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O CONCEITO PROCESSING DESIGN

A popularização da tecnologia, principalmente com os computadores domésticos, propiciou o acesso à informação em massa, promovendo uma mudança na sociedade. “[...] as chamadas ‘novas tecnologias’ podem ser pensadas como o rosto de um novo otimismo que revitaliza a ‘esperança’ no progresso e a confiança no crescimento da sociedade contemporânea” (CABRERA, 2006, p.134). As informações ficam potencializadas no espaço cibernético, bastando apenas alguns cliques para que de latente se torne usual. Em 2012, o número de usuários do espaço cibernético no Brasil é de aproximadamente 84 milhões de pessoas que se conectam na internet, das quais 80% se conectam em redes sociais32 .

Para Meira (2012), dentro de alguns anos, não entender como a cibercultura funciona e não ser capaz de usar suas interfaces para reprogramá-las (para atender suas necessidades ou delas extrair dados) será um problema tão fatal, para qualquer um, como o que está ocorrendo no País atualmente, onde 80% dos alunos do 9º ano (antiga 8ª série) não entendem o sistema de porcentagens. Mesmo assim, essa mesma sociedade brasileira, que já nasce em um mundo completamente diferente da vivida por gerações passadas, tem a facilidade de acesso à informação neste espaço que, em princípio, não possui controle nem dono (aqui não se levam em consideração países regidos por ditaduras ou regimes fechados). Elas pertencem a uma geração denominada “Geração C”.

É chamada de “C” porque reúne alguns “cês” como característica principal. Está naturalmente computadorizada no sentido de estar pessoalmente informatizada. Trata- se de pessoas que estão sempre conectadas com seus computadores, sempre se comunicando, sendo orientadas a comunidades, centradas em conteúdos e sempre clicando em coisas. Para se ter uma ideia do significado dessa nova geração, as pessoas que nasceram a partir de 1990 e que terão 30 anos em 2020 vão ser, nesta época, 40% da população dos Estados Unidos, da Europa e do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). A previsão para 2020 é que seis bilhões de pessoas tenham celulares, 80% da população do planeta, e que 4,7 bilhões acessem a internet primordialmente através de smarth phones e não em redes fixas como lap tops, desktops, tanto

32 Participação de Silvio Meira no programa da Rádio CBN, “Bits da Noite”, com o tema: “Programar é preciso” (19/06/2012). Disponível em: http://cbn.globoradio.globo.com/colunas/bits-da-noite/ 2012/06/19/PROGRAMAR-E- PRECISO.htm. Acesso em 20/09/2012.

de suas casas como de seus trabalhos. O impacto disso pode ser observado nos exemplos testemunhados recentemente, quando, mesmo com um nível de conexão básico, internautas promoveram a derrubada dos governos da Tunísia e do Egito, bem como deram início à revolução na Líbia. O Egito tentou enfrentar o movimento social desligando a internet, mas teve que a religar, pois a medida afetou o sistema bancário, o comércio e o turismo. Hoje não ter internet é como viver sem energia elétrica33 . Em

outras palavras, “[...] pancomunicação, tecnoinformação e orientação ao futuro” são “três elementos essenciais do imaginário contemporâneo que configuram a ‘sociedade da informação’ tal como é definida hoje”. (CABRERA, 2006, p.143).

Neste espaço tão essencial e até vital, palavras como padronização ou uniformização soam estranhas em relação ao mundo analógico em que vivíamos, até porque “as novas condições do saber em uma sociedade informatizada e tecnocrata levam à crise dos megarrelatos e deixam os seres humanos “reféns” diante dos jogos de linguagem e da paralogia” (LYOTARD apud CABRERA , 2006, p. 131).

De onde vem esta necessidade de pensar o resultado? De uma lógica de fins, do que chamamos teleologia, ou seja, o que tem telos, fim, objetivo. Estamos diante de uma lógica que necessita de ordenamento. A ordem é sinônima do sistema das coisas. (TIBURI, 2010, p. 62).

