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Conceito de maioria e minoria

No documento PRINCÍPIOS DO DIREITO SOCIETÁRIO (páginas 116-119)

CAPÍTULO 8 – PRINCÍPIO MAJORITÁRIO NAS DELIBERAÇÕES SOCIAIS E A

8.1. Conceito de maioria e minoria

O conceito de democracia estendeu-se da sociedade civil para a sociedade empresária. Assim é que a tomada de decisões na empresa segue o princípio majoritário, ou seja, a maioria dos votos vence as deliberações sociais.

A “maioria” configura, nesse contexto, a parcela de ações suficiente para garantir, a um ou mais acionistas, a unidade superior a 50% (cinquenta por cento) das ações com direito a voto da sociedade.215 É a maioria do capital que tem

215 “Constata-se, assim, que o acionista controlador pode ser não apenas um indivíduo isolado, com a maioria das ações com direito a voto, como um grupo de pessoas sob controle comum, que seja titular de direitos sociais que assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos nas deliberações da assembleia, e que use, efetivamente, o seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento da companhia.” (MARTINS, 1984, p. 32).

117 direito a decidir os rumos da sociedade, constituindo o presente princípio uma forma de prestígio às deliberações da maioria.

Com isso, abre-se caminho não necessariamente para abusos por parte do(s) acionista(s) controlador(es), mas certamente para a possibilidade de desincentivo ao investidor individual na entrada na empresa. Afinal, pouco adianta aportar capital a um empreendimento econômico se, em maior ou menor medida, a ele não será garantido o direito de determinar como seu dinheiro será utilizado.

Essa contradição levou a uma baixa adesão de investidores ao então incipiente mercado de capitais em formação no Brasil, razão pela qual entendeu o legislador ser necessário estender as garantias e direitos aos acionistas minoritários – futuros investidores – como forma de promover o desenvolvimento do setor.216

Dentre os diversos tipos de direitos, enumerados na seção anterior, percebe-se que a maioria deles está relacionada à estabilização das relações de poder entre o acionista controlador e os acionistas minoritários.

Fato é que a Lei prevê a possibilidade de retirada, em seus artigos 136-A, caput, e art. 137, caput:

“Art. 136-A. A aprovação da inserção de convenção de arbitragem no estatuto social, observado o quorum do art. 136, obriga a todos os acionistas, assegurado ao acionista dissidente o direito de retirar-se

216 A própria Exposição de Motivos da Lei das S.A. enuncia essa preocupação com a relação entre proteção ao investidor e aumento do investimento: “O projeto visa, basicamente, a criar a estrutura legal ao fortalecimento do mercado de capitais do país, que no atual estágio de desenvolvimento da economia brasileira, é essencial para a sobrevivência das empresas privadas. A mobilização voluntária de economias para o setor produtivo requer um sistema que garanta ao acionista minoritário a observância de regras claras e equitativas, que sejam atraentes em termos de segurança e lucratividade sem paralisar a comunidade de negócios.” Grifou-se.

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da companhia mediante o reembolso do valor de suas ações, nos termos do art. 45.

Art. 137. A aprovação das matérias previstas nos incisos I a VI e IX do art. 136 dá ao acionista dissidente o direito de retirar-se da

companhia, mediante reembolso do valor das suas ações (art. 45),

(...).217 Grifou-se.

Diante destes dispositivos legais, abre-se a possibilidade – e, em contrapartida, a obrigação para o acionista controlador – de que o interesse do acionista minoritário seja contemplado em determinadas questões relevantes na atividade societária. Ainda mais se se levar em consideração que o reembolso a que tem direito o dissidente termina, eventualmente, por desvalorizar a empresa – a subtração de parcelas do capital social por diversos minoritários descontentes levaria, ao fim e ao cabo, ao desinvestimento da companhia.

O legislador impõe, com essa medida, desvantagem econômica ao acionista controlador que desconsidera o interesse dos acionistas minoritários, além de garantir a estes últimos uma linha de ação defensiva em caso de abuso por parte do controlador ou simplesmente em caso de discordância em relação aos rumos assumidos pela sociedade – sociedade esta em que suporta risco por meio de capital investido.

217 “Art. 136. É necessária a aprovação de acionistas que representem metade, no mínimo, das ações

com direito a voto, se maior quorum não for exigido pelo estatuto da companhia cujas ações não estejam admitidas à negociação em bolsa ou no mercado de balcão, para deliberação sobre:

I - criação de ações preferenciais ou aumento de classe de ações preferenciais existentes, sem guardar proporção com as demais classes de ações preferenciais, salvo se já previstos ou autorizados pelo estatuto;

II - alteração nas preferências, vantagens e condições de resgate ou amortização de uma ou mais classes de ações preferenciais, ou criação de nova classe mais favorecida;

III - redução do dividendo obrigatório;

IV - fusão da companhia, ou sua incorporação em outra; V - participação em grupo de sociedades (art. 265);

VI - mudança do objeto da companhia; (...) IX - cisão da companhia;”

119 A minoria pode ser conceituada, portanto, por exclusão: uma vez identificado o detentor da maioria de votos dentro da sociedade empresária, ou seja, daquele que, de fato, exerce a direção da sociedade, a minoria pode ser identificada como o restante dos votos, que não são suficientes, por si só, para assumir a administração do interesse social e das atividades desenvolvidas pela empresa.

As considerações acima feitas mostram que o acionista controlador, mesmo em uma sociedade anônima fechada, não pode agir discricionariamente em prejuízo, direto ou indireto, dos acionistas minoritários, em face do disposto no artigo 117 da Lei das Sociedades Anônimas. De fato, esse dispositivo legal, exemplificando casos de abuso de poder, limita a atuação do acionista controlador, dando-lhe responsabilidade pessoal pela prática de certos atos com a finalidade de prejudicar os acionistas minoritários.218

No documento PRINCÍPIOS DO DIREITO SOCIETÁRIO (páginas 116-119)