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Prováveis causas do descrédito e da inoperância do GISP

7.6 DA FORÇA-TAREFA PARALELA AO GISP, SOB O COMANDO DO MINISTÉRIO

7.6.1 Prováveis causas do descrédito e da inoperância do GISP

Partindo-se da idéia inicial de que o GISP era o modelo de Força-Tarefa para o Rio Grande do Sul e, após, a pesquisa demonstrando contrário, o objetivo desse subitem é o exame das prováveis causas do descrédito e inoperância do GISP na opinião de seus integrantes. Ressalte-se a importância de tais avaliações para que esses erros não sejam repetidos no nosso Estado quando de eventual criação de uma Força-Tarefa permanente:

[...] Não houve troca de informações, os setores de inteligência não conversavam. Então, esse já é o problema crônico. Volto ao argumento, a frouxa articulação, a metáfora da frouxa, me descreve bem o desafio que é gerir esse sistema. Isso significa que nós temos que experimentar. Temos que inovar, não há modelos a serem seguidos. Volto a dizer em Minas Gerais, eu não voltaria a defender o GISP. Ou pelo menos nos moldes que ele foi executado. Agora, a pergunta deve ser colocada por que não reconstruir essa experiência de outras maneiras, né? Quais foram os principais erros que Minas Gerais cometeu? E que definiram o fracasso do modelo [...].

Essa era a pretensão. Obviamente, a gente pode analisar, mas o que que aconteceu até agora? O GISP não decolou, não conseguiu vingar. Então, é o momento da gente refletir por quê? O que explica possivelmente que esse modelo institucional não tenha conseguido [...] porque ele conceitualmente, era uma boa idéia, era repetir o que há de melhor numa Força-Tarefa.

Talvez aí esteja um dos problemas, né. Talvez a própria viabilização, talvez a idéia não tenha mobilizado devidamente as devidas Instituições. Isso talvez tenha ficado restrito pela liderança de alguns poucos indivíduos no âmbito das respectivas organizações.

Agora, não tenha dúvida, que o Ministério Público não ter desmontado o GCOC foi decisivo. Foi decisivo.

Pensando aqui, talvez, seja um dos elementos pra gente considerar. Porque foram os mesmos, os que estavam no inicio, que permaneceram e que perduraram, foram os mesmos. A questão e que, durante 2004, esse órgão praticamente não funcionou, porque não teve sede. A Secretaria demorou quase um ano para encontrar um espaço, um imóvel, pra comprar os equipamentos e prá por tudo para funcionar. Só em 2005, primeiro semestre de 2005 conseguiu fazer isso. Houve uma inoperância administrativa séria, mas do meu ponto de vista, é resultado de uma falta de compromisso do Secretario de Defesa, ele não, ele, efetivamente, era um dos que não estava convencido desse modelo.

Talvez, houve problema de disseminação da informação, a ponto dessas resistências consolidarem-se no seio da Polícia Civil. Esses receios corporativos internos, talvez, esses segmentos não tivessem a devida noção do que é o GISP, talvez é um outro erro que a gente deve considerar. Ou seja, talvez a gente não tenha conseguido mostrar de maneira clara para todo mundo, que o GISP era Força- Tarefa institucionalizada. A gente não queria criar ali um outro grupo de especialistas, de super polícias ou de super investigadores, separado do restante das instituições. Eu acho, que, esse talvez tenha sido outro erro, nós não conseguíamos disseminar essa identidade do órgão. Efetivamente, para o público interno, pareceu a idéia de que a Secretaria, o Governo, estava criando um super órgão, uma Swatt mineira. E aí, obviamente, era compreensível as resistências. E nós não conseguimos evitar isso, talvez, aí, um erro de comunicação. Outro erro.