Como parte desse contexto, o design não propicia a resposta que tradicionalmente era ensinada na academia, pois tudo passa a ser processo, simulação e instabilidade. Dificilmente serão produtos acabados. O que temos como percepção em nosso mundo não é planificado pelo artista, nem por visões políticas: o poder e a velocidade da tecnologia é que ditam os padrões do presente (WOZENKROFT, 1994).

Vimos como os artistas e designers, mesmo antes do advento da computação, já praticavam o que chamamos de processing design. A história nos mostra que as pesquisas com materiais desde lápis e tintas, passando por objetos como câmeras e filmes, até o advento da computação gráfica, mudaram a prática profissional. As novas tecnologias podem melhorar ou modificar a expressão do design, permitindo diferentes formas de comunicação e expressão e, é claro, da criatividade. “É justamente este poder articulador que nós, seres humanos, temos para poder experimentar signos nem sempre convencionais em nosso cotidiano, principalmente quando a tecnologia

33 Participação de Silvio Meira no programa da Rádio CBN, “Bits da Noite” com o tema: “A geração C” (22/02/2011). Disponível em: http://cbn.globoradio.globo.com/colunas/bits-da-noite/2011/02/22/A-GERACAO-C.htm. Acesso em 20/09/2012.

nos coloca em uso verdadeiras máquinas semióticas [...]” (AZEVEDO, 2009).

O trabalho computacional é basicamente um trabalho matemático. Uma arte também pode ser matemática, o que nos pode deixar com dúvidas quanto à liberdade artística em detrimento das “prisões” numéricas. Lembremos antes de mais nada que, no Renascimento italiano, artistas como Piero della Francesca, Albrecht Durer e Leonardo da Vinci não só experimentaram princípios da geometria em seus trabalhos como muitos deles até publicaram tratados sobre matemática. Isso significa que a arte pode ter sim como pano de fundo um princípio matemático, um princípio computacional.

Mas o que pode representar o termo processing design? De acordo com o recorte proposto nesta dissertação, podemos definir que, por processing design, entende-se quaisquer peças geradas, compostas ou construídas com a utilização de algoritmos computacionais com processos aleatórios e autônomos. Temos de analisar que o que está acontecendo é que o desenho programacional possui uma peculiaridade em relação ao desenho gráfico. Em vez de trabalhar visando o resultado, os profissionais que lidam com essa linguagem trabalham no processo e não na sua configuração final.

Na impressão escrita, as ferramentas que você gera são retóricas, pois elas demonstram e convencem. Na escrita por computador, as ferramentas que você gera são processos. Elas simulam e decidem sem necessariamente ter o resultado (REAS, 2007).

Cédric Kiefer34 mostra, através de um fluxograma simplificado, a diferença entre

o que ele denomina de processo clássico de design e o processo gerativo (processing design):

34 Designer que realiza trabalhos com a linguagem Processing, sócio da empresa de design alemã Onformative. Palestra no Campus Party em Berlim no ano de 2012. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=7vITr__ QOc4. Acesso em 23/02/2013.

Com a evolução da internet, que está na versão 3.0, o que um programador executa poderá ter resultados imprevisíveis de acordo com a reação do internauta ao acessar suas páginas. Ao planejar um algoritmo para determinadas tarefas, o próprio programador está ciente de que sua obra, a partir daquele momento, pode estar terminada, já que todo o conceito está latente no que programou – o que dependerá é se sua construção (ou intenção) inicial pode ser modificada com inserções em sua programação, seja na mudança do algoritmo seja apenas na sintaxe. Se o que programa na verdade é uma simulação, nada mais natural então de que tudo o que possa fazer nunca seja um objeto finalizado, seja sempre sim embrião do que talvez no modo analógico seja finalizado, como aponta Azevedo (2009), em que tudo é fruto dessa escritura programada, uma escritura que se expande.

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