9 CONCLUSÃO
9.2 Implicações Teóricas: A Competência Think Tanke Traçada nas Iniciativas de DCpS
O interesse dos Conselhos Empresariais com a promoção de ações
educacionais era formar agentes competentes para desenvolver práticas
sustentáveis alinhadas ao discurso oficial do WBCSD. No entanto, a análise de
dados revelou que foi nas lacunas, por meio dos imprevistos que surgiram no
caminho, que se apresentaram oportunidades para o DCpS. Exemplo disso é o caso
do YMT, na opinião dos especialistas entrevistados, o evento da crise econômica
vivida em Portugal que favoreceu a compreensão da complexidade do DS pelos
empresários, com o desenvolvimento de outras significações para o tema. Neste
sentido, não se assume que os significados, em cada acontecimento, desenvolvem
uma competência, mas que em cada experiência de tradução vivencia-se a
disseminação de lógicas, abrindo-se oportunidade para o DCpS.
Reconhece-se, portanto, que os estranhamentos na discussão de Serviços
Ecossistêmicos (SEs) no PESE, os agentes com diferentes níveis de compreensão
no debate de DS, aliado à rede desenvolvida no YMT, possibilitam que se desloque
a oposição entre a perspectiva que divide competências constatativas e
competências performativas. Essas situações indecidíveis (estranhamentos)
deslocam, por exemplo, os conceitos e oposições apresentadas nos documentos
Visão 2050 e Ação 2020, de modo que, em alguns eventos, se compreendem essas
iniciativas como plataformas de diálogo e espaços de traduções, como no caso da
Rede de Embaixadores do DS, formada durante o YMT no BCSD Portugal.
No entanto, quando se identificaram as competências formais Compreensão,
Análise Crítica, Visão de futuro, Engajamento e Comunicação, a divisão entre
lógicas constatativas e performativas se revelou presente. A figura abaixo procura
demonstrar, todavia, que durante o percurso, essas competências foram permeadas
por agendas políticas e societais que interferiram no seu desenvolvimento, o que
provocou a disseminação dessas lógicas.
Compreensão, Análise Crítica, Visão de Futuro (Competências Constatativas)
Engajamento, Comunicação (Competências Performativas)
Agenda política Interesse coletivo (societal)
Competência Societal
Competência Think Tanke
Quadro 31: A Competência Think Tanke traçada nas iniciativas de DCpS. Fonte: Interpretações do autor a partir da análise de dados.
Quando se analisam os dados a partir da margem e de seus estranhamentos,
observa-se que o pensamento “cisterna” permeou o percurso de DCpS, o que
favoreceu a vivência da alteridade, da hospitalidade, da abertura ao outro, da
disseminação do limite entre o ambiente interno da empresa e as demandas da
questão ambiental. Isso provocou o desenvolvimento de uma “competência societal
deslocada”, na medida em que a compreensão sobre a “agenda política” e o
“interesse coletivo”, que sustentam o seu conceito na literatura, são rasuradas pelos
argumentos e discursos que perpassam o caminho de DCpS, explicados a seguir.
No que se refere à “agenda política”, não se assume no pensamento
“cisterna” a ilusão do controle, ou seja, não se reconhece que as iniciativas de DCpS
do WBCSD possam capacitar o empresário para influenciar os outros agentes na
busca por DS. Gera-se, portanto, uma tensão com o conceito que sustenta o
discurso dos Conselhos Empresariais. A “agenda política”, neste sentido, é
compreendida a partir da lei da hospitalidade, o que provoca os agentes a
valorizarem outras leituras na experiência de DCpS de maneira incondicional. Nesta
perspectiva, abre-se ao pensamento da margem, ao imprevisto, de modo que o
desenvolvimento de competência passa a ser compreendida como a capacidade de
os empresários abrirem-se às outras traduções, ao porvir das contingências, e
assim, transformar o seu ato performativo.
