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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.5 O ensino de LE para crianças sob perspectivas sociointeracionistas

2.7.2 Conceito de proficiência

Antes de tratarmos de exames de proficiência, faz-se necessário tomarmos o termo proficiência para sua devida conceituação. Na área de linguagem, esse termo é frequentemente utilizado para se referir ao conhecimento, domínio, capacidade, habilidade, entre outros, de uso de uma língua. Apesar de ser um conceito muito usado, trata-se de um termo que carece de uma definição mais precisa. A falta de consenso com relação à sua natureza e conceituação mostra que é um termo que não tem sido adequadamente entendido e avaliado, gerando divergências em resultados de pesquisas, problemas com relação às decisões a serem tomadas, entre outros.

Scaramucci (2000, p. 13) enfatiza que, no que diz respeito ao uso na área da linguagem, “ser proficiente em uma determinada língua poderia pressupor, portanto, conhecimento, domínio, controle, capacidade, habilidade, independentemente do significado que possamos dar a cada um desses termos”, ou seja, uma série de termos são usados sem uma explicação do que aquilo realmente significa. Além disso, prossegue

apontando que esse tipo de conceito de proficiência “parece ter como referência o controle ou comando operacional do falante nativo ideal” como se a proficiência nativa fosse única e monolítica, o que não é corroborado pela autora.

Com o objetivo de contribuir para um melhor entendimento do que é proficiência com referência à área da linguagem, Scaramucci (op. cit.) faz distinção entre o uso técnico (sentido mais restrito e usado, principalmente, no contexto de avaliação de LE) e não-técnico (sentido amplo – usado por leigos, mas também encontrado muitas vezes na literatura de ensino) do termo.

Como exemplo do uso não-técnico, podemos ressaltar julgamentos do tipo “Ele é proficiente em inglês”, os quais normalmente são feitos por leigos, de maneira impressionista, sem a explicitação dos critérios usados nesse tipo de avaliação. Segundo a Scaramucci (2000), corroborada por Lanzoni (2004), subentende-se um ponto de corte entre proficiência e não proficiência, sendo todos os níveis inferiores considerados como não-proficientes, demonstrando ser esse um conceito absoluto, de tudo ou nada.

O uso técnico de proficiência, segundo Scaramucci (2000), principalmente no contexto de avaliação de LE, também se refere ao domínio, funcionamento ou controle operacional da língua. Entretanto, a autora enfatiza que não existe um ponto de corte como no caso anterior, havendo uma gradação de proficiência. Nesse sentido, haveria vários níveis de proficiência, mostrando graus diferentes de acordo com a situação específica de uso, tratando-se, dessa forma, de um conceito relativo.

Entendemos neste estudo, portanto, proficiência como um conceito relativo, que implica a existência de diferentes proficiências dependendo das especificidades das situações de uso da língua, ao invés de considerarmos uma proficiência única, absoluta e monolítica baseada na do falante nativo ideal. Nesse sentido, ao invés de dizer que uma pessoa é proficiente em inglês, seria mais adequado dizer que uma pessoa é proficiente em inglês em um determinado nível “para leitura de textos acadêmicos”, “para atuar como guia turístico”, “para cursar uma Universidade na Inglaterra”, ou ainda transpondo esse conceito para o cenário de LE para crianças, como exemplo, poderíamos afirmar que ela é proficiente em inglês em um determinado nível “para conversar com seu colega sobre as

suas rotinas”, especificando-se assim a situação de uso da língua (SCARAMUCCI et al., 2008).

Retomando a questão da aparentemente consensual definição de proficiência como “domínio” ou “saber uma língua”, Scaramucci (2000, p. 16) afirma que o problema não se resume a esclarecer confusões terminológicas através da distinção entre os usos técnico e não-técnico do termo proficiência, por considerar que essa distinção ainda não dá conta da complexidade do termo. A autora enfatiza que as “divergências terminológicas trazem subjacente divergências teóricas e diferentes conceituações do que é saber ou dominar uma língua” (SCARAMUCCI, 2000, p. 11).

Nesse sentido, podemos observar que, dependendo das concepções teóricas que embasam as visões “do que é saber uma língua” teremos conceitos diferentes de proficiência, bem como termos para denominá-la. Somente para citar alguns, podemos encontrar termos como: competência comunicativa, competência linguístico-comunicativa, proficiência comunicativa, os quais revelam diferentes visões teóricas com implicações tanto para o processo de ensino e aprendizagem como também para a avaliação.

A título de exemplificar a questão acima, Scaramucci (2000) aponta que, dentro de uma visão teórica estruturalista, saber uma língua significa dominar seus elementos numa dimensão linguística, ou seja, fonologia, ortografia, vocabulário e estruturas, atrelados às quatro habilidades: falar, ouvir, ler e escrever. Nessa visão pressupõe-se que seja possível “ensinarmos e avaliarmos cada um desses aspectos separadamente” e que ser proficiente significa ter “conhecimentos sobre a língua e analisá-la em seus vários componentes” (SCARAMUCCI, 2000, p. 16).

Distanciando-nos dessa visão estruturalista, defendemos uma visão sociointeracionista em que ser proficiente significa muito mais do que simplesmente “conhecer sobre a língua”. Nessa perspectiva teórica, ser proficiente em uma língua implica “ser capaz de agir efetivamente em situações específicas de uso propositado e situado da linguagem” (SCARAMUCCI et al., 2008, p. 99). Portanto, o conceito de proficiência adotado neste estudo está em consonância com as concepções de Scaramucci (2000, 2004) ao conceber esse termo como “o nível de capacidade com que um indivíduo faz uso da

língua, em contextos específicos e, assim, com objetivos também especificamente delimitados” (SCARAMUCCI et al., 2008, p. 99).

No que diz respeito ao processo de ensino e aprendizagem de LE para crianças, levando-se em conta as especificidades dessa faixa etária, Scaramucci, et al. (2008, p. 100) apontam que se espera que a criança possa de agir efetivamente em situações do cotidiano, preparando-se para futuramente engajar-se em práticas de linguagem mais complexas.

Uma vez discutidas as questões conceituais de proficiência, passamos a focar os exames de proficiência.