Foi uma batalha interna intensa em 2006 para garantir a sobrevivência financeira do órgão. Foi uma grande batalha. Foi um período em que começaram a perder alguns policiais, começaram a se desiludir, houve um esvaziamento de

atribuições, não tinham mais tarefas, o Conselho Gestor começou a se reunir esporadicamente, começou a ser desmobilizado. Não havia mais a pessoa da Secretaria, que podia fazer esse papel, essa mediação, não tinha mais. E o Secretário não queria colocar ninguém. Isso acabou esvaziando o órgão. Desmotivação, falta de recursos básicos. Em 2006, vem um outro Secretário, que também não comprou a idéia [...]. O novo Secretário que assumiu em 2007, também não vê no órgão uma política adequada. Não vê com prioridade, não entende e não compreendeu o GISP como uma Força-Tarefa institucionalizada. Ao contrário, vê como um estorvo, um problema, só gasta, e ele resolve que a prioridade dele é montar um setor de Inteligência própria da Secretaria, coordenado pela Polícia Federal. Foi a decisão política que ele tomou. Então, ele esvaziou o GISP. No momento, o GISP está praticamente esvaziado, está prestes a acabar. Uma experiência que nasceu muito bem, e, então, morreu!.

Interessante que nesse processo de deterioração, quem está mais sentindo é a Polícia Militar e o Ministério Público. São os órgãos que estão mais sentindo. A Polícia Civil, parece, dá a impressão, na sua cúpula, que está satisfeita com a derrocada do GISP.

A partir de 2006 começou a acontecer. Com o esvaziamento da Instituição, os bons Policiais já não queriam, quem estava lá queria sair, e havia uma rotina de indicar nomes para compor o órgão, prá cumprir lacunas e começamos a identificar que os que estavam sendo indicados não eram profissionais motivados, muitas vezes competentes para aquelas atividades. E isso, veja, foi uma bola de neve, principalmente em 2006. O GISP nunca conseguiu formar um grupo coeso, de policiais, de profissionais. nunca conseguiu.

A única alternativa que eu vejo para que a gente reverta a situação é os Governadores assumirem posições mais firmes no comando do problema da Segurança Pública. A única maneira de você lidar com o corporativismo das instituições, é uma liderança política forte, carismática. Representação democrática. e afirmar categoricamente, assumir essa missão, como diretriz basilar de seu governo. Para mandar em quem tem que ser mandado e negociar com quem tem que ser negociado. Prá chamar na mesma mesa o Presidente do Tribunal de Justiça

e o Procurador-Geral de Justiça e definir com clareza metas e tarefas para os órgãos policiais e prisionais. Eu não vejo outra alternativa. O problema é que os políticos brasileiros até agora não acordaram para isso. Eles ainda temem a Segurança Pública, não conhecem bem o tema Segurança Pública e continuam acreditando que a melhor maneira de lidar com o tema é empurrar com a barriga, como é uma expressão popular. É continuar pagando crise. Não querem, acham que é de custo político envolver-se no embate direto com as organizações, no exercício da autoridade. Governadores temem, muitos deles fogem dessa atribuição. Quando fazem, fazem de uma forma muito personalista como o Governador do Paraná, que também não é um bom modelo sob esse ponto de vista, mas eu não vejo outra alternativa. Enquanto os Políticos, Agentes Políticos e os Governadores não assumirem esse compromisso, essa atitude, nós vamos ter que continuar convivendo com essa briga corporativa interminável entre as organizações, e nós vamos continuar perdendo [...]. Eu não vejo como a sociedade Civil possa lidar, não há como, a Sociedade Civil não tem capital político para lidar com esse problema. Essas são corporações muito fortes, muito autônomas, muito pouco transparentes. não há, a curto prazo, qualquer chance da Sociedade Civil por si, lidar com o problema. Não vejo outra solução. Tem que vir da Autoridade Política a solução do problema. O dia em que nós tivermos um Governador que assuma isso e mostre bons resultados, se destaque nacionalmente, ou outros vão copiar. É isso que precisa. Precisamos um com coragem prá fazer isso. Porque à medida que os outros perceberem que dá resultado, que o custo político é menor que eles imaginam, que eles podem se beneficiar muito eleitoralmente com os bons resultados, aí os outros vão imitar. Nós temos um modelo de sucesso, que poderia ter sido Aécio Neves, mas tá deixando de ser Aécio Neves. o Aécio Neves teve essa chance na mão, tá perdendo essa chance. Porque acho que não visualizou isso, não conseguiu visualizar. A minha tristeza e a minha frustração pessoal (Gov. Est. MG).

