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Devido à diferença de domínios de maior eficiência de cada tecnologia e modo de transporte, o sistema de transportes em qualquer espaço de alguma dimensão e complexidade é composto por vários modos (Viegas, 2010).

Com base em várias premissas, nomeadamente confiabilidade, velocidade, integração, segurança, eficiência e custo reduzido, e para que se consiga atender às crescentes exigências por serviços completos e eficientes, tem-se procurado utilizar, numa mesma operação, os diversos meios de transporte disponíveis, proporcionando um serviço integrado e abrangente. Neste contexto, surge o conceito de intermodalidade, que procura combinar diversos modos de transporte numa mesma operação integrada de transportes (Marquez, et al., 2012).

Muitas vezes, em abordagens sobre a temática da intermodalidade, utilizam-se as terminologias transporte multimodal, transporte intermodal e transporte combinado como se do mesmo conceito se tratasse. Importa, pois, fazer a destrinça.

Em termos teóricos, a distinção entre transporte intermodal e transporte combinado está relacionada com o facto do transporte combinado pressupor uma integração completa de dois modos de transporte, ao passo que o transporte intermodal, além dessa integração, também compreender a transferência de unidades de carga ou de transporte de um para outro modo. Essas unidades de carga são, geralmente, veículos rodoviários, caixas móveis, semirreboques ou contentores (Bravo, 2000).

Qualquer operação de transporte envolvendo vários modos constitui um caso de transporte multimodal (Viegas, 2010). Ambas as terminologias acima referidas são um caso particular do transporte multimodal.

Para melhor compreensão e distinção das várias terminologias, apresentam-se as respetivas definições, de acordo com o Glossário de Estatísticas de Transportes do Eurostat, autoridade estatística da União Europeia (UE) (Eurostat, 2015).

Transporte intermodal de mercadorias:

Transporte multimodal de mercadorias (numa mesma unidade de transporte intermodal) recorrendo a sucessivos modos de transporte, sem movimentação das mercadorias na mudança do modo de transporte.

Transporte multimodal de mercadorias:

Transporte de mercadorias recorrendo a dois ou mais modos de transporte. O transporte intermodal é um tipo específico de transporte multimodal.

O transporte internacional multimodal baseia-se frequentemente num contrato que regula o transporte multimodal na sua totalidade.

Transporte combinado de mercadorias:

Transporte intermodal de mercadorias em que a maior parte do percurso é realizado por caminho-de-ferro, vias navegáveis interiores ou por via marítima, e em que o troço inicial e/ou final realizado por estrada é tão curto quanto possível.

De acordo com a definição do Eurostat, o transporte combinado é um caso particular do transporte intermodal.

O transporte intermodal é, basicamente, a associação de vários modos de transporte e de tal forma que, em cada operação, se procura conseguir o melhor desempenho do ponto de vista económico, ambiental e técnico.

A transferência da carga a granel de um modo de transporte para outro é normalmente mais fácil e menos agitada do que a transferência de carga geral, tornando-se mais fácil manter um fluxo contínuo. A carga é geralmente bombeada, despejada ou aspirada conforme se trate de líquidos ou sólidos, sendo normalmente transportada em barcaças, pipelines e comboios (Bravo, 2000).

O termo intermodal é, geralmente, reservado para os casos com um nível de organização mais elevado, em que a operação se faz (Viegas, 2010):

 No caso do transporte de mercadorias, sem recondicionamento ou consolidação das cargas;  Genericamente sobre um sistema em que as principais componentes (infraestrutura,

unidades de carga, se for o caso, veículos e canais de informação) foram concebidas/adaptadas tendo em vista facilitar a integração dos vários modos numa cadeia tensa.

A intermodalidade de passageiros, no âmbito da UE, é tanto uma política, como um princípio de planeamento que se aplica a passageiros que utilizam diferentes modos de transporte de forma combinada e sequencial numa viagem contínua (Barreira, 2012).

No transporte de passageiros, a intermodalidade visa facilitar as conexões com outros modos de transporte, podendo abranger o pagamento de tarifas únicas, através da aquisição de bilhetes que possam ser utilizados em diferentes meios de transporte.

Para que se consiga obter uma intermodalidade funcional, é fundamental ter o conhecimento de cada modo de transporte, uma vez que os modos deverão complementar-se e não concorrer entre si (Marquez, et al., 2012).

O transporte intermodal apresenta várias vantagens e desvantagens que são, de seguida, desenvolvidas sob vários ângulos.

