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2. Metodologia

2.1. Os conceitos e a recolha de informação

Não recuando a períodos anteriores, a construção de estradas e caminhos sob o Império Romano obedeceu, em primeiro lugar, à ligação entre os grandes centros de poder, servindo estas vias para a circulação de militares, oficiais administrativos,

Evolução, Organização e Articulação. Porto: [s.n.], 2019. Dissertação de Mestrado em Estudos

Medievais, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto; ROCHA, Ana Rita - O Vale do Tua desde a formação da nacionalidade ao fim da Idade Média In. CARVALHO, Pedro C.; GOMES, Luís Filipe Coutinho; MARQUES, João Nuno (coord.) - Estudo Histórico e Etnológico do Vale do Tua (Concelhos

de Alijó, Carrazeda de Ansiães, Mirandela, Murça e Vila Flor). Vol. II. Porto: Fundação EDP/Edições

Afrontamento, 2017. ISBN: 978-972-36-1601-9. p.59-125; SILVA, Leonardo Manuel Cabral - Arquitetura

das estruturas de assistência no Norte de Portugal (século XII a XVI). Porto: [s.n.], 2017. Dissertação de

Mestrado em Arqueologia, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto; TEIXEIRA, Ricardo Jorge Teixeira - A Evolução do Povoado e Castelo de Monforte de Rio Livre na Idade Média. Porto: [s.n.], 2015. Dissertação de Mestrado em Arqueologia, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 2 vols. p.126-131; CASTRO, Ana Sampaio - O Mosteiro de Santa Maria de

Salzedas: Da fundação à extinção. Lamego: Vale do Varosa: Direção Regional de Cultura do Norte, 2014.

ISBN: 978-989-98708-2-6. p.8-19; BARCELOS, Hugo Nuno Aguiar - Os julgados de Lanhoso, São João de

Rei e Vieira em meados do século XIII. O testemunho das Inquirições de 1258. Lisboa: [s.n.], 2013.

Dissertação de Mestrado em História Medieval apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. p.36-40; CAMPOS, Maria Amélia Álvaro de - Marcos de referência e topónimos da cidade medieval portuguesa: o exemplo de Coimbra nos séculos XIV e XV In. Revista de

História da Sociedade e da Cultura. Coimbra: Centro de História da Sociedade e da Cultura da

correios e cobradores de impostos35. Para o território em estudo, o destaque vai para a

via XVII, que ligava Bracara Augusta (Braga) a Asturica Augusta (Astorga) por Aquae Flaviae (Chaves) (fig.4). Paralelamente, foi desenvolvida uma rede de estradas de âmbito regional que obedecia a objetivos socioeconómicos, interligando “a rede de cidades com as estruturas rurais, as explorações de minas e as termas medicinais, ligando-as aos rios navegáveis como o Douro e o Tâmega que atravessavam por ponte e por barco, prosseguindo encosta acima e, daqui, ao mundo globalizado de então, centrado no Mediterrâneo (…)”36.

Foi este o panorama que moldou a atividade humana no território transmontano ao longo dos séculos, cujas marcas, apesar da sua parca quantidade, são indeléveis, como é possível verificar através das Inquirições Gerais de 1258. Conta-se para tal, com as alusões feitas a estruturas mais antigas, como é o caso dos povoados fortificados, referidos como castrum, cidadela ou cividade, ou ainda a referência a edificados funerários, como anta e mamoa. As primeiras são um sinal claro do uso continuado de estruturas castrejas, como é o exemplo da paróquia de São Vicente de Cidadelhe37, com igreja localizada nas proximidades do castro de Cidadelhe,

sobranceiro à ribeira da Seromenha, num ponto estratégico que permitia controlar a ponte dos Martinhos, que se julga de fabrico romano, e que integrava a estrada que ligava Panóias à barca de Caldas de Moledo. Já as segundas, também foram utilizadas como pontos de referência relativamente aos limites de propriedade ou de espaços fronteiriços, como é o caso da anta que dividia o Reino de Portugal com o de Leão por Castro de Alcañices (Crasto de Latronis)38.

35 ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – Vias Medievais Entre Douro e Minho (…), p.17.

36 DIAS, Lino Tavares - Contributo para o reconhecimento de «Estratigrafia» na paisagem da bacia do Douro. O caso do território entre Marão, Montemuro, Sousa, Tâmega e Douro (…), p.184.

