• Nenhum resultado encontrado

torna os procedimentos mais precisos e eficazes e promove a redução do risco da ocorrência de erro humano (BALL;

CONSIDERAÇÕES FINAIS

3.2 SEGURANÇA DO PACIENTE: CONCEITOS, INDICADORES

3.2.1 Conceitos relacionados à segurança do paciente

Em 2009, a OMS publicou a International Classification for Patient Safety (Classificação Internacional para a Segurança do Paciente). Esta publicação representou o início de um processo contínuo de melhorar progressivamente a compreensão mundial acerca dos termos e conceitos comuns relevantes para o domínio da segurança do paciente (WHO, 2009).

Os termos/conceitos apresentados a seguir são mencionados e pesquisados na área da saúde e da Enfermagem com certa frequência. Considera-se necessário conceituá-los, uma vez que os mesmos possuem características diferenciadas e/ou complementares. Ao serem compreendidos pelos profissionais da saúde, nomeadamente pelos enfermeiros e sua equipe, os mesmos podem fortalecer a cultura de segurança nas instituições de saúde, bem como, contribuir para o aprimoramento do pensamento crítico e do julgamento clínico destes profissionais e ainda propiciar a qualidade, a eficácia e a eficiência do

cuidado de Enfermagem voltado para a segurança do paciente.

Ao estabelecer os termos/conceitos que abrangem tal temática, o primeiro que se destaca é o próprio conceito de segurança do paciente, procedido de evento adverso, evento adverso potencial, iatrogenia, erro, near miss e prática segura, pensamento crítico, raciocínio clínico e julgamento clínico.

A segurança do paciente, segundo International Classification for Patient Safety (ICPS) da OMS, refere-se à redução do risco de danos desnecessários associados com cuidados de saúde a um nível mínimo aceitável. Um mínimo aceitável engloba o conhecimento atual, recursos disponíveis e o contexto em que o cuidado foi prestado versus o risco de não tratamento ou outros tratamentos (WHO, 2009).

O Evento Adverso (EA) é entendido como o evento que resulta em dano físico ou psicológico não relacionado à evolução natural de uma doença base ou condições clínicas próprias do paciente. Ou seja, são injúrias não intencionais decorrentes da atenção à saúde que ocasionam lesões nos pacientes acometidos, prolongamento do tempo de internação e/ou morte. Neste sentido, pode-se afirmar que o EA durante o cuidado em saúde com o paciente, transgride importantes princípios técnico-científicos e éticos, podendo, inclusive, colocar em risco a vida do paciente (MURFF et al., 2003; LEMOS, 2007; MENDES et al., 2008; SILVA, 2009; PEDREIRA; HARADA, 2009). Na literatura encontra-se ainda o conceito de Evento Adverso Potencial, ou seja, este evento ocorre quando um erro que poderia ter resultado em um dano temporário ou permanente ao paciente, é felizmente detectado e corrigido antes da sua ocorrência (CASSIANI, 2006).

A iatrogenia é uma palavra de origem grega, sendo derivada de iatrós (médico) e gênesis (origem). Os eventos iatrogênicos estão associados à atuação médica desde os primórdios da história da saúde, porém, atualmente, seu significado refere-se a uma ação prejudicial dos profissionais de saúde durante a prestação do cuidado ou ainda, como o resultado indesejável relacionado à observação, monitorização ou intervenção terapêutica (PADILHA, 2002). Ou seja, devido aos eventos iatrogênicos constata-se que o cuidado em saúde prestada ao paciente não é tão seguro como deveria ser (BOHOMOL; RAMOS, 2007).

O erro faz referência ao processo, ou seja, é um evento que pode ser evitado pelos profissionais de saúde mediante a adoção de medidas preventivas; este se apresenta quando uma ação ou omissão desvia-se do processo normal, provocando como consequência um resultado adverso (CASSIANI, 2006; PEDREIRA; HARADA, 2009). Como e por que acontece o erro, seja na área da saúde ou em qualquer outra, possibilita

aos profissionais a realização de estudos relacionados à mente humana e seu aspecto cognitivo, bem como, estudos de análises das circunstâncias externas e fatores ambientais (BOHOMOL; RAMOS, 2007).

O evento erro encontra-se muito presente na área das medicações, especialmente na administração de medicamentos e, principalmente, na área da Emergência e Urgência (MENDES et al., 2008; CARVALHO et al., 2009). Os erros de medicação foram definidos pelo National Coordinating Council for Medication Error Reporting and Prevention (NCC-MERP), como qualquer evento evitável que pode causar ou conduzir ao uso inapropriado da medicação ou dano ao paciente enquanto a medicação está no controle do profissional de saúde, paciente ou consumidor. Estes eventos podem estar associados à prática profissional, produtos da saúde, aos procedimentos e sistemas, incluindo a prescrição, comunicação da prescrição, rótulo, embalagem e nomenclatura dos produtos, composição, dispensação, distribuição, administração, educação, monitorização e uso (RODRIGUES, 2004).

