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3 AS RESPONSABILIDADES GERADAS PELO ESTATUTO DE DEFESA DO

3.2 Conceito de torcedor

O espetáculo esportivo, o qual movimenta em torno de trinta e cinco bilhões de reais no Brasil, com perspectiva de aumento de 15% (quinze por cento) ao ano até a Copa do Mundo de 2014, tem como destinatário a figura do torcedor, haja vista que este é o elemento fundamental para que o esporte nacional evolua, sobreviva e desenvolva-se. (BEM e RAMOS, 2009, p. 286)

Segundo o Dicionário Aurélio, torcedor é aquele “que torce [...] partidário de um atleta ou de uma equipe, por quem torce nas competições esportivas[...]”. (AURÉLIO, 2010)

Importante salientar que o legislador estabeleceu nos primeiros artigos do Estatuto de Defesa do Torcedor (Lei nº. 10.671/2003), da maneira mais vasta possível, a definição de torcedor, bem como, os conceitos e princípios básicos a serem aplicados nesta lei, vejamos.

O artigo 1º, da Lei nº. 10.671/2003, estabelece que o objetivo fundamental desta Lei é defender e proteger o torcedor. (SOUZA, 2009, p. 69)

Não obstante, o artigo 2º, do mesmo diploma legal, apresenta uma definição mais intelectual, elaborada através de profundos conhecimentos científicos, entendendo que “Torcedor é toda pessoa que aprecie, apóie ou se associe a qualquer entidade de prática desportiva do País e acompanhe a prática de determinada modalidade esportiva”. (BRASIL, 2009)

Constata-se que, aquele que aprecia, é um admirador e leva em consideração determinada entidade de prática desportiva. No entanto, o sujeito que apóia, é considerado como a pessoa que patrocina, protege ou favorece qualquer entidade de prática desportiva. Todavia, quem se associa, põe-se na condição de sócio e, além disso, compartilha os lucros e as perdas em que a entidade de prática desportiva vier a incorrer. (VIEIRA, 2003, p. 2)

Ensina Judivan Vieira (2003, p. 12):

Um clube de futebol é uma entidade desportiva. Assim, quem simplesmente aprecia, atua pelo “lado de fora”. Quem apóia já oferece contribuição “por dentro”, por estar suportando ou patrocinando as atividades. Ora, quem se associa se submete às regras contidas nos estatutos ou regimentos da entidade. Deve se comportar como dono de uma partícula do “todo” que o somatório dos bens corpóreos e incorpóreos da “coisa” representam. Afinal, um clube de futebol, além dos bens materiais que possui, agrega ao seu patrimônio o nome do clube e a fidelidade dos torcedores.

Do mesmo modo, entende Juca Kfouri (2009), afirmando que o EDT torna a conceituação de torcedor mais ampla possível e que, para a lei, aquele sujeito que somente acompanha a competição pode ser considerado torcedor e não apenas o sujeito que vai ao estádio.

Entretanto, o parágrafo único do artigo 2º, do Estatuto do Torcedor, indica que “salvo prova em contrário, presumem-se a apreciação, o apoio ou o acompanhamento de que trata o caput deste artigo”. (BRASIL, 2009)

A presunção de que trata o parágrafo único quer dizer que a conclusão tirada deve ser baseada em indícios. Assim, presume-se torcedor quem acompanhe as atividades de determinada entidade desportiva, salvo nos casos em que o apoio for de patrocínio, uma vez que neste caso haverá prova documental que é o contrato. (VIEIRA, 2003, p. 12).

Entende Gustavo Lopes Pires de Souza (2009, p. 69) que “o parágrafo único estabelece a presunção relativa de que todo cidadão é torcedor. Ou seja, afasta-se a idéia de que torcedor/consumidor seja somente indivíduo que adquire ingressos”.

Nesse mesmo norte, explica José Adriano de Souza Cardoso Filho (2007, p. 73):

Ora, torcedor não se trata apenas daquele que paga o ingresso e adquire o direito de assistir no local ou praça esportiva, determinada partida de futebol, tênis ou vôlei. Torcedor é todo aquele que, mesmo à distância ou ainda por outro meio, tal como a televisão, seja aberta ou no sistema pague para ver (pay per view), assiste ao mesmo espetáculo daquele que vai à arena de esportes.

Ademais, com relação ao conceito de torcedor, devido a sua ampla abrangência, adapta-se facilmente a subsunção do torcedor na condição de consumidor, nos termos do Código de Defesa do Consumidor, haja vista o conceito de consumidor e consumidor por equiparação poder conglomerar o torcedor que aprecia e acompanha, todavia, não freqüenta a praça desportiva. (FILHO, 2007, p. 75)

Para Rafael Teixeira Ramos e Leonardo Schmitt de Bem (2009, p. 289) “são torcedores, aqueles que apreciam qualquer tipo de modalidade desportiva, incluindo-se aí do futebol até a Fórmula-1 [...] É importante acrescentar também que a relação entre o torcedor não precisa ser necessariamente onerosa”.

O referido autor ainda assevera que (2009, p. 287) “a definição dada é excessivamente abrangente, sendo prudente afirmar que no caso de ingresso para ação judicial deve-se ter o interesse de agir, conforme artigo 3º e 4º do Código de Processo Civil3 e o nexo de causalidade entre o torcedor e o dano".

3

Art. 3º do CPC – Para propor ou contestar ação é necessário ter interesse e legitimidade. Art. 4º do CPC – O interesse do autor pode limitar-se à declaração:

Importante que se comensure com fulcro no princípio da razoabilidade, averiguando o que o torcedor tem direito ou não. Nesse sentido, existe a necessidade que o torcedor realmente tenha sido atingido pelo dano. (BEM e RAMOS, 2009, p. 288)

3.2.1 Alteração prevista pela Lei nº 12.299, de 27 de julho de 2010

A Lei nº. 12.299/2010 (BRASIL, 2010) incluiu no que tange ao conceito de torcedor, o seguinte:

Art. 2o-A. Considera-se torcida organizada, para os efeitos desta Lei, a pessoa jurídica de direito privado ou existente de fato, que se organize para o fim de torcer e apoiar entidade de prática esportiva de qualquer natureza ou modalidade. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

Parágrafo único. A torcida organizada deverá manter cadastro atualizado de seus associados ou membros, o qual deverá conter, pelo menos, as seguintes informações: (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

I - nome completo; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010). II - fotografia; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010). III - filiação; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

IV - número do registro civil; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010). V - número do CPF; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

VI - data de nascimento; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010). VII - estado civil; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

VIII - profissão; (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

IX - endereço completo; e (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010). X - escolaridade. (Incluído pela Lei nº 12.299, de 2010).

Preferiu o legislador, através de Lei, adicionar a conceituação de torcida organizada ao EDT, fazendo com que os membros destas sejam cadastrados e mantenham seus dados sempre atualizados, com intuito de evitar que “baderneiros” e “marginais” infiltrados nas mesmas, provoquem mais danos e problemas aos espetáculos esportivos profissionais.

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