal, ou nos centros de apoio operacional, que se firmam nos Ministérios Públicos estaduais, são indicadores de que novos modos de organização das engrenagens do Ministério Público estão sendo exigidos em face da dinâmica de sua atuação e dos níveis de cobrança por que passa a instituição (2006, p. 77).

Questionada sobre a importância da integração entre as organizações, em “Histórias de Vida do Ministério Público do Rio Grande do Sul”, Ruwel destacou:

[...] sempre entendi ser importante a integração entre as instituições. O Ministério Público depende da Polícia Civil, pois é ela quem faz os inquéritos, quem investiga, e, da mesma forma, da Brigada Militar, pois são os Policiais Militares os que realizam o policiamento ostensivo, bem como, na maioria das vezes, os que chegam em primeiro lugar na cena do crime. Por tudo isso, é importante essa integração, essa troca de informações e experiências (2005, p. 266).

Salienta Lemos Junior (2002, p. 446-447) que diante da forma com que atuam as organizações criminosas (a diversidade de atividades e a presença indispensável de funcionários públicos), a criação de Força-Tarefa é a única forma real de enfrentar a atuação do criminoso organizado.

Pode-se observar que são vários e diversificados os conceitos atribuídos à figura da Força-Tarefa, bem como o entendimento de sua importância e necessidade. Portanto, inviável a utilização de um conceito-padrão de Força-Tarefa para que seja utilizado como modelo ideal na presente dissertação. Exeqüível, sim, é a utilização das principais características de todos esses conceitos daquilo que autodenominam “Forças-Tarefa”, objetivando a construção de um mecanismo ideal e viável para o combate à macrocriminalidade.

Já, nos Estados Unidos, as Forças-Tarefa Task-Force (Força-Tarefa) são amplamente conhecidas e definidas.