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3 AS RESPONSABILIDADES GERADAS PELO ESTATUTO DE DEFESA DO

3.4 Relação de consumo

De acordo com Roberto Basilone Leite (2002, p. 54) “a relação de consumo é, por princípio, uma relação de cooperação, pois um cidadão entra com o bem ou serviço e o outro oferece em troca o pagamento do preço”.

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Art. 6º São direitos básicos do consumidor: [...]

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

Consumo é o ato ou efeito de consumir, isto é, poder escolher a alternativa de preferência quanto a serviços e produtos para a satisfação individual. (LIMEIRA, 2008, p. 4-7).

Salienta Cláudio Bonatto e Paulo Valério Dal Pae Moraes (1999, p. 63):

Relação jurídica de consumo é o vínculo que se estabelece entre um consumidor, destinatário final, e entes a ele equiparados, e um fornecedor profissional, decorrente de um ato de consumo ou como reflexo de um acidente de consumo, a qual sofre a incidência da norma jurídica especifica, com o objetivo de harmonizar as interações naturalmente desiguais da sociedade moderna de massa.

Preleciona Newton de Lucca (2003, p. 70), que a relação jurídica de consumo é “aquela que se estabelece necessariamente, entre fornecedor e consumidor; tendo por objeto a aquisição de um bem ou utilização de produtos ou serviços por parte deste último”.

Para Antonio Carlos Efing (2002, p. 30) a relação de consumo é:

[...] objeto do regramento instituído pelo CDC, a relação jurídica estabelecida entre consumidor (es) e fornecedor(es) segundo as conceituações do CDC, tendo por objeto produto e/ou prestação de serviço.

Trata-se então, de uma relação jurídica que possui dois sujeitos: o fornecedor (parte forte) e o consumidor (ente vulnerável), ambos envolvidos numa ação de obtenção de um produto ou utilização de um serviço. (LEITE, 2002, p. 43)

Além da definição do CDC no que tange a relação de consumo, a Lei 1.334/98 em seu artigo 5º também versa sobre referido assunto, revelando que “relação de consumo é a relação jurídica que se estabelece entre quem, a título oneroso, provê um produto ou presta um serviço e, quem o adquire, ou o utiliza, como destinatário final.” (FILOMENO, 2003, p. 17)

São elementos da relação de consumo, os sujeitos - consumidor e fornecedor -; o objeto - os produtos e serviços - e, a finalidade, que seria a aquisição ou utilização de produto como destinatário final. (TOMASETTI JUNIOR, 1992, p. 16)

Desta forma, os sujeitos – consumidor e fornecedor - são os agentes pelas quais é efetuada a relação de consumo (ALLEMAR, 2003, p.51).

Dispõe o artigo 4º, do Código de Defesa do Consumidor, sobre Política Nacional de Relações de Consumo, vejamos:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos,

a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor: a) por iniciativa direta;

b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas;

c) pela presença do Estado no mercado de consumo;

d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;

IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo; V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo;

VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;

VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos;

VIII - estudo constante das modificações do mercado de consumo. (BRASIL, 2009)

É de suma importância observar que, para haver uma relação de consumo, necessário se faz visualizar as figuras do consumidor e do fornecedor, os quais relacionam-se em volta de um objeto, podendo este ser um bem ou um serviço. (GRINOVER, 2004, p.28)

Ensina Leite (2002, p.55):

Há de se observar, porém, que as atividades provenientes das relações trabalhistas, não integram a relação de consumo, mesmo esta submetendo o ato de aquisição de produto ou a utilização de serviços mediante remuneração. Salvo corrente minoritária, não caracterizada relação de consumo também, aquela emanada da aquisição, por parte do empresário, de mercadorias predeterminadas para o processo produtivo, fazendo parte do produto final, a esta se dá o nome de insumos.

Nesse norte, assegura Luiz Antonio Rizzatto Nunes (2002, p. 71) que “haverá relação jurídica de consumo sempre que se puder identificar num dos pólos da relação o consumidor, no outro, o fornecedor, ambos transacionando produtos e serviços”.

3.4.1 Relação de consumo no Estatuto de Defesa do Torcedor

Haroldo Augusto da Silva Teixeira Duarte (2009) alega que a relação entre Torcedor e Entidade de Prática Desportiva Detentora do Mando do Jogo (Clube)/Entidade Responsável pela Organização da Competição (EROC) configura- se como relação de consumo.

Em seguida, declara:

[...] além das figuras previstas como fornecedores no art. 3o do CDC (o produtor, montador, criador, construtor, transformador, importador, exportador, distribuidor, comerciante e prestador de serviços) surgem o clube com mando de jogo e a EROC, gozando dos mesmo status. Tal equiparação é importante inovação, na medida em que espanca qualquer dúvida que ainda poderia existir quanto à aplicação do CDC nessas relações. Tal incidência, não era livre de controvérsias (4). Isso ocorria muito embora a Lei 9.615/98 (Lei Pelé) já equiparasse, expressamente, o torcedor que adquire ingresso para assistir a evento esportivo a consumidor, para os efeitos de aplicação do CDC (5). Isso prova como os juristas brasileiros são legalistas: Lei de 1998 já dispunha que o torcedor era consumidor (o que implica dizer que, por conseqüência, a entidade que organiza o evento é espécie de fornecedora de serviço).

Mas ainda assim havia dúvida e receio em se aplicar o CDC. Tanto que foi necessário que viesse Lei posterior para completar o ciclo (coisa que o intérprete não teve coragem de fazer) e dizer expressamente: O clube com mando de jogo e a EROC são fornecedores. (grifo do autor) (2009)

Corrobora Juca Kfouri (2009) que a relação de mercado está demonstrada quando o torcedor, juntamente com o evento esportivo (jogo) - que seria o produto - e o fornecedor do evento esportivo estão presentes, devendo este último, disponibilizar as melhores condições aos seus clientes (torcedores) antes, durante e após os eventos.

Assim, a relação de consumo entre torcedor e o organizador do evento esportivo está comprovada.

Em outras palavras, a relação de consumo é o elemento fundamental do qual se ocupa o CDC e, de fato, o EDT.

Nestes diplomas legais, permanece de um lado o ente vulnerável – consumidor ou torcedor - e, de outro, o forte – fornecedor ou fornecedor do evento esportivo -, todos abarcados em um ato de aquisição de produto ou utilização de um serviço.

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