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2.2 Qualidade de vida e saúde no trabalho

2.2.1 Conceituando qualidade de vida

Para Minayo, Hartz e Buss (2000) a qualidade de vida é uma noção polissêmica que tem relação com o grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social, ambiental e estética existencial. O termo contém muitos significados, que espelham conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e coletividades que a ele se referem em várias épocas, espaços e diferentes histórias, sendo, portanto uma construção social com a presença da relatividade cultural. A relatividade da noção, que remete ao plano individual, tem pelos menos três fóruns de referência:

histórico, pois em determinado tempo uma dada sociedade tem um parâmetro de qualidade de vida diferente da mesma sociedade em outra época histórica;

cultural, já que os valores e necessidades são construídos e organizados hierarquicamente de forma diferente pelos povos, demonstrando suas tradições;

estratificações ou classes sociais, pois a ideia de qualidade de vida está ligada ao bem-estar das camadas superiores e à passagem de um patamar a outro.

A noção de qualidade de vida de um lado está relacionada ao modo, condições e estilos de vida, de outro inclui as ideias de desenvolvimento sustentável e ecologia humana. A partir de 1970 essa perspectiva passa a questionar as condições reais e universais de manutenção de um padrão de qualidade de vida baseado no consumismo e na exploração da natureza que, despreza a situação das futuras gerações e desconhece a interdependência de toda a biosfera da terra. E por fim, relaciona-se ao campo da democracia, do desenvolvimento e dos direitos humanos e sociais (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000).

Observa-se também que a qualidade de vida contém nos seus significados, “[...] valores não materiais, como amor, liberdade, solidariedade e inserção social, realização pessoal e felicidade” (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000, pág. 9). Ela é uma representação social, pois possui elementos de subjetividades e de assimilação cultural, porém, também apresenta alguns parâmetros materiais na construção desta noção que a tornam passível de apreciação universal. O limiar material mínimo e universal para se discutir qualidade de vida diz respeito à satisfação das necessidades fundamentais da vida humana como: alimentação, acesso à água potável, habitação, trabalho, educação, saúde e lazer, que tem como referências noções relativas de conforto, bem-estar e realização individual e coletiva. É possível dizer que o desemprego, a exclusão social e a violência são para o mundo ocidental atual a negação da qualidade de vida.

Minayo; Hartz e Buss (2000) concluem que o tema qualidade de vida é tratado sob os mais diversos olhares: da ciência, assim como do senso comum, do ponto de vista objetivo e subjetivo e em abordagens individuais e coletivas. Na área da saúde, quando percebido no sentido ampliado, o tema se apoia no entendimento das necessidades humanas elementares, materiais e espirituais e tem no conceito de “promoção da saúde” seu foco mais importante. Quando vista de forma mais centralizada, “qualidade de vida em saúde” coloca seu foco [...] “na capacidade de viver sem doenças ou de superar as dificuldades dos estados ou condições de morbidade” (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000, pág. 15)

No campo da saúde, o discurso da relação entre saúde e qualidade de vida existe desde o século XVIII com o nascimento da medicina social, todavia o termo de referência não era “qualidade de vida”, mas sim “condições de vida” (MINAYO, HARTZ; BUSS, 2000). Há indícios de que o termo “qualidade de vida” surgiu pela primeira vez na literatura médica, na década de 30, mas uma definição clássica do conceito, do tipo global, só aparece a partir da década de 70. “Qualidade de vida” é a extensão em que prazer e satisfação têm sido alcançados. A noção de que qualidade de vida envolve diferentes dimensões configura-se a partir dos anos 80, acompanhada de estudos empíricos para melhor compreensão do fenômeno. Na última década a tendência foi de usar definições focalizadas e combinadas, favorecendo o avanço do conceito em bases científicas (SEIDL; ZANNON, 2004).

Para Seidl e Zannon (2004), o conceito de “qualidade de vida” é utilizado em duas vertentes: a) na linguagem cotidiana, por pessoas da população em geral, jornalistas, políticos, profissionais de diversas áreas e gestores ligados às políticas públicas; b) no contexto da pesquisa científica, em diferentes campos do saber, como economia, sociologia, educação, medicina, enfermagem, psicologia e demais especialidades da saúde. Duas tendências quanto à conceituação do termo na área de saúde são identificadas: qualidade de vida como conceito mais genérico e qualidade de vida relacionada à saúde. No primeiro caso, a qualidade de vida apresenta uma abordagem mais ampla, influenciada pelos estudos sociológicos. Ilustra essa conceituação a que foi adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS): “a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas,

padrões e preocupações”. Já os conceitos de qualidade de vida relacionados à saúde têm sido utilizados com objetivos semelhantes à conceituação mais geral, no entanto, implicam aspectos mais diretamente ligados às enfermidades ou às intervenções em saúde (SEIDL; ZANNON, 2004).

O conceito de qualidade de vida adotado pela OMS aborda quatro grandes dimensões ou fatores (SEIDL; ZANNON, 2004):

a) física: percepção do indivíduo sobre sua condição física;

b) psicológica: percepção do indivíduo sobre sua condição afetiva e cognitiva; c) do relacionamento social: percepção do indivíduo sobre os relacionamentos

sociais e os papéis sociais adotados na vida;

d) do ambiente: percepção do indivíduo sobre aspectos diversos relacionados ao ambiente onde vive.

Portanto, pode-se dizer que o tema qualidade de vida está relacionado ao padrão que a própria sociedade determina e se movimenta para conquistar, consciente ou inconscientemente, e ao conjunto das políticas públicas e sociais que produzem e direcionam o desenvolvimento humano, as mudanças positivas no modo, nas condições e estilos de vida, competindo parcela relevante da formulação e das responsabilidades ao setor saúde (MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000).