• Nenhum resultado encontrado

1. INTRODUÇÃO

2.3 ESTADO E GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL

2.4.1 Conceituação de Estado

A conceituação e definição de Estado depende da perspectiva contemplada.

Por exemplo, em contexto predominante socialista e influenciado por trabalhos como o “Colapso da Alemanha, o bolchevismo e a inquietude milenarista dos jovens”, Weber (1982, p.98) elaborou um conceito de Estado que se refere a “comunidade humana que, dentro de determinado território – este, o ‘território’, faz parte de suas características – reclama para si (com êxito) o monopólio da coação física legítima”.

A concepção racionalista e estruturalista de Weber propõe o Estado como base a vida comunitária, composta por elementos associativos entre indivíduos racionais, contratualismo entre Estado e indivíduos, e a prerrogativa de legislar o qual lhe confere a soberania.

No mesmo contexto de Weber, a filósofa Edith Stein (2005) na perspectiva fenomenológica e personalista, contrapõe e argumenta que é preciso considerar que nem todos as pessoas têm acesso a consciência racional. A filósofa em sua obra

“Uma Investigação sobre o Estado” propõe a estrutura estatal composta por três modos de vida associativa: massa, sociedade e comunidade. As massas são formadas por grupos de indivíduos que não possuem tomada consciente de posição, e não atingiram a racionalidade, por isso necessitam ser lideradas. As comunidades são constituídas por indivíduos livres, racionais e conscientes que apresentam tomada de posição consciente, uns em relação aos outros, se compreendem e se relacionam por meio de cooperação. Na visão da autora, as comunidades

representam a totalidade e a integralidade e são alicerces da sociedade, aspectos que diferenciam das massas, que se relacionam com “conexão de indivíduos que se comportam com uniformidade” (p. 259).

As ações sociais são baseadas em construção ou destruição fundamentadas em agressividade ou rivalidade. Contudo, estas ações não nascem do interior como na comunidade, mas sim de um mecanismo de entusiasmo proposto pelo líder.

Desse modo, a tomada de posição dos indivíduos das massas não pode ser considerada livre, consciente e racional. É reativa, e o contágio entusiástico ocorre por meio psíquico. Ainda, no contexto do tecido social, a filósofa argumenta que a soberania do Estado se fundamenta também no direito à liberdade individual e na proteção dos seres humanos. Dessa maneira, a coerção estatal se fundamentaria na constituição de outro poder, colocando o Estado em situação submissa e sem soberania.

Já o arcabouço teórico de Buchanan concebe o Estado como um servo de seu povo, mas não descarta nesta relação a ocorrência de hipótese contrária. A partir disso, explica o Estado por meio da ação coletiva, ou seja, “um conjunto complexo de grupos e atores individuais: políticos, burocratas, eleitores e interesses organizados” (Lemieux, 2015, p. 24). Esta abordagem contempla uma visão ampliada sobre a relação entre os interesses do Estado e dos indivíduos. Interesses, por vezes, conflitantes que pressupõe objetivos e propósitos diferentes para o resultado da ação coletiva. Nesse sentido, a teoria busca descrever “os meios pelos quais os interesses conflitantes são reconciliados” (Buchanan, 2011, p. 13). Essa premissa se fundamenta na relação econômica de comércio e de troca - lobbies- entre indivíduos e Estado, que é explicada por elementos centrais do comportamento individual incorporados na metodologia de análise.

Estas concepções tanto a racionalista quanto a fenomenológica, em essência, levam ao espectro do Estado constituído por pessoas humanas. Mas ainda se diferenciam. Em complemento, para o jurista Hely Lopes Meirelles (2015) há três perspectivas para a definição: a sociológica, política ou constitucional.

Respectivamente, se referem a “corporação territorial dotada de um poder de mando originário”; “comunidade de homens, fixada sobre um território, com potestade superior de ação de mando de coerção”; “pessoa jurídica, territorial soberana e

“pessoa jurídica de Direito Público Interno Privado” (p. 59). Já para Kohama (2016, p.33) “O Estado é a organização política do poder”. Nestas concepções, é possível

perceber a influência weberiana na forma de estruturação e atuação estatal com a sociedade.

No que se refere a estrutura do Estado no Brasil, a influência racionalista e burocrática de Weber, constituiu os elementos indissociáveis: povo, território e Governo soberano que exerce o poder absoluto proveniente do povo. Para a preocupação com possível abusos e tiranias do poder sobre a população, foi instituída a Separação Tripartite, que divide o Estado em três poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Essa teoria teve início nos estudos de Aristóteles e foi aperfeiçoada por Montesquieu. Para ele "power should be a check to power" ([1748]

1914, livro XI, cap. 4). Pela tese contratualista, para cada poder foi constituída estrutura de administração pública com o intuito de prestar serviços públicos aos cidadãos os quais são regulamentados por legislações específicas e executadas por agentes públicos. (Bastos, 2002; Bandeira de Mello, 2006; Meirelles, 2015).

Nesta visão, Justen Filho (2010) explica que, há duas formas de administrar:

Governo e Administração Pública. O governo, é o complexo dos poderes e órgãos constitucionais e o condutor político dos negócios públicos. Desse modo, atua em duas dimensões, na soberania e nas funções originárias (Justen Filho, 2010). Já a segunda, conforme Di Pietro (2007, p.52) é “[...] o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas, aos quais a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado”. Na visão de Meirelles (2015, p. 63) o conceito se distingue. Em sentido formal “conjunto de órgãos instituídos para consecução dos objetivos do Governo”. Esta atuação está atrelada ao exercício político. Para Secchi (2010), o sentido “político” se refere a captação e manutenção dos recursos necessários para exercer o poder sobre o homem. E em sentido material, “é o conjunto de funções necessárias aos serviços públicos em geral”.

A função administrativa, segundo Justen Filho (2010, p.143) se expressa no desenvolvimento dinâmico e ordenado de um conjunto de atividades, e para tanto, requer uma estrutura organizada e permanente de bens e indivíduos. Em complemento, Kohama (2016, p. 31) define a administração pública como “todo o aparelhamento do Estado, preordenado à realização de seus serviços, visando a satisfação das necessidades coletivas”. Sendo assim, o benefício da coletividade se traduz em atendimento do interesse público. Toda esta estrutura e organização das atividades públicas, as quais são regulamentadas por atos legais do poder público, foram modeladas em processos rígidos como forma de controle, os quais receberam

influência burocrática. No entanto, ao longo do tempo, esses processos se tornaram obstáculos para uma gestão bem-sucedida, acarretando em uma crise nos serviços públicos, em especial na segurança pública que será explanada na próxima seção.