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Implicações Teóricas: A Competência Think Tanke Traçada nas Iniciativas de DCpS

No documento DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS PARA A (páginas 142-145)

9   CONCLUSÃO

9.2   Implicações Teóricas: A Competência Think Tanke Traçada nas Iniciativas de DCpS

O interesse dos Conselhos Empresariais com a promoção de ações

educacionais era formar agentes competentes para desenvolver práticas

sustentáveis alinhadas ao discurso oficial do WBCSD. No entanto, a análise de

dados revelou que foi nas lacunas, por meio dos imprevistos que surgiram no

caminho, que se apresentaram oportunidades para o DCpS. Exemplo disso é o caso

do YMT, na opinião dos especialistas entrevistados, o evento da crise econômica

vivida em Portugal que favoreceu a compreensão da complexidade do DS pelos

empresários, com o desenvolvimento de outras significações para o tema. Neste

sentido, não se assume que os significados, em cada acontecimento, desenvolvem

uma competência, mas que em cada experiência de tradução vivencia-se a

disseminação de lógicas, abrindo-se oportunidade para o DCpS.

Reconhece-se, portanto, que os estranhamentos na discussão de Serviços

Ecossistêmicos (SEs) no PESE, os agentes com diferentes níveis de compreensão

no debate de DS, aliado à rede desenvolvida no YMT, possibilitam que se desloque

a oposição entre a perspectiva que divide competências constatativas e

competências performativas. Essas situações indecidíveis (estranhamentos)

deslocam, por exemplo, os conceitos e oposições apresentadas nos documentos

Visão 2050 e Ação 2020, de modo que, em alguns eventos, se compreendem essas

iniciativas como plataformas de diálogo e espaços de traduções, como no caso da

Rede de Embaixadores do DS, formada durante o YMT no BCSD Portugal.

No entanto, quando se identificaram as competências formais Compreensão,

Análise Crítica, Visão de futuro, Engajamento e Comunicação, a divisão entre

lógicas constatativas e performativas se revelou presente. A figura abaixo procura

demonstrar, todavia, que durante o percurso, essas competências foram permeadas

por agendas políticas e societais que interferiram no seu desenvolvimento, o que

provocou a disseminação dessas lógicas.

Compreensão,  Análise  Crítica,  Visão  de  Futuro  (Competências  Constatativas)  

                                   Engajamento,  Comunicação  (Competências  Performativas)  

Agenda política Interesse coletivo (societal)

Competência Societal

Competência Think Tanke

Quadro 31: A Competência Think Tanke traçada nas iniciativas de DCpS. Fonte: Interpretações do autor a partir da análise de dados.

Quando se analisam os dados a partir da margem e de seus estranhamentos,

observa-se que o pensamento “cisterna” permeou o percurso de DCpS, o que

favoreceu a vivência da alteridade, da hospitalidade, da abertura ao outro, da

disseminação do limite entre o ambiente interno da empresa e as demandas da

questão ambiental. Isso provocou o desenvolvimento de uma “competência societal

deslocada”, na medida em que a compreensão sobre a “agenda política” e o

“interesse coletivo”, que sustentam o seu conceito na literatura, são rasuradas pelos

argumentos e discursos que perpassam o caminho de DCpS, explicados a seguir.

No que se refere à “agenda política”, não se assume no pensamento

“cisterna” a ilusão do controle, ou seja, não se reconhece que as iniciativas de DCpS

do WBCSD possam capacitar o empresário para influenciar os outros agentes na

busca por DS. Gera-se, portanto, uma tensão com o conceito que sustenta o

discurso dos Conselhos Empresariais. A “agenda política”, neste sentido, é

compreendida a partir da lei da hospitalidade, o que provoca os agentes a

valorizarem outras leituras na experiência de DCpS de maneira incondicional. Nesta

perspectiva, abre-se ao pensamento da margem, ao imprevisto, de modo que o

 

 

desenvolvimento de competência passa a ser compreendida como a capacidade de

os empresários abrirem-se às outras traduções, ao porvir das contingências, e

assim, transformar o seu ato performativo.

