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CONCEITO DE POLUIÇÃO AMBIENTAL E SUA RELAÇÃO COM O MERCADO DE SEGURO AMBIENTAL

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.6 CONCEITO DE POLUIÇÃO AMBIENTAL E SUA RELAÇÃO COM O MERCADO DE SEGURO AMBIENTAL

Inicialmente cabe destacar o entendimento de Dozena (2000) sobre poluição atmosférica:

Teoricamente, o ar sempre foi poluído em algum grau. Isso porque fenômenos naturais tais como erupções vulcânicas, tempestades, decomposição de plantas e animais e outros, acontecem no dia a dia. Contudo, os poluentes que se refere, quando trata-se de poluição, são aqueles gerados como resultado da atividade humana. (DOZENA, 2000, p. 17-18).

É nesse sentido que se propõe tratar dos impactos ambientais decorrentes das atividades industriais potencialmente poluidoras. Historicamente sabe-se que a descoberta do fogo representa o marco da poluição atmosférica. A Revolução Industrial no século XVIII inaugurou nova etapa nesse sentido, juntamente com a queima de combustíveis fósseis e o uso de automóveis, estendendo-se nos séculos XIX e XX. O crescimento das cidades e a proliferação das indústrias foram acentuadas com as forças da globalização, fenômeno que potencializou o problema, mas revela oportunidades ao meio ambiente. Sem o avanço tecnológico e os meios de comunicação, seria difícil imaginar o mundo atual inserido nas discussões relativas ao meio ambiente. Estas discussões, iniciadas com a Conferência de Estocolmo nos anos de 1970, acentuaram a cada ano a participação conjunta de todas as economias. Sem dúvida, esta é uma constatação que favorece a adoção efetiva de seguros ambientais, na medida em que a sociedade passa a cobrar mais segurança pelos danos ambientais.

É importante agora delimitar o tema poluição ambiental que, segundo Valle (2002), pode ser definido como toda ação ou omissão do homem em relação à descarga de material ou energias, atuando sobre as águas, o solo e o ar, com desequilíbrios nocivos, seja de curto ou longo prazo, sobre o meio ambiente. Nessa definição, o autor deixa claro que a poluição resulta da ação humana, de forma direta, ou pela omissão. Ele completa a definição afirmando que o poluidor pode ser uma pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável direta ou indiretamente pela atividade causadora da degradação ambiental.

Caracterizando a poluição de acordo com as três áreas básicas do meio ambiente físico, Valle (2002) elabora as seguintes considerações:

Poluição das águas – origina-se pela introdução de substâncias que, por suas ações físicas, químicas ou biológicas, degradam a qualidade da água e afetam os organismos vivos nela existentes.

Poluição dos solos – causada por seu mau uso e pela disposição incorreta de resíduos sólidos ou efluentes líquidos, que, além de contaminarem o próprio solo, podem atingir o lençol freático, passando também a ser agentes na poluição das águas.

Poluição do ar – provocada pela acumulação na atmosfera de substâncias em concentração tais que possam gerar efeitos nocivos ao homem e ao meio ambiente.

Além destas, pode-se considerar que as radiações ionizantes e a poluição sonora também são formas de poluição ambiental. Neste trabalho considera-se que o resíduo causador do dano é

tratado no seu sentido lato, abrangendo sólidos, líquidos e materiais e substâncias presentes nas emissões atmosféricas.

Derisio (2007), seguindo a resolução CONAMA 00111, de 23/01/1986, também considera a ação humana direta ou indireta, definindo a poluição como degradação ambiental que cria condições adversas às atividades sociais e econômicas, prejudicando a saúde, segurança e bem estar das populações, afetando desfavoravelmente a biota12 e as condições sanitárias do meio ambiente. Ele conclui afirmando que a poluição resulta da presença, lançamento ou liberação nas águas, no ar ou no solo de toda e qualquer forma de matéria ou energia, com intensidade, quantidade, concentração ou características em desacordo com os padrões de qualidade ambiental estabelecidos por legislação.

