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ANO PRÊMIOS(US$ MILHÕES) PIB(US$ MILHÕES) PARTICIPAÇÃO(%)

4.1.1 Surgimento e evolução do seguro ambiental no Brasil

No Brasil, a cobertura para o risco de poluição súbita/acidental existe desde a década de 1960, contratada por meio de cláusula adicional nas apólices de Responsabilidade Civil Operações Comerciais ou Industriais, sem qualquer restrição ou exigência para a sua aceitação. Em 1974, as Condições Gerais do ramo de Responsabilidade Civil Geral determinavam que os danos causados pela ação paulatina de temperaturas, vapores, umidade, gases, fumaça e vibrações estavam excluídos da apólice e, por consequência, as mesmas situações de riscos encontravam-se automaticamente cobertas decorrentes de ações acidentais e súbitas.

De acordo com Valle (2002), até o início da década de 1970, não existia, no Brasil, uma legislação específica que abordasse o tema ambiental. Apenas em 1978, um grupo de trabalho, constituído pela FENASEG, passou a analisar o tema de subscrição16 de riscos ligados aos danos ambientais. Nessa época, a legislação que envolvia a proteção e a responsabilização dos

16 De acordo com FUNENSEG(2009a), subscrição é o termo que representa o processo de tomada de decisão quanto

causadores de danos ao meio ambiente ainda se encontrava incipiente no Brasil – não existia a Constituição Federal de 1988, a Lei n.º6938/81 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente), nem a Lei n.º 7347/85 (Lei da Ação Civil Pública por Danos Causados ao Meio Ambiente)17 - e isso resultou no insucesso deste grupo de trabalho. Houve então o registro – consta no boletim informativo da FENASEG n.º 522, de 27/08/1979 – de que não era factível a concessão de coberturas mais abrangentes além da tradicional cobertura de poluição súbita, visto que o mercado segurador não possuía margem de segurança perante esta lacuna legal.

O Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), em 1981, passou a exigir para as indústrias químicas que as seguradoras encaminhassem um parecer técnico, expedido por engenheiro da seguradora, atestando a eficiência dos sistemas antipoluentes adotados pelos segurados. Esta determinação revela o momento em que o risco de poluição súbita sofreu tratamento diferenciado no país.

A evolução do direito positivo brasileiro, na década de 1980, motivou o anseio por novas coberturas ambientais. Segundo Polido (2005), os empresários entenderam que era chegado o momento de contratarem coberturas mais substanciais, uma vez que estavam muito mais expostos aos riscos ambientais. A Lei Nacional do Meio Ambiente estabeleceu o arcabouço do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e introduziu o conceito de responsabilidade objetiva, dispensando, portanto, a prova da culpa pela poluição. O poluidor é agora responsável pela correção, independente de ter ou não culpa, estabelecendo, portanto, o princípio do poluidor pagador.

Em 1991, um novo Grupo de Trabalho foi formado por iniciativa do IRB e, tomando como parâmetro as coberturas já utilizadas pela França e Itália, elaboraram o modelo brasileiro da apólice de RC Poluição Ambiental, o questionário de avaliação de risco a ser preenchido pelo proponente e o roteiro básico de inspeção de risco a ser utilizado pela empresa especializada que realiza a inspeção prévia. O modelo de apólice foi estruturado para oferecer as coberturas de poluição súbita/acidental, poluição gradual, despesas de contenção de sinistros e gastos com a defesa do segurado. Entra em vigor o seguro específico de RC poluição ambiental, ocorrendo

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Lei n.º 7347, de 24 de Julho de 1985. Publicada no Diário Oficial da União de 24/07/1985. Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estático, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências. ( BRASIL, 1985).

alterações também na subscrição utilizada para aceitação do risco nesta área. A exigência de inspeção prévia passou a abranger qualquer tipo de atividade desenvolvida pelo proponente do seguro. Nesta época o Brasil já dispunha de legislação bastante abrangente na área de proteção ao meio ambiente, porém de difícil instrumentalização prática.

É inegável a novidade que o seguro RC Poluição Ambiental – introduzido no mercado segurador brasileiro em 1991 – representou para o País. Desde 1978 já existia o anseio por um seguro mais abrangente e aquele, então, representava algo bastante inovador, sem que tenha existido modelo similar até então. O seguro foi objeto de comentários intensos pela mídia, não só daquela especializada no segmento, mas também da mídia escrita em geral, em face da espetacular novidade. Todos propagaram os seus benefícios e acreditaram que tinha sido descoberto um poderoso remédio para os males da poluição ambiental no Brasil. Pensava-se que haveria a contratação maximizada do novo seguro, enquanto na verdade não foi isso o que aconteceu e o novo produto praticamente não saiu das circulares normativas do IRB-Brasil Re, uma vez que as apólices não foram emitidas. (POLIDO, 2005, p. 216).

Em 1997 ocorreram modificações no clausulado desse seguro, visando seu aprimoramento conceitual e ampliação da abrangência de cobertura. O Poder Legislativo, desde o ano de 2003, vem se articulando para torná-lo obrigatório no Brasil. Se discute ainda, nesse ínterim, a possibilidade de criação de uma seguradora estatal para gerir esse seguro obrigatório, que seria subordinada ao Ministério da Fazenda e fiscalizada pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e pela Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).

A FENASEG, em 2003, elaborou novo clausulado pertinente ao seguro ambiental. Todavia, as seguradoras que se envolvem em riscos industriais no País apresentaram fraca participação nas discussões. Confirmou-se que o mercado segurador brasileiro, para a grande maioria das seguradoras, ainda não apresentou interesse na evolução deste segmento de seguro no País.

Em setembro de 2004, uma tradicional seguradora passou a ofertar no Brasil o seguro ambiental com cobertura para danos ambientais provocados por poluição gradual. Até esta data só havia no País a contratação de cobertura para poluição súbita no seguro de RC Geral para emissões ou vazamentos de poluentes que tivessem cessado até 72 horas após seu início. O quadro 1 ilustra as principais diferenças entre esses produtos, acrescentando que esse novo seguro ambiental também oferece cobertura para lucros cessantes e custos judiciais e advocatícios

RC Geral com cobertura acessória de dano ambiental

Seguro Ambiental

Cobre apenas os danos decorrentes de poluição súbita e acidental.

Além destes, cobre também aqueles danos decorrentes de poluição gradual. e desde que a emissão do poluente

tenha se iniciado em data claramente definida.

Não impõe tal exigência.

e ainda, desde que tal emissão tenha cessado 72 horas após seu início.

Não impõe tal exigência

Não garante as despesas com a contenção do sinistro, mas apenas aquelas causadas a terceiros.

Garante as despesas com a contenção do sinistro.

Não cobre a responsabilização dos dirigentes da empresa segurada.

Estende a cobertura para os dirigentes da empresa segurada em caso de responsabilização.

Quadro 1: Comparativo de coberturas entre o seguro ambiental lançado em 2004 no Brasil e o seguro RCG com cobertura adicional de poluição súbita comercializado no mercado segurador

Fonte: UNIBANCO, 2009

Polido (2005) chegou a opinar que este produto poderia até mesmo criar novos conceitos dentro deste segmento no País, firmando-se como marco neste tipo de seguro. Porém, ao que indicam as evidências, pouco efeito foi observado deste ano até os dias atuais, o que pode levar a deduzir que a baixa participação desse segmento no ramo de seguros seja decorrente, principalmente, do desestímulo à demanda.