Este ato se realiza na relação com outros empresários, no acontecimento, por

meio de um processo de différance. Nessa perspectiva, o “interesse coletivo” da

competência societal é traçado pelo pensamento “cisterna”, o sujeito é rasurado e a

ilusão do controle (logocentrismo) é deslocada, dado que, apesar de se

reconhecerem as diversas traduções do trajeto, lida-se com a impossibilidade de

alcançar um consenso sobre os interesses dos diversos grupos envolvidos

(sociedade, empresas e governo). A análise das iniciativas PESE e YMT, e seus

impasses, oportuniza o desenvolvimento de uma competência que desloca a

competência societal e se assume como Competência Think Tanke.

Como explicado, essa Competência Think Tanke não se apresenta em

oposição à competência societal, mas como herdeira que reconhece a sua

responsabilidade diante destes impasses, de “responder ao que vem antes de si, e

diante de quem se está” (BERNARDO, 2001, p. 346). Nesta experiência, o agente

toma decisões e abre-se ao porvir das necessidades das gerações futuras, sendo

marcado pelo traço que permeia estas relações. Assim, as indecibilidades se

revelam por meio das lacunas no discurso e na atuação do WBCSD como Think

Tanke, como laço que, ao mesmo tempo, liga-se à herança da competência societal

e a desloca como competência a porvir, definida neste estudo como Competência

Think Tanke. Observa-se que não é possível classificar a Competência Think Tanke

como competência performativa nem como competência constatativa, sua atuação

se dá como pharmakon, como disseminação inventiva, com leituras a se realizar.

Por esses motivos, as experiências do PESE e do YMT, colaboraram para

desenvolver a Competência Think Tanke, mas não se pode afirmar que os jovens

executivos a adquiriram, como se fosse um conhecimento técnico. A Competência

Think Tanke, portanto, se constitui como um porvir, um “saber político”, como uma

experiência, em um jogo de desacordos, permeados por estruturas políticas e

institucionais (SISCAR, 2012, p. 104). Este “saber político” se revela de modo

diferente em cada evento, em cada decisão, em cada acontecimento durante o

percurso das iniciativas do WBCSD.

reconhece-se aporias, lacunas neste processo, principalmente no que tange à

efetividade e à concretude das ações de DCpS. Ainda que o BCSD Brasil, por

exemplo, realize iniciativas como o Agenda CEBDS – Por um País Sustentável, que

visa abrir o diálogo das empresas com o governo e a sociedade para criar um

ambiente regulatório que valorize as ações sustentáveis, o que se verifica é que a

sua atuação, por meio do PESE, promove competências que se inscrevem em uma

lógica que reproduz o pensamento “carro blindado”.

Isso ocorre, na medida em que se fortalecem conceitos e oposições que

dicotomizam o pensar e o agir, ao estabelecer condições para a acolhida dos

pensamentos divergentes. Ou seja, criam-se espaços para o diálogo com outros

atores (governo e comunidade local), mas, frequentemente, restringe-se àquelas

ideias, iniciativas e projetos que atendem aos interesses empresariais de curto prazo

e que não promovem cenários propícios ao DS. Isto é evidenciado no uso da

ferramenta de gestão dos ecossistemas ESR, na qual busca-se alinhar as ações dos

agentes à política de sustentabilidade das empresas. A impressão é que se

negligenciam, com esta postura, as traduções divergentes que ocorrem neste

percurso.

Todavia, apesar de a natureza das competências, estimuladas nesta iniciativa,

assumirem uma perspectiva funcional e pragmática, a concretude e a efetividade da

Competência Think Tanke é prejudicada, visto que não se reconhece a

complexidade da questão socioambiental, reduzindo-a ao cumprimento dos

requisitos para a geração de indicadores, como é o caso do Índice Dow Jones. Essa

ambiguidade na atuação do WBCSD, que concomitantemente favorece o DCpS

mais pragmáticas e dificulta a concretude da Competência Think Tanke, perpassa

todo o processo do desenvolvimento das ações educativas, além de afetar o

desenvolvimento de negócios e a relação dos conselhos empresariais (BCSDs) com

a sociedade.

9.3 Implicações práticas: a atuação do WBCSD como Think Tank que Desenvolve

No documento DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS PARA A (páginas 142-145)