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Um dos estudos pioneiros sobre difusão de políticas remonta a década de 1940, quando Bryce Ryan e Neal Gross produziram um artigo analisando a difusão de inovações na área de agricultura evidenciando problemas, como, por exemplo, incentivos comerciais, interação social. Essas características proporcionaram a ampliação de novas tecnologias em agriculturas em determinada região dos Estados Unidos (RYAN e GROSS, 1943).

Desde essa época, várias investigações na área de difusão de políticas têm sido desenvolvidas, mas com a mínima unidade entre os termos e mecanismos que oferecem suporte e referência para a teoria. Graham, Shipan e Volden (2008) indicaram a preocupação em existir aproximadamente mil artigos sobre difusão de políticas na área da ciência política, havendo uma grande dispersão na literatura acerca dos mecanismos em mais de cem termos (GRAHAM, SHIPAN e VOLDEN, 2008).

Os autores, a partir de uma pesquisa nos principais periódicos de ciência política e estudos comparados, de política americana e relações internacionais, indicam as publicações que mais influenciaram a agenda de pesquisa sobre difusão de políticas, sendo as contribuições de Walker (1969), Gray (1973) e Berry e Berry (1990).

Walker (1969) apresentou, conceituou e realizou o primeiro teste de difusão de políticas públicas no cenário dos Estados Unidos (GRAHAM, SHIPAN e VOLDEN, 2008). O estudo do autor possuía o objetivo de explicar, no cenário do federalismo americano, porque determinados estados adotaram inovações mais rápidos do que os demais. Contudo, foi identificada a necessidade de um estudo mais complexo, pois várias características influenciariam as decisões (WALKER, 1969).

Foi identificado que a possibilidade de um estado adotar uma nova política é maior se outros estados já adotaram essa mesma prática. Essa preferência torna-se ainda maior caso a inovação seja adotada por um estado, cuja visão do tomador de decisão seja passível de comparação com o de outro estado, havendo nesse contexto uma disputa, ou competição. Essa tendência é observada nos estudos atuais, com resultados de pesquisas demonstrando que a variável competição política influencia na difusão horizontal e vertical entre governos (COÊLHO, CAVALCANTE e TURGEON, 2016).

Walker (1969), no decorrer de sua investigação pioneira, considera a limitação dos dados que dispõe e a impossibilidade de examinar satisfatoriamente as influências entre associações profissionais, autoridades federais, grupos de interesse, e os líderes políticos na construção da agenda da política de um estado. Logo, o autor conclui que outras investigações são fundamentais para o melhor entendimento do funcionamento desse sistema de difusão e políticas públicas (WALKER, 1969).

Gray (1973) apresentou a curva S como um padrão que defini a difusão de políticas ao longo do tempo (GRAHAM, SHIPAN e VOLDEN, 2008). O autor observa que os estudos na esfera da educação, sociologia e sociologia rural têm apresentado que, para uma diversa variedade de inovações, a frequência de adoções no decorrer do tempo é frequentemente compartilhada, de modo cumulativo ao longo do tempo, em formato de uma curva S (GRAY, 1973).

A interpretação construída para este acontecimento é relacionada a três questões: (1) o momento da difusão deve ser entendido como um fenômeno resultado da conciliação de uma quantidade de números de elemento no ambiente social relacionado a fatores moderadamente idênticos; (2) a curva cumulativa é parecida à curva de aprendizagem de uma pessoa, sendo capaz, logo, compreender que a adoção por um estado é compatível ao que acontece no aprendizado de indivíduos; e (3) ocorre um fenômeno de influência entre os adotantes, ou seja, os adotantes impulsionam aqueles que no sistema social ainda não fizeram adoções e, por isso, na dimensão que mais unidades adotam, a repercussão sobre os não adotantes cresce (GRAY, 1973).

Destacam-se, ademais essas contribuições, que o estudo de Gray (1973) investigou inovações em três áreas: bem-estar, direitos civis e educação. Dessa forma, o autor realizou comparações na difusão de políticas em diversas áreas, observando que os padrões de difusão são diferentes de acordo com a área temática e o grau de envolvimento federal em cada política - repercutindo na curva S de cada política (GRAY, 1973).

Berry e Berry (1990) possuem sua relevância ao introduzir a aplicação da metodologia Event History Analysis nos estudos de difusão e políticas públicas (GRAHAM, SHIPAN e VOLDEN, 2008). Esse modelo metodológico aparece para fazer contraposição às interpretações tradicionais que distinguiriam exclusivamente se um tipo específico de estado deveria ter feito uma adoção de uma política antes de uma data especifica ou não. Nesse sentido, os autores deram uma grande contribuição teórico-metodológica para a área de estudos de difusão.

A metodologia Event History Analysis tem condições de prever a possibilidade de que um determinado tipo de estado vai realizar a adoção de uma determinada política durante um período específico, respaldando-se numa noção de risco de acontecimentos de um evento ao longo do tempo (BERRY e BERRY, 1990).

A importância desse modelo de análise possui a vantagem de verificar anualmente a interdependência entre as unidades, proporcionando, desse modo, um estudo mais aprofundado acerca dos determinantes internos e externos do processo de difusão (COÊLHO, 2013).

Depois de realizadas as ponderações acerca das três publicações mais influentes na literatura de difusão de políticas públicas, torna-se importante recuperar as considerações de Graham, Shipan e Volden (2008), que realizaram uma avaliação necessária sobre a definição de difusão de políticas públicas. Segundo os autores, existe uma norma de definição de difusão de políticas públicas que deixa uma abertura na discussão do por que as políticas se disseminam e como a difusão dessas políticas ocorrem (GRAHAM, SHIPAN e VOLDEN, 2008).

Essa noção mais aberta está presente, por exemplo, na definição de Strang (1991), quando o autor sinaliza que o conceito de difusão é utilizado para referir-se a qualquer processo em que a adoção preliminar de uma prática ou política em uma determinada população modifica a possibilidade de adoção para as demais unidades, ainda não adotantes (STRANG, 1991).

Em análises mais atuais, a literatura de difusão de políticas públicas oferece uma definição semelhante. Gilardi (2015) utiliza a definição apresentada por Simmons, Dobbin e Garret (2008), compreendendo que a difusão acontece quando decisões políticas de um determinado governo em certa unidade são regularmente condicionadas por preferências políticas realizadas em outras unidades anteriormente (GILARDI, 2015). Nesse contexto, ressalta-se a apreensão de Graham, Shipan e Volden (2008) que está presente na carência de uma teorização de como acontece esse condicionamento ou crescimento da probabilidade de adoção de políticas (GRAHAM, SHIPAN e VOLDEN, 2008).

Dolowitz e Marsh (2000) apresentaram, também, preocupação parecida e indicaram que muitos analistas discutiram a transferência de ideias e de práticas entre países. Contudo, não desenvolveram uma análise e não ofereceram explicação a todo processo envolvido (DOLOWITZ e MARSH, 2000). Nessa perspectiva, ao desenvolver uma definição de difusão, os autores a consideraram como o processo em que o conhecimento acerca dos arranjos administrativos, instituições, ideias e práticas políticas num determinado sistema político é utilizado para o desenvolvimento de medidas administrativas, instituições, ideias e práticas políticas de outro sistema político (DOLOWITZ e MARSH, 2000).

Outra definição que merece ser destacada é a apresentada por Rogers (2003). O autor contempla um componente de propagação que é entendido como difusão, sendo este processo em que a inovação política é apresentada através de canais no decorrer do tempo entre membros de um sistema social (ROGERS, 2003). Na próxima sessão deste estudo será apresentada a discussão acerca dos mecanismos de difusão.