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Esquema 4 Estrutura da sequência didática do hiperconto

4. DA ARGILA AO TEXTO EM TELA: A EMERGÊNCIA DO HIPERTEXTO

4.2 O HIPERTEXTO

4.2.1 Conceitos e a história do hipertexto

Segundo Leffa e Castro (2008), tradicionalmente, “o hipertexto tem sido definido como uma maneira de organizar diferentes textos de acordo com um determinado critério de relacionamento entre eles” (LEFFA E CASTRO, 2008, p.169- 170). Xavier (2010) o compreende “como uma forma híbrida, dinâmica e flexível de linguagem que dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e acondiciona à sua superfície formas outras de textualidade” (XAVIER, 2010, p. 208). Por sua vez, Gomes (2011) afirma que ele “pode ser entendido como um texto exclusivamente virtual que possui como elemento central a presença de links” (GOMES, 2011, p.15).

Além dessas definições, a que entendemos ser mais completa é a dada por Lévy (1993):

Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de medo reticular. Navegar em um hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira (LÉVY, 1993, p.33).

Lévy (1996) afirma que “o texto é um objeto virtual, abstrato, independente de suporte” (LÉVY, 1996, p.25). O sentido da palavra “virtual”, aqui, não está relacionado àquilo que terá uma existência vindoura, mas ao que já tem existência e que ainda não se materializou. As conexões a que Lévy (1996) se refere, em seu conceito de hipertexto, se estabelecem também pela mente humana, pois, quando interagimos com um texto, automaticamente, faz-se um link com outros textos. Essa intertextualidade traz diferentes textos para completarem o sentido do primeiro.

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Aliás, em relação a textos escritos, o hipertexto também não é uma inovação, visto que “a leitura de uma enciclopédia clássica já é de tipo hipertextual, uma vez que utiliza as ferramentas de orientação que são os dicionários, léxicos, índices, thesaurus, atlas, quadros de sinais, sumários e remissões ao final dos artigos. ” (LÉVY,1996, p.31). A mesma concepção já existia desde os séculos XVI e XVII e era conhecida como marginalia. Ela consistia em anotações à mão nas margens dos livros impressos, por parte dos leitores, para, depois, serem transferidas para um caderno em comum, já que os livros, nas bibliotecas da Idade Média, eram acorrentados e lidos em voz alta e só se tornaram portáteis e de apropriação particular devido a uma modificação na dobradura feita pelo editor veneziano Aldo Manucio.4

Segundo Aquino (acesso em 22 dez. 2017), a visão atual do hipertexto veio exatamente da mente humana, em 1945, quando o físico e matemático Vannevar Bush publicou o artigo As We May Think enquanto criava seu Memex, um equipamento que se assemelha aos computadores pessoais de hoje. Ele estava à frente da Agência de Desenvolvimento e Pesquisa dos Estados Unidos e, por causa da enorme quantidade de dados gerados por sua equipe (quase seis mil cientistas), sentiu a necessidade de encontrar uma forma de armazenamento. Ele acreditava que, assim como o cérebro humano não armazena informação de forma linear, mas sim por “trilhas associativas”, ele poderia incluir também esse tipo de processamento em seu Memex.

A mesma autora ainda cita que, nesse processo,

[...] o conteúdo seria armazenado em microfilme em canto da mesa e poderia ser rapidamente recuperado, sendo indexado por meio de códigos mnemônicos. A navegação entre as páginas seria feita através de uma alavanca que avançaria ou retrocederia dentro da publicação selecionada e um botão levaria à página inicial do repositório. Além disso, existiria uma plaqueta transparente onde poderiam ser colocadas anotações, imagens e memorandos, criados pelo usuário, para serem microfilmados e armazenados, possibilidade esta que se diferencia do funcionamento atual da internet, que ainda não possibilita que o usuário insira links nas páginas (AQUINO, acesso em 22 dez. 2017).

Essas “trilhas associativas” são o que conhecemos como os links do hipertexto, que permitem o armazenamento de arquivos de outras fontes de forma digital. A

4 Disponível em: <http:// http://www.geographia.uff.br/index.php/geographia/article/view/22/20>.

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autora ainda aponta que, nas décadas 1940 e 1950, houve melhoria nos computadores, tentativas de hipertexto com telas de múltiplas janelas e arquivos de dados fixos foram feitas, mas foi em 1965, com o lançamento do primeiro minicomputador comercial, o PDP-8, pela Digital Equipment e o projeto Xanadu, do filósofo e sociólogo Theodor Holm Nelson - Ted Nelson - que o nome “hipertexto” passou a ter reconhecimento, apesar de o intento nunca ter saído do papel. A premissa desse empreendimento de Nelson era construir uma biblioteca universal, disponibilizando uma gama de livros, enciclopédias, revistas, documentos, dentre outros, para acesso ao público de forma interligada, arbitrária (pois não permitia interação com o usuário) e não sequencial.

Ela ressalta que isso se tornou realidade com a criação da World Wide Web, em 1989, pelo engenheiro de sistemas inglês Tim Berners Lee, que aconteceu por causa de problemas na troca de informações entre os pesquisadores do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), que o ajudaram na elaboração e implementação desse novo sistema. Tentando solucionar a comunicação do centro, Berners inventou o HTML, uma nova maneira de armazenamento em disco rígido, em computador conectado continuamente à internet. O endereço que indicava a localização de cada um deles foi chamado de URL e HTTP ficou sendo cada protocolo para acessá-la. Os links que dependiam das URLS foram adicionados, assim como um navegador (browser) e um servidor que, além de resolver o objetivo principal, ainda permitiu a entrada de milhares de usuários nesse espaço virtual.

Na fase atual, o hipertexto permite pouca interação. Os internautas, na maioria das vezes, não conseguem adicionar conteúdo em parceria com os autores do hipertexto, e a participação se limita a seguir os links deixados de forma unilateral pelo criador. Mas, iniciativas como a Wikipédia demonstram uma mudança para a internet, por possuírem um espaço de promoção do conhecimento coletivo de forma colaborativa, já que sua estrutura permite que cada usuário adicione informações novas, aumentando a contribuição do que está sendo discutido.

Aquino (acesso em 22 dez. 2017) afirma que, com o estabelecimento dessa escrita coletiva, já é possível visualizar três avanços. São eles:

a) Quanto mais pessoas utilizarem o hipertexto, podendo modificar seu conteúdo e incluir novos links, mais ricas de informação serão as páginas; b) A construção coletiva do hipertexto coloca os internautas como co- desenvolvedores, praticamente anulando a escrita individual nesse contexto;

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c) O aumento do uso aliado a coparticipação no desenvolvimento do hipertexto propicia a formação de uma inteligência coletiva. (AQUINO, acesso em 22. dez. 2017)

Entendendo a história desse tipo de texto, compreendemos que ele tem uma grande variedade de opções a serem usadas em favor do ensino, principalmente em relação a uma gama de informações, à interação e a outras características que passaremos a expor a seguir.