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3. CARACTERIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DE MOBILIDADE URBANA

3.5. Mobilidade urbana em âmbito federal e municipal

A mobilidade urbana apresenta-se como um desafio para União, Estados, Distrito Federal e Municípios, que precisam intervir nesse campo interdisciplinar de políticas públicas de modo coordenado e cooperativo. Essa distribuição de obrigações possui sua base na própria Constituição Federal de 1988, que concede à União a função de estabelecer diretrizes gerais que nortearão a atuação pública nesse campo.

Ao oferecer para a conduta legal tais diretrizes gerais, a União destinou para si o papel principal da Política Nacional de Mobilidade Urbana, como pode-se compreender do art. 16 da Lei nº 12.587/2012 (Lei da Mobilidade Urbana), no qual estão relacionadas como suas atribuições:

 Prestar assistência técnica e financeira aos Estados, Distrito Federal e Municípios;  Contribuir para a capacitação continuada de pessoas e para o desenvolvimento das

instituições vinculadas à Política Nacional de Mobilidade Urbana;

 Organizar e disponibilizar informações sobre o Sistema Nacional de Mobilidade Urbana e a qualidade e produtividade dos serviços de transporte público coletivo;  Fomentar a implantação de projetos de transporte público coletivo de grande e média

capacidade nas aglomerações urbanas e nas regiões metropolitanas;

 Fomentar o desenvolvimento tecnológico e cientifico no campo da Política Nacional de Mobilidade Urbana;

 Apoiar e estimular ações coordenadas e integradas entre Municípios e Estados em áreas urbanas, aglomerações urbanas e regiões metropolitanas destinadas a políticas comuns de mobilidade urbana.

No entanto, o Tribunal de Contas da União, em auditoria concluída em 2014, objetivando considerar a governança da política pública de mobilidade urbana no que se refere à coordenação e à coerência, entre outras características, considerou que “o esforço cooperativo entre as esferas de governo é insuficiente para a adequada implementação dessa política” (TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO, 2015). O TCU mostrou problemas relacionados ao alinhamento entre as estratégias e as operações dos entes federados na política de mobilidade urbana e a articulação para a elaboração dos projetos e planos de mobilidade urbana, além da ausência de coordenação na gestão da política local de mobilidade urbana, principalmente nas regiões metropolitanas.

Levando em consideração as alterações regulares na estrutura institucional do governo federal, com a criação, substituição e extinção de órgãos ligados ao desenvolvimento urbano, percebe-se que a União tem se isentado de determinar os mecanismos efetivos de coordenação, cooperação, comunicação e cooperação.

Os municípios, no que lhes concerne, são convidados a assumirem compromissos quanto ao planejamento, à execução e à avaliação da política de mobilidade urbana, bem como também à regulamentação e operação, diretamente ou por meio de concessão, dos serviços de transporte urbano11. Destaca-se que, da totalidade de municípios brasileiros, aproximadamente 30% deles possuem mais de 20 mil habitantes e, portanto, são obrigados legalmente a elaborarem o plano diretor (de acordo com o Estatuto da Cidade) e o plano de mobilidade urbana (em conformidade com a Lei de Mobilidade Urbana). Ademais, inúmeros outros abrangem nos demais critérios previstos pelo Estatuto da Cidade para exigibilidade do plano diretor, contemplando um total de aproximadamente três mil municípios legalmente obrigados a pensarem a sua política de mobilidade urbana.

Esses municípios demonstram realidades características, em termos de estrutura econômica e social, e nem sempre detendo circunstâncias de custeio das despesas e investimentos na área de mobilidade urbana. Principalmente no caso de cidades pertencentes a regiões metropolitanas, em que o uso de solo, transporte e o sistema viário são assuntos de evidente interesse comum, é importante a organização de ferramentas de planejamento integrado, tanto no que diz respeito à gestão do território urbano como relacionados à mobilidade urbana.

11A Lei nº 12.587/2012 defini e classifica os modos e os serviços de transporte, além de exemplificar infraestruturas de mobilidade urbana que compõem o Sistema Nacional de Mobilidade Urbana. O artigo 3º da Lei Federal dispõe e defini sobre os modos de transporte urbano, os serviços de transportes e os tipos de infraestrutura. Além de classificar os modos de transporte como motorizados e não motorizados. A lei define ainda que quanto aos objetos transportados, podem ser classificados como passageiros (pessoas) ou cargas, e segundo sua natureza, os serviços podem ser públicos ou privados. São consideradas infraestrutura de mobilidade urbana: as vias e logradouros, ciclovias, hidrovias, estacionamentos e outros locais.

Nesse cenário, ressalta-se a edição da Lei nº 13.089 de 2015, conhecida como Estatuto da Metrópole, que vem em complementação a legislação urbanística federal no que diz respeito à organização de regiões metropolitanas e conglomerados urbanos. Embora essa legislação não traga condições específicas sobre a mobilidade urbana, essa normativa teve repercussões nesta área, ao introduzir, entre outros temas, o conceito de governança interfederativa, compreendido como a distribuição de comprometimentos e atividades entre os entes da federação em questões de organização, planejamento e execução de funções públicas de interesse comum.

Em relação ao planejamento, o Estatuto da Metrópole exige a elaboração do plano de desenvolvimento urbano integrado, documento que determina, com base no processo continuado de planejamento, as orientações para o planejamento urbano da região metropolitana ou da aglomeração urbana.

Desse modo, o assunto região metropolitana movimenta os processos decisórios em diversas políticas públicas dos governos municipais para um nível em que estados e municípios precisamente deve caminhar juntos. Nesse cenário, surge a esfera estadual do poder público, que possui um pouco mais de atuação no que diz respeito à mobilidade urbana e da qual a experiência como impulsionadora de políticas públicas nessa temática deve ser preservada.

A versão original da legislação federal de mobilidade urbana determinava que todas as cidades com população acima de 20 mil habitantes deveriam ter concluído seus planos de mobilidade até abril de 2015, mas poucas cidades cumpriram a obrigação e, através de Medida Provisória, o prazo foi prorrogado para abril de 2019. As prefeituras que não haviam elaborado seus planos logo após a publicação da legislação puderam fazê-lo até abril de 2019. Os municípios que descumprirem a regra ficarão impedidos de receber recursos orçamentários federais destinados ao setor.