8 ANÁLISE DE DADOS
8.4 Conceitos e oposições que sustentam o discurso de DS do BCSD Brasil “CEBEDS” e
A partir da análise das entrevistas, observa-se que o WBCSD realiza uma
rasura no conceito de DS, de modo a traduzir para o setor empresarial as demandas
da sociedade por uma gestão voltada à sustentabilidade, neste processo
identificamos que são desenvolvidos ferramentas e conceitos que servem como guia
para as empresas que desejam ser reconhecidas como sustentáveis. A publicação
de documentos sobre estes temas faz parte de uma estrutura de discurso que busca
disseminar o pensamento e a posição do WBCSD para as empresas. Neste
percurso foram identificadas configurações textuais (conceitos, instituições,
metáforas e oposições)
2que sustentam o discurso de DS e servem de argumento
para “sensibilizar, envolver e engajar” os funcionários das empresas de modo que
eles sejam os entusiastas das ferramentas gerenciais disseminadas pelo WBCSD.
Nos próximos parágrafos analisaremos estas configurações textuais e
posteriormente discutiremos como elas se relacionam com as iniciativas de DCpS
realizadas pelo BCSD Portugal e CEBDS.
1- Você não pode gerir o que você não pode mensurar. (Coordenação P2) 2- Uma vez mensurado você pode fazer o gerenciamento. (Coordenação P1) 3 - Os empresários são os atores da sociedade com maior capacidade de liderar o DS (Coordenação P3). 4 - Se a alta liderança CEO não concordar com o projeto a coisa não caminha. Nós precisamos sensibilizar a alta liderança. (Coordenação B2) 5 - Queremos ser a vanguarda da sustentabilidade empresarial (Coordenação B1) 6 - É preciso dar velocidade e escala para ser ouvido (Coordenação B3)
Quadro 27: Conceitos que sustentam o discurso do WBCSD sobre DS. Fonte: Autor a partir da análise de dados.
A leitura destes conceitos à luz da desconstrução de Derrida envolve uma
mudança de postura na qual o foco da interpretação é o marginal, o que antes não
era considerado central agora passa a ser lido e discernido no discurso. Uma leitura
rápida e sem fidelidade ao texto dos conceitos 1, 2 não possibilita perceber a
importância deles para o desenvolvimento do discurso e das ações do WBCSD. Os
conceitos 1 e 2 defendem uma maneira de pensar o DS vinculado ao discurso da
matriz oficial, cuja gestão é baseada no uso de ferramentas e indicadores que
servem de base para a decisão nos negócios, esses conceitos são apoiados pelas
2
oposições reveladas nos discursos da Coordenação P1 e da Coordenação P2. Os
entrevistados afirmam que há Empresas Maduras e Empresas Não Maduras na
discussão de sustentabilidade, ou seja, empresas que compreendem a importância
da temática e que conseguem medir a sua dependência e impacto com relação aos
recursos ambientais. A relação entre oposição e conceitos é exposta na figura
abaixo:
Figura 2: Conceitos 1,2,3.
Fonte: Autor, a partir da análise de dados.
Como demonstrado, o conceito 3 também possui relação com as oposições
de Empresas Maduras e Empresas Não Maduras. Isso se evidencia na afirmação do
Coordenação P2:
À medida que o empresário compreende a importância de liderar o processo de DS, ele começa a buscar ferramentas que o auxiliem na tarefa de gerenciar a questão socioambiental.
A Coordenação P3 e a Coordenação P2 argumentam que os empresários são
os atores que possuem mais capacidade de liderar o processo de DS por possuírem
mais dinheiro do que as ONGs e mais “flexibilidade em suas ações do que os
governos”. Observa-se que essa argumentação se traduz nos conceitos 4 e 5 na
medida em que o WBCSD busca ser a “vanguarda da sustentabilidade empresarial,
ser a voz do empresariado”, e para alcançar este objetivo, a alta liderança das
empresas precisa estar sensibilizada, envolvida e engajada na promoção de ações
sustentáveis, pois se a “alta liderança não concordar, o projeto não caminha”.
Conceitos
1 Você não pode gerir o que você
não pode mensurar.
(Coordenação P2)
2 Uma vez mensurado você pode
fazer o gerenciamento.
(Coordenação P1)
3 Os empresários são os atores
da sociedade com maior
capacidade de liderar o DS (Coordenação P3).
Oposições
Empresas Maduras (Conseguem gerenciar a questão socioambiental, pois são capazes de mensurar a relação de seus negócios com os recursos ambientais)
Empresas Não Maduras (Não
conseguem gerenciar a questão
socioambiental pois não são capazes de mensurar a relação de seus negócios os com recursos ambientais)
Verifica-se que a relação das empresas com o meio ambiente não é amistosa, a
Coordenação B3 discursa que, ao mesmo tempo em que as empresas geram
impactos ambientais, elas também necessitam dos recursos naturais para a
condução do negócio. Essa ambiguidade também se verifica na relação com os
governos, ainda que o WBCSD busque preparar as empresas para liderar o
processo de DS, a Coordenação B1 argumenta que os governos precisam criar um
ambiente propício para essa liderança, já que “não adianta a empresa adotar um
produção sustentável se o ambiente propiciado pelo governo favorece o uso de
energia que consome combustíveis fósseis e não energias renováveis”.
Figura 3: Conceitos 4,5,6.
Fonte: Autor, a partir da análise de dados.
O conceito 6 é compreendido como uma condição do exercício da liderança
empresarial na área da sustentabilidade, assim, um dos sentidos da atuação do
WBCSD, conforme a compreensão da Coordenação B3, é “traduzir a demanda das
empresas em ações práticas” que promovem “velocidade e escala” para os
pensamentos e posições do setor empresarial nesta temática. Nesse sentido,
observa-se que a entidade busca disseminar suas soluções por meio de duas
estratégias, o desenvolvimento de guias de sustentabilidade e a realização de
encontros e espaços de discussão para “sensibilizar, envolver e engajar” as
empresas no processo de DS. Ao analisar os dados, observa-se que as ações de
DCpS ocorrem a partir de “pontos focais” (CEOs e especialistas em
Conceitos
4 - Se a alta liderança CEO não concordar com o projeto, a coisa não caminha. (Coordenação B2)
5 - Queremos ser a vanguarda da
sustentabilidade empresarial
(Coordenação B1)
6 – É preciso dar velocidade e escala
para ser ouvido (Coordenação B3)
Ambiguidades
-‐ Relação entre governos e empresas (impasses sobre a criação de ambiente propício para o DS)