Este ato se realiza na relação com outros empresários, no acontecimento, por
meio de um processo de différance. Nessa perspectiva, o “interesse coletivo” da
competência societal é traçado pelo pensamento “cisterna”, o sujeito é rasurado e a
ilusão do controle (logocentrismo) é deslocada, dado que, apesar de se
reconhecerem as diversas traduções do trajeto, lida-se com a impossibilidade de
alcançar um consenso sobre os interesses dos diversos grupos envolvidos
(sociedade, empresas e governo). A análise das iniciativas PESE e YMT, e seus
impasses, oportuniza o desenvolvimento de uma competência que desloca a
competência societal e se assume como Competência Think Tanke.
Como explicado, essa Competência Think Tanke não se apresenta em
oposição à competência societal, mas como herdeira que reconhece a sua
responsabilidade diante destes impasses, de “responder ao que vem antes de si, e
diante de quem se está” (BERNARDO, 2001, p. 346). Nesta experiência, o agente
toma decisões e abre-se ao porvir das necessidades das gerações futuras, sendo
marcado pelo traço que permeia estas relações. Assim, as indecibilidades se
revelam por meio das lacunas no discurso e na atuação do WBCSD como Think
Tanke, como laço que, ao mesmo tempo, liga-se à herança da competência societal
e a desloca como competência a porvir, definida neste estudo como Competência
Think Tanke. Observa-se que não é possível classificar a Competência Think Tanke
como competência performativa nem como competência constatativa, sua atuação
se dá como pharmakon, como disseminação inventiva, com leituras a se realizar.
Por esses motivos, as experiências do PESE e do YMT, colaboraram para
desenvolver a Competência Think Tanke, mas não se pode afirmar que os jovens
executivos a adquiriram, como se fosse um conhecimento técnico. A Competência
Think Tanke, portanto, se constitui como um porvir, um “saber político”, como uma
experiência, em um jogo de desacordos, permeados por estruturas políticas e
institucionais (SISCAR, 2012, p. 104). Este “saber político” se revela de modo
diferente em cada evento, em cada decisão, em cada acontecimento durante o
percurso das iniciativas do WBCSD.
reconhece-se aporias, lacunas neste processo, principalmente no que tange à
efetividade e à concretude das ações de DCpS. Ainda que o BCSD Brasil, por
exemplo, realize iniciativas como o Agenda CEBDS – Por um País Sustentável, que
visa abrir o diálogo das empresas com o governo e a sociedade para criar um
ambiente regulatório que valorize as ações sustentáveis, o que se verifica é que a
sua atuação, por meio do PESE, promove competências que se inscrevem em uma
lógica que reproduz o pensamento “carro blindado”.
Isso ocorre, na medida em que se fortalecem conceitos e oposições que
dicotomizam o pensar e o agir, ao estabelecer condições para a acolhida dos
pensamentos divergentes. Ou seja, criam-se espaços para o diálogo com outros
atores (governo e comunidade local), mas, frequentemente, restringe-se àquelas
ideias, iniciativas e projetos que atendem aos interesses empresariais de curto prazo
e que não promovem cenários propícios ao DS. Isto é evidenciado no uso da
ferramenta de gestão dos ecossistemas ESR, na qual busca-se alinhar as ações dos
agentes à política de sustentabilidade das empresas. A impressão é que se
negligenciam, com esta postura, as traduções divergentes que ocorrem neste
percurso.
Todavia, apesar de a natureza das competências, estimuladas nesta iniciativa,
assumirem uma perspectiva funcional e pragmática, a concretude e a efetividade da
Competência Think Tanke é prejudicada, visto que não se reconhece a
complexidade da questão socioambiental, reduzindo-a ao cumprimento dos
requisitos para a geração de indicadores, como é o caso do Índice Dow Jones. Essa
ambiguidade na atuação do WBCSD, que concomitantemente favorece o DCpS
mais pragmáticas e dificulta a concretude da Competência Think Tanke, perpassa
todo o processo do desenvolvimento das ações educativas, além de afetar o
desenvolvimento de negócios e a relação dos conselhos empresariais (BCSDs) com
a sociedade.
9.3 Implicações práticas: a atuação do WBCSD como Think Tank que Desenvolve
No documento
DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS PARA A
(páginas 142-145)