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QUADRO 9 COMPARATIVO ENTRE OS BENEFICIOS DOS FUNCIONARIOS EFETIVOS X TERCEIRIZADOS

4.6 O relacionamento, a comunicação e a integração social

Segundo os trabalhadores entrevistados, o tratamento e o relacionamento entre supervisores e subordinados variam muito entre as empresas. Para um dirigente do sindicato da categoria, a discriminação é antiga e acontece desde 1982. A empresa tomadora de serviços exige que o serviço seja realizado dentro do prazo estipulado, e não estimula a supervisão mais democrática e próxima aos trabalhadores. Na atualidade, muitos ex-gerentes aposentados das empresas contratantes trabalham nas empresas contratadas, facilitando a manutenção da cultura da companhia tomadora de serviços.

Muitas vezes, a separação entre efetivos e terceirizados acontece naturalmente, os próprios trabalhadores se separam. O tratamento é diferenciado até na hora de saída dos turnos, conforme afirma um dirigente do sindicato: ”não tem esses detectores de metais? Eles passam no trabalhador e abrem as bolsas. Noventa e cinco por cento das vezes são contratados; da empresa contratante, só quando tem denúncia. Tem trabalhador que já tomou geral como bandido”. Para um trabalhador entrevistado a empresa contratante revista os trabalhadores contratados porque “na parada de usina vem gente de outros lugares e arrombam os armários, roubam celulares...”.

A discriminação existe [...] não adianta dizer que não existe, só que é o seguinte: isso vai de setor, e de cabeças. No porto era um grupo, o pessoal era unido. Há uma distinção de restaurante, mas eu não sou contra, mas o pessoal acha ruim, porque a gente não pode comer? Por exemplo, eu tomo banho e pego o ônibus e vou para a portaria almoçar, mas tem pessoas que vão todas sujas de graxa e se senta com o pessoal que precisa trabalhar limpinho.

Mas para um dirigente do sindicato da categoria, os próprios funcionários das empresas contratadas muitas vezes discriminam os empregados terceirizados e demarcam seus territórios. Ele fez o seguinte comentário: “já vi gerente dizer que ia almoçar na frente do contratado, porque ele era da empresa contratante. O rapaz chorou na fila, a diferença não acaba...”

Os trabalhadores terceirizados recebem ordens diretamente da empresa contratante e também da empresa contratada. A pressão para fazer o serviço no prazo e com os recursos disponíveis acontece rotineiramente, como declara um trabalhador terceirizado:

Quando eu entrei, trabalhei seis meses no turno de 07h as 17horas. Tinha gente proativa [...] mas também tinha gente que se submetia a determinado tipo de pressão e fazia o que eles mandavam. Tinha gente lá que vivia babando ovo, eu ficava olhando, porque eu não faço não. Teve gente que foi fazer um serviço, isso foi na época que eu era mecânico, e ele disse que não dava para fazer. O supervisor falou “dá sim” e pegou o equipamento e entrou para fazer o serviço [...] não ficou nem dois minutos e voltou [...] Tinha supervisor da Vale que chegava com educação, chamava para tomar um cafezinho, mas tinha outras pessoas que nem olhavam para mim e eu dizia que eles deveriam conversar com o meu supervisor.

E continua comentando sobre a dificuldade de relacionamento com os funcionários da empresa contratante: ”fomos pegar ferramentas na Vale e o pessoal disse que nós não poderíamos, porque a empresa contratada deveria fornecer o material e o equipamento. Mas faltavam equipamento e material direto. Teve uma vez que faltou rolamento e a gente lavou os velhos”.

A liberdade de expressão dos trabalhadores terceirizados também é muito limitada como comenta outro trabalhador entrevistado: “a autonomia existe no papel. Vamos supor que alguém queira falar que a administração não está boa, vai ficar mal visto. Ninguém está aqui para prejudicar ninguém, mas na hora que mandar uma turma embora, esse é o primeiro que vai para a rua”. Outro trabalhador também fala sobre

a possibilidade de expressão: “você no individual pode se manifestar, mas se junta todo mundo eles chamam de bagunça”.

E complementa a fala expressando seus sentimentos em relação ao tratamento recebido pelos supervisores da empresa contratante e contratada:

Para mim a terceirização tinha que acabar porque querendo ou não sempre haverá desigualdades. Reunião não é junto. Porque eles fazem a reunião na Vale e a gente não fica sabendo de nada, e aí a gente é mandando embora do nada. A gente não sabe se eles já estavam planejando [...] foi de um dia para outro. O supervisor sabia, mas não avisou, podia chegar e dizer, porque você poderia fazer um currículo.

Percebemos que a separação dos empregados entre efetivos e terceirizados não acontece apenas pelos uniformes de cores diferentes, restaurantes separados ou vestiários distintos; a segregação acontece principalmente na mente, no coração e no espírito dos trabalhadores. A terceirização mina aos poucos a sua autoestima e cria uma massa de trabalhadores resignados, sem consciência política, que vagam de emprego em emprego e que aceitam que seu destino é trabalhar hoje aqui, amanha acolá, sem grandes mudanças. Essa sistemática fortalece os poderes das grandes empresas que passam a reduzir seus custos sem se importarem com a qualidade de vida daqueles que prestam serviços diários a ela, já que não enfrentam resistência por parte dos trabalhadores sujeitos ao processo de terceirização.

Minayo (2004) observa que o modelo de organização produtiva não favorece a sindicalização e as práticas de negociação, dificultando o desenvolvimento, a organização independente e autônoma nos locais de trabalho. Alves (2006) comenta que com a mundialização do capital, os sindicatos fragmentaram-se e passaram a privilegiar as negociações coletivas individuais e por empresas. O sindicalismo brasileiro da década de 2000 é carente de utopia social capaz de mobilizar lideranças de base e desenvolver a consciência de classe. Os sintomas deste posicionamento são “a sua identificação com o ideário da empresa; em busca do desempenho corporativo e da mera adaptação à ordem do capital, descartando o lastro utópico e político do sindicalismo” (ALVES, 2006, PAG. 470).