37 PMH: Inq., fasc. VIII, p.1200. – “Roy Martinz abade dessa igreja jurado jurado (sic) e preguntado se hi El Rei a algun dereito disse que nõ. Preguntado quen son ende padroes disse que netos de dõ Affonso Ermigit e abadana e ouviu dizer a omees que sabiã que a aldeya de Cidadelha foy regeẽga del Rei e ora an a netos de don A. Ermigit.”

38 PMH: Inq., fasc. VIII, p.1280 – “(…) Pena Roya fuit Domni Regis sicut diuidit com Legione per Antas qui stant ultra Crasto de Latronis ergo uillas de Malada (...)”. Acerca da manutenção do topónimo, veja-se FERREIRA, Manuela Barros - A situação actual da língua mirandesa e o problema da delimitação histórica dos dialectos asturo-leoneses em Portugal In. Revista de Filología Románica. Madrid: Universidad Complutense. ISSN: 0212-999X. Vol. 18, (2001), p.125.

Paralelamente, foi possível identificar outros topónimos viários, de origem romana, mas que são amplamente replicados na Idade Média. Palavras-chave como via e caminho, estradam e carrariam, são essenciais para a reconstrução da rede viária em Portugal, devido à sua ampla utilização nas fontes39. Todavia, existem diferenças

no emprego destes termos, não só no que toca às suas especificidades, mas também à sua proliferação. Entre estes, destaca-se o termo carreira, por onde passavam os carros de bois, às vezes utilizado com atributos, como carreira cova ou carreira velha, esta última em oposição a uma estrutura mais recente. Como termos semelhantes, aparecem-nos os termos carril e carril velho, bem como o de corredoura, termos igualmente utilizados para descrever caminhos calcetados, pelo menos em locais lamacentos40. Tomamos ainda como indicadores de via o termo encruzilhada, mas

também estruturas utilizadas para transpor cursos de água, nomeadamente ponte41 e

barca42.

No que diz respeito à toponímia, prestamos atenção a topónimos como chão, laje, entrada, porta, porto, portela, vale e veiga. Se os primeiros pressupõem a existência de pavimentação do terreno, os demais eram pontos de passagem, que possibilitavam a transposição dos acidentes geográficos43. Ao glossário construído por

Carlos Alberto Ferreira de Almeida, que inclui vocábulos relativos à assistência dos viandantes44, como albergaria, pousada, pousa, venda e mesão, associamos termos

ligados à passagem e pousada de pessoas e ao armazenamento de bens e mercadorias, nomeadamente banca, celeiro ou serviçaria, gafaria e parada, ou ao controlo do

39 ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – Vias Medievais Entre Douro e Minho (…), p.46.

40 ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – Vias Medievais Entre Douro e Minho (…), p.47. Atente-se à evolução do termo já no final da Idade Média, dada por Joaquim de Santa Rosa de Viterbo em VITERBO, Joaquim de Santa Rosa de - Elucidário das palavras, termos e frases que em Portugal antigamente se

usaram. Vol. I. Lisboa: Livraria Civilização, 1966. p.167.

41 Apesar do termo ponte ser o mais utilizado, refira-se a utilização de pontezelha (p.1251) e pontido (p.1374-1375), provavelmente referindo-se ao tamanho mais pequeno destas estruturas, bem como

arco (p.1295), que identificamos como sendo a ponte romana em Barrela de Jales (c. Vila Pouca de

Aguiar).

42 Existem ainda variações deste termo, barco, barqueiro e balsa. 43 FERREIRA PRIEGUE, Elisa - Los caminos medievales de Galicia (…), p.30.

espaço, com destaque para os castelos45.

Elementos importantes para a estruturação do território foram as igrejas e os mosteiros. Quantas às primeiras, daremos ênfase às dedicadas ao orago S. Tiago, Santo padroeiro dos peregrinos, bem como às igrejas e comendas da Ordem do

Hospital, no que toca ao seu papel na assistência e proteção dos viajantes. Quanto aos mosteiros, considerámo-los como elementos hierarquizadores do espaço.

Embora em quantidade reduzida, procuramos ainda o que entendemos como agentes e os seus possíveis percursos no território, fossem eles os monarcas e os seus oficiais, eclesiásticos, nobres, mercadores, peregrinos ou a “arraia miúda”.