Atualmente, em Minas Gerais, dois órgãos distintos têm atuado no combate à macrocriminalidade: GISP (instituída por decreto estadual) e o CAOCRIMO (pertencente ao Ministério Público Estadual).

Portanto, a idéia inicial que surgiu, com a criação de uma Força-Tarefa Institucionalizada (GISP), visando à integração dos diversos órgãos da Segurança

Pública e do Sistema de Justiça Criminal para o combate à macrocriminalidade, não obteve êxito.

Impõe-se destacar, a partir da pesquisa de campo realizada e das opiniões dos entrevistados, os principais motivos que redundaram no fracasso dessa Força- Tarefa:

- O fato de ter sido um “projeto relâmpago” que precisava ser apresentado a tempo para obter recursos de federais. Não houve um prévio planejamento, com o consenso das instituições interessadas, que, inclusive, demonstraram resistências para integrar o Grupo;

- A existência de fortes resistências de todas as instituições: A Polícia Militar não pretendia trabalhar junto com a Polícia Civil. A Polícia Civil, por sua vez, não tinha interesse que a Polícia Militar se tornasse Polícia Judiciária e que passasse a investigar, assim como o Ministério Público. Havia total desconfiança entre as instituições, faltando articulação interinstitucional;

- A falta de um pulso firme da cúpula da SEDS e de controle rigoroso por parte do Governo que, ao contrário, demonstrou falta de vontade política para efetivar atribuições;

- O convênio e regulamento estavam mal elaborados, pois sequer regulamentaram as atribuições das diferentes instituições, não resguardando a competência das mesmas;

- A falta de definição quanto aos crimes que seriam objeto de investigação, criando conflitos internos nas próprias instituições (em especial junto à Polícia Civil, pois as Delegacias Especializadas temiam que o GISP pudesse acabar com as especializações. Assim, os Policiais que atuavam no GISP começaram a sofrer retaliações, por parte dos demais colegas);

- Falta de especificação sobre como deveria ser feito o inquérito policial e a quem seria dirigido. Criou-se, assim, uma dualidade de atribuição;

- Falta de prévia reunião entre as instituições para debate sobre a criação do GISP. Após sua criação, houve falhas na disseminação das informações sobre do que ele se tratava. Parecia que era do conhecimento apenas dos líderes das instituições, os demais acreditavam que estava sendo criada uma verdadeira Swat, gerando estigmas desnecessários;

- Inoperância administrativa: demora na agilização da máquina estatal para regulamentar e tornar físico o GISP;

- Demora na apresentação de sua regulamentação;

- Não se trabalhou previamente com o problema da “cultura das instituições”, onde prevaleceu, por parte dos diversos órgãos, a resistência a mudanças e à integração. Havia forte sentimento de temor ao novo e medo de perder poder e espaço;

- Conselho Gestor totalmente inoperante: houve “vácuo de coordenação por parte do Governo Estadual”, faltando a mediação de algum órgão;

- Forte ingerência política e falta de consenso quanto à importância do GISP a cada mudança de Secretário que atuava junto ao Grupo;

- O GISP não se tornou uma Política de Governo, entrando em processo de deterioração;

- É muito alto o custo político de combater e enfrentar a cultura das instituições. Os políticos limitam-se a apagar incêndios e;

- Houve excesso de interesses corporativos. Por exemplo, a insistência do Ministério Público Estadual em manter o GCOC, permanecendo como instância paralela e assumindo posição ambígua.

A experiência do GISP, me leva a pensar se, se é possível realmente viabilizar um modelo como esse. Depois de 4 anos desse insucesso, eu me confesso céptico da viabilidade de um modelo mais formalizado. Prá mim foi uma experiência muito traumática, angustiante, perceber que ela não vingou pelas diversas nuances políticas envolvidas. Ou seja, percebi que o problema era muito mais difícil do que eu imaginava [...]. Articulação interinstitucional das organizações. Existe em boa medida a qualquer processo de formalização aos interesses corporativos em jogo. Significa, então, me perguntam, então, será que nós vamos estar fadados ao modelo da Força-Tarefa convencional? Talvez sim (Gov. Est. MG).