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CAPITULO IV – A RETRIBUIÇÃO

4.1. CONCEITO DE RETRIBUIÇÃO

4.1.2. CONCEITO LEGAL

No que diz respeito às normas legais, conforme supra referido, não existe uma uniformização terminológica.

A terminologia legal original foi oferecida pela Lei nº1.952, de 10 de março de 1937, na qual o legislador distinguiu entre salário e ordenado consoante a remuneração fosse paga ao assalariado, ou seja, ao operário de artes e ofícios e prestadores de mão-de-obra ou, paga ao empregado, i.e., aquele que não se enquadra na primeira classificação e definiu- a como “a remuneração em dinheiro, fixa ou variável, a paga em géneros, alimentação ou habitação, por força do contrato de trabalho, e ainda qualquer outra retribuição acessória com carácter de regularidade ou permanência.

Atualmente o CT dispõe nos termos do disposto do nº 1 do artigo 258, o conceito de retribuição como sendo “A prestação a que, nos termos do contrato, das normas que o regem ou dos usos, o trabalhador tem direito em contrapartida do seu trabalho”, o que significa que retribuição pode corresponder a diferentes prestações, pagas de diferente modo, embora seja sempre exigível o carácter patrimonial da prestação.

Com escopo idêntico, e a título exemplificativo no âmbito da contratação coletiva, o contrato coletivo de trabalho celebrado entre a APAVT e o Sindicato dos Trabalhadores da Marinha Mercante, Agências de Viagens, Transitórias e Pescas38, considera

retribuição, na sua cláusula 24º, “o a que, nos termos desta convenção, dos usos ou do contrato individual de trabalho, o trabalhador tem direito como contrapartida do seu trabalho, esta compreende a remuneração mensal e todas as outras prestações regulares e periódicas previstas ou não nesta convenção, feitas, directa ou indirectamente, em dinheiro ou em espécie.”39

Ainda no âmbito legal, e desta vez em sede de regulamentação europeia, o conceito de remuneração, no Tratado da União Europeia nos termos do artigo 157º, é definido como

38 CCT publicado originalmente no BTE nº 30, em 15 de Agosto de 1985.

39 A titulo de curiosidade, em Setembro de 1996, um outro conceito mais alargado e especifico,

foi integrado no Boletim Estatístico do Ministério do Trabalho e da Solidariedade. Refiro-me ao conceito de ganho médio mensal, que se traduz no “montante ilíquido em dinheiro e/ou géneros, pago mensalmente com carácter regular, pelas horas de trabalho efectuado, assim como o pagamento de horas remuneradas mas não efectuadas (feriados, férias e faltas justificadas que não impliquem perda de remuneração). Inclui, para além da remuneração base, todos os subsídios com carácter regular (alimentação, alojamento, diuturnidades, antiguidade, função, produtividade, trabalho por turnos, nocturno, trabalhos penosos, etc.), bem como o pagamento por horas extraordinárias.”

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sendo “o salário ou vencimento ordinário, de base ou mínimo, e quaisquer outras regalias pagas, directa ou indirectamente, em dinheiro ou em espécie, pela entidade patronal ao trabalhador em razão do emprego deste último.”

Nos termos supra aludidos em capítulo anterior, o dever de retribuição é sempre da responsabilidade do empregador. É importante clarificar a título prévio que, no que concerne ao composto de retribuição, o legislador foi amplamente permissivo e protetor do trabalhador ao presumir que constitui retribuição qualquer prestação do empregador ao trabalhador.

Ainda assim, é aceitável e percetível que tal presunção seja iuris tantum, nos termos do disposto do nº3 do artigo 258º do CT40, uma vez que se trata de uma presunção ilidível, i.e., é admissível que o empregador possa provar que as prestações pecuniárias percebidas pelo trabalhador não revestem carácter de retribuição, pertencendo-lhe o ónus de provar quando uma prestação não é efetivamente retribuição, acautelando desta forma situações dúbias de prestações que serão assumidamente retributivas ocultadas por aparentes prestações não retributivas, sobretudo pela irregularidade e falta de periodicidade destas, ainda que existam situações que merecem ser analisadas casuisticamente, cabendo ao trabalhador somente provar a receção das prestações pecuniárias, não tendo de provar que as mesmas são contrapartida do seu trabalho.

Uma vez a alusão ao carácter irregular e ocasional das prestações, é importante, à semelhança do conceito doutrinário, explanar os requisitos, cumulativos e legais, que permitem prima facie, considerar uma prestação como retribuição, quer pelo seu carácter regular e periódico, quer pela sua natureza patrimonial, em dinheiro ou em espécie.41 O carácter regular afere-se pela ideia de permanência e protelação do vínculo contratual, assim como pela expectativa criada ao trabalhador quanto ao grau de satisfação de necessidades correntes criadas em função do recebimento de tal prestação. A regularidade prende-se ainda com o princípio da inalterabilidade do vencimento, com ratio no direito a uma prestação certa. A repetição cria a convicção de continuidade e conduz a que o trabalhador, razoavelmente paute o seu padrão de consumo por tal expectativa.

Já a periodicidade traduz a ideia de reiteração, a ser paga em períodos de tempo certos e determinados, afastando do conceito as prestações patrimoniais feitas a titulo ocasional,

40 Cfr. nº 2 do Artigo 350º do CC. 41 Vide in nº 2 do artigo 258º do CT.

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reiteração esta que vai de encontro às necessidades cíclicas dos contraentes justificada, maioritariamente, pelo facto da retribuição ser a principal fonte de rendimento do trabalhador.

A última característica relevante para aferir o carácter retributivo da prestação é a sua natureza patrimonial, a qual deverá ser avaliável em dinheiro, nada obstando a possibilidade de parcialmente ter uma componente em espécie, ainda que neste caso se mantenha o seu carácter patrimonial.42

A este preceito, o legislador definiu as distintas modalidades da retribuição, a qual nestes termos poderá ser em dinheiro ou em espécie, sendo que a vertente em numerário pode ser calculada em função do tempo ou em função do resultado. No primeiro caso fala-se de retribuição certa, na segunda hipótese, de retribuição variável. A primeira é atribuída em função do tempo de trabalho prestado enquanto a variável, como o próprio nome aponta, depende da verificação de certa condição para que possa ser atribuída, nomeadamente fatores alienados à produtividade, esta detendo carácter eventual. Prevê ainda uma terceira modalidade a qual culmina na junção da certa e da variável, o que nos conduz a uma retribuição mista. Não obstando em circunstância alguma que a parte variável possa ser superior à parte certa. Restrição distinta é a estabelecida para a retribuição mista, i.e., nos casos em que o trabalhador aufira uma retribuição composta cumulativamente por dinheiro e espécie, o legislador limitou a componente não pecuniária à inferioridade da parte em dinheiro, salvo se um IRCT dispuser em contrário. A retribuição em espécie destina-se à satisfação das necessidades pessoais do trabalhador e da sua família e não lhe pode ser atribuído valor superior ao corrente da região. Sobre a retribuição em espécie analisarei no Capítulo VI.

A retribuição é por regra devida ao trabalhador, independentemente das circunstâncias que possam impedir a efetiva prestação de trabalho e que não sejam imputáveis àquele, como analisarei adiante pois não bastas as vezes, o salário corresponde à disponibilidade do trabalhador em prestar trabalho e não propriamente à efetiva prestação do trabalho, sendo-lhe devido por vezes em circunstâncias de inatividade.

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