O termo near miss é utilizado na literatura internacional e refere- se ao erro sem dado, ou seja, são erros que ocorreram aos pacientes, mas que não o afetaram negativamente. O conceito de near miss, ou quase perda, foi desenvolvido inicialmente pela indústria aeronáutica para descrever os incidentes de aproximação indevida entre aeronaves nas operações de controle de tráfego aéreo, ou seja, refere-se a um quase choque de aeronaves durante o voo, mas que não ocorreu somente devido a um bom julgamento ou sorte. Na área militar, este termo está associado ao projétil balístico que erra por pouco o alvo (NASHEF, 2003).

O conceito de near miss foi introduzido na área dos estudos relacionados à morbidade materna, sendo utilizado na situação onde as mulheres que apresentam complicações potencialmente letais durante a gravidez, parto ou puerpério sobrevivem devido ao acaso ou ao cuidado hospitalar (FILIPPI et al., 2004). O conceito geral de near miss está estabelecido nesta área, entretanto observa-se que ainda há controvérsia sobre a sua operacionalização entre os pesquisadores, pois alguns adotam tal conceito referindo-se à ocorrência de disfunção orgânica materna, ou determinadas doenças como a eclâmpsia e outros como o grau de complexidade do cuidado necessário (FILIPPI et al., 2004; SOUZA et al., 2006).

Capucho (2011) ressalta que a necessidade de se revisar o termo near miss no Brasil. A autora aponta que a International Classification for Patient Safety da OMS traz nove definições para o termo e que, em suma, pode ser conceituado como um incidente que, por algum motivo,

planejado ou pelo acaso, foi interceptado antes de atingir o paciente e poderia ou não causar danos. Ou seja, o near miss deve ser entendido como potencial evento adverso e não como quase erro.

O conceito de prática segura refere-se a toda intervenção na estrutura ou no processo durante o cuidado à saúde e que promove a redução do risco do paciente sofrer um evento adverso (CASSIANI, 2006). Envolve a conscientização da responsabilidade no contexto técnico-científico associado à interação complexa entre o enfermeiro e o indivíduo a ser cuidado. Esta interação inclui a experiência de vida, a responsabilidade ética, moral e profissional do enfermeiro, respeitando- se os direitos legais, culturais e os valores do paciente a ser assistido (COIMBRA; CASSIANI, 2001).

O pensamento crítico é compreendido como um julgamento intencional, auto regulatório, que resulta da interpretação, análise, avaliação e inferência, bem como, a explicação de considerações de evidências, conceituais, metodológicas, de critérios ou contextuais (FACIONE, 1990). O pensamento crítico na Enfermagem é considerado um componente essencial da responsabilidade do enfermeiro e da qualidade do cuidado de Enfermagem, exigindo hábitos mentais como confiança, criatividade, flexibilidade, curiosidade, intuição, compreensão, perseverança, perspectiva de contexto, coerência intelectual e capacidade de reflexão (LUNNEY, 2004; ENDERS; BRITO; MONTEIRO, 2004). Bork (2005) destaca que o pensamento crítico não é um método que se aprende, mas sim um processo, uma orientação da mente que inclui tanto os domínios cognitivos como efetivos do raciocínio.

O raciocínio clínico pode ser definido como o processo de pensamento que guia a prática. Ou seja, designa “os processos mentais envolvidos no atendimento aos usuários dos sistemas de saúde” (CERULLO; CRUZ, 2010, p. 125). Ele se divide em raciocínio processual que significa o como fazer; raciocínio interativo que focaliza o paciente como pessoa e com suas perspectivas individuais; e o raciocínio condicional que envolve um processo multidimensional complexo de formas de pensar e que requer experiência. Estas três formas de raciocínio ocorrem integradas na prática e vão se desenvolvendo progressivamente à medida que se amplia o conhecimento e a experiência. Estas três formas ainda se combinam com o raciocínio narrativo que guia os demais e envolve as histórias criadas pelos profissionais que cuidam dos pacientes. Por fim, o raciocínio pragmático que envolve o ambiente, o suporte social do paciente, o conhecimento do profissional, suas habilidades e seus valores

(MENDEZ; NEUFELD, 2003).

Cerullo e Cruz apontam que “as decisões tomadas a partir de análises indutivas, dedutivas e intuitivas são também permeadas pela ética, de forma que o raciocínio clínico é fundamentalmente um processo interacional, contextualizado na prática do cuidado” (2010, p.126).

O julgamento clínico refere-se ao processo de análise e decisões complexas do estado da pessoa, família e sua situação contextual, que afetam as respostas dessa pessoa ou família, baseada nos dados e conhecimentos para interpretação (LUNNEY, 2004; BERGAMASCO et al., 2004). Entende-se, neste sentido, o Diagnóstico de Enfermagem como o julgamento clínico sobre as respostas do indivíduo, família ou comunidade, aos problemas e processos da vida vigentes ou potenciais. Estes Diagnósticos de Enfermagem proporcionam a base para indicar as metas e intervenções de enfermagem visando obter resultados esperados como responsabilidade do enfermeiro (ALFARO-LEFEVRE, 2005).