Para os operadores, as soluções intermodais apresentam como vantagens permitir uma boa adequação dos veículos aos níveis de procura (altas taxas de ocupação) e às distâncias a percorrer (eficiência energética). Como desvantagens, assinala-se a dificuldade de articulação física com outros modos, no que toca a sincronização e transferência de pessoas e cargas. Apresentam-se ainda como desvantagens a complexidade e riscos agravados dos contratos com os clientes, envolvendo outros operadores, sem controlo sobre o seu desempenho e maior carga administrativa. Os operadores tendem a ver soluções intermodais como penalizadoras, no entanto há que ter em conta que estas soluções permitem alargamentos substanciais do mercado (aumento da procura) (Viegas, 2010).

Do ponto de vista dos clientes, em viagens longas, quer para passageiros quer para mercadorias, esta forma de transporte apresenta ganhos relativamente aos níveis de preços bem como à multiplicidade de destinos e frequência de serviço que é possível alcançar. Por outro lado, aumenta a complexidade no planeamento e na realização da viagem e ocorrem perdas nos níveis de comodidade e conforto (passageiros) e de segurança (cargas). Nas viagens mais curtas, o balanço direto para o cliente é geralmente negativo, quer em tempo, quer em comodidade, pelo que no transporte de mercadorias até aos 150-200 km, só o modo rodoviário é adotado.

O balanço social do transporte intermodal é francamente positivo. É uma forma de transporte que permite ajudar o descongestionamento das estradas, através do uso de outros modos para assegurar as ligações que normalmente atravessariam as regiões de tráfego mais denso. Ao recorrer a modos de maior capacidade e menos poluentes, o transporte intermodal é também um fator de defesa ambiental e de poupança energética.

O transporte intermodal apresenta algumas dificuldades para se observar um bom desempenho, designadamente a dificuldade que existe em minimizar tempos mortos, assegurar um nível elevado de responsabilidade integrada pelo desempenho na cadeia global, quer a nível de tempos, quer a nível de segurança e identificar, medir e cobrir adequadamente os riscos acrescidos que se colocam numa operação multimodal.

Numa operação de transporte multimodal ou intermodal, as dificuldades que surgem em caso de extravio, danos ou roubos são superiores ao transporte em apenas um modo, pois nem sempre é fácil perceber em que etapa da viagem ocorreu o incidente e, consequentemente, quem é a entidade responsável (Viegas, 2010).

As definições anteriormente apresentadas para as três formas de transporte não são passíveis de serem aplicadas em todas as situações de transporte de mercadorias em mais do que um modo. Veja-se a situação dos casos de estudo apresentados mais adiante em que nenhum destes termos encaixa no tipo de transporte que é efetuado.

No caso de estudo Porto de Sines/Central Termoelétrica do Pego, o tipo de transporte não cabe na definição de transporte intermodal, pois existe movimentação de carga. Não encaixa igualmente na definição de transporte multimodal, pois o transporte deste caso de estudo não é regulado por um único contrato. Muito menos pode ser considerado transporte combinado, como resulta claro da própria definição deste tipo de transporte.

Já no que se refere ao caso de estudo Volkswagen Autoeuropa/Porto de Setúbal, este poderia ser considerado como transporte intermodal por se tratar de um transporte combinado, que é um caso particular do anterior. Contudo, por haver movimentação de carga e sendo o transporte combinado um caso particular do intermodal (que não abrange a movimentação de carga), a definição não colhe para este caso de estudo. Na definição de transporte combinado a maior parte do percurso é realizado por caminho-de-ferro, vias navegáveis interiores ou por via marítima, sendo o troço inicial e/ou final realizado por estrada, de forma tão curta quanto possível. O transporte deste caso de estudo é feito por rodovia numa distância reduzida e o resto do itinerário, numa distância incomparavelmente maior, através de transporte marítimo.

Parece então não haver uma definição que possibilite a melhor classificação para alguns tipos de transporte em que se use mais do que um modo, pois ora é regulado por mais do que um contrato e, portanto, não pode ser considerado multimodal, ora contempla movimentação de carga e, por isso, não pode ser considerado intermodal.

Assim, e por uma questão de simplificação, no âmbito do presente trabalho e em particular na análise dos casos de estudo, usar-se-á o termo intermodal quando se pretende definir um transporte em que se recorre a mais do que um modo de transporte, independentemente da movimentação da carga.