Pearce e Turner (1991) distinguem poluição física de poluição econômica. Segundo esses autores, a poluição física consiste no efeito físico do elemento poluente (lixo, ruídos, emissões atmosféricas, efluentes, etc.) sobre o meio ambiente, enquanto que a poluição econômica refere- se à reação humana a esses efeitos físicos (doenças, limpeza, perda de bem-estar, etc).

De acordo com o clausulado do seguro de poluição ambiental, instituído no Brasil em 1991, define-se poluição ambiental como a emissão, dispersão ou depósito de substâncias ou produto que venha prejudicar as condições existentes da atmosfera, das águas e do solo, tais como se apresentavam antes do fato poluente; e/ou produção de odores, ruídos, vibrações, ondas, radiações, emanações ou variações de temperatura que ultrapassem os limites de tolerância legalmente admitidos.

Cabe agora uma explicação sobre como a poluição gerada pelas empresas pode ser entendida quanto à ocorrência. Essa caracterização é que balizará as discussões sobre coberturas securitárias para esse tipo de risco.

11 Resolução CONAMA de 23 de janeiro de 1986. Publicada no Diário Oficial da União de 17/02/1986. Define as

situações e estabelece os requisitos e condições para o desenvolvimento de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). (BRASIL, 1986).

12 De acordo com Ambientebrasil (2009b) define-se biota como o conjunto de plantas e animais que habitam em

Conforme a Figura 5, poluições não-acidentais são caracterizadas por emissões constantes, não raro inerentes às atividades produtivas e normalmente permitidas pela legislação vigente, obedecidos, obviamente, os índices permitidos. Tanto no Brasil como no exterior, este tipo de dano não encontra cobertura, mesmo porque interfere no princípio do próprio negócio do seguro que visa cobrir eventos não conhecidos, além de que esta modalidade de poluição não apresenta “risco” para o produtor.

Figura 5 - Classificação da poluição quanto à sua ocorrência Fonte: POLIDO, 2005

De uma forma geral, o risco segurável enquadra-se na categoria acidental. Define-se poluição gradual como todo processo nocivo produzido de forma paulatina, resultante de um evento cumulativo, na maioria dos casos, imperceptível por longo período de tempo, até o descobrimento/manifestação do dano causado. Já a poluição súbita advém de um evento acidental, súbito, repentino e não intencional, gerando os conhecidos desastres ambientais de grande repercussão.

No mercado segurador brasileiro existem dois produtos referentes aos riscos de poluição ambiental:

Cobertura adicional de poluição súbita incluída nos seguros de Responsabilidade Civil Geral (RCG)13 ou em outras modalidades da carteira de Responsabilidade Civil – cobre os danos decorrentes de acontecimentos inesperados, como rompimento de um dique de contenção, vazamento de agentes poluidores, etc.

13 De acordo com FUNENSEG (2009) os seguros de Responsabilidade Civil Geral garantem o reembolso das

quantias pelas quais o segurado possa vir a ser responsabilizado civilmente em decorrência de danos causados a terceiros. POLUIÇÃO ACIDENTAL Súbita Gradual NÃO ACIDENTAL

Seguro ambiental com cobertura para poluição gradual – além da cobertura tradicional de poluição súbita, cobre os danos ambientais decorrentes de poluição gradual, cujas conseqüências podem levar meses ou até anos para serem descobertas.

O elevado grau de risco aliado aos níveis de exigências e custos necessários para contratação, além de desestimular a oferta, encarece o seguro ambiental provocando desestímulo também aos agentes demandantes. Esses agentes também não se interessam no produto, pois não se sentem ameaçados com indenizações pelos danos ambientais graduais gerados. Por isso, poucas seguradoras oferecem atualmente o seguro ambiental com cobertura para poluição gradual.

Já a cobertura adicional de poluição súbita prevista nos contratos de RC é mais difundida, sendo ofertada pela maioria das seguradoras. Os danos decorrentes de poluição súbita assumem maior visibilidade pela percepção imediata de sua repercussão, gerando prejuízos iminentes ao meio ambiente, à sociedade e ao produtor que, por esse motivo, se interessa mais por essa modalidade.