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2 TRANSFERÊCIA DE TECNOLOGIA UNIVERSIDADE EMPRESA

3.1 Conceituando Spin-offs

As spin-offs acadêmicas, numa primeira análise, podem ser compreendidas como empresas juridicamente constituídas que tiveram como principal fator de criação o aproveitamento de uma oportunidade de negócios gerada pelos resultados finais ou parciais de uma pesquisa realizada na universidade. As spin-offs também podem surgir de empresas privadas já constituídas, são conhecidas como

corporate spin-offs, mas não é esse tipo específico que será tratado neste estudo.

Diferentes autores e entidades internacionais definem spin-offs de formas mais restritas ou abrangentes, como será apresentado a seguir.

É importante ressaltar que toda spin-off é uma empresa recém formada, ou seja, uma start-up, porém nem toda start-up é uma spin-off. Como será apresentado detalhadamente nesta seção, as spin-offs são um tipo específico de empresa nascente.

A OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (2000) define as spin-offs como sendo: firmas criadas por pesquisadores do setor público (pessoal do staff, professores ou pós-graduandos); empresas emergentes que dispõem de licenças de tecnologias geradas no setor público; empresas emergentes sustentadas por uma participação direta de fundos públicos, ou que foram criadas a partir de instituições públicas de pesquisa.

CARAYANNIS et al. (1998) chamam a atenção para uma definição mais detalhada de spin-offs universitárias, Quadro 3.1, ampliando ainda mais o escopo e a importância desse processo. As spin-offs, na definição ampliada, reúnem um número bem maior de empresas e conseqüentemente de caminhos para a transferência de inovações para o mercado.

QUADRO 3.1 - Definições simples e complexa de Spin-offs.

Definição Simples Definição Complexa

ƒ Fundador e/ou empregado chave da spin- off veio transferido da organização fonte (parent organization).

ƒ A tecnologia principal (core technology) foi transferida da organização fonte.

ƒ O fundador da spin-off é empregado da organização fonte, mas a tecnologia não foi transferida dela.

ƒ A tecnologia principal foi transferida da organização fonte, mas o fundador não era empregado dela.

ƒ O fundador da spin-off criou a tecnologia principal, mas não durante o tempo que foi empregado da organização fonte.

ƒ O fundador da spin-off não foi empregado da organização fonte, nem a tecnologia principal foi transferida dela, mas a spin- off usa certos recursos da empresa fonte. ƒ A tecnologia principal e o(s) fundador(es)

da spin-off vieram da organização fonte, mas continuam trabalhando para ela.

Fonte: adaptado de CARAYANNIS et ali (1998).

Na Alemanha, o centro europeu de pesquisas econômicas, ZEW (2002), utiliza uma forma de classificação de transferência de tecnologia através da criação de empresas que diferencia spin-offs de start-ups acadêmicas. Segundo a entidade esta diferenciação é necessária para um melhor direcionamento dos esforços de fomento e desenvolvimento promovido pelo Estado.

Segundo a definição do ZEW (2002), as spin-offs são empresas cujos novos conhecimentos ou competências específicas de instituições públicas de pesquisa são indispensáveis para sua formação e se dividem em dois tipos:

ƒ Transfer spin-offs: pelo menos um dos fundadores envolveu-se na produção dos novos resultados da pesquisa ou método científico que foi indispensável para a criação da empresa

ƒ Competence spin-offs: uma habilidade especial de pelo menos um dos fundadores foi adquirida na instituição científica e foi indispensável para a criação da empresa.

Já as academic start-ups são todas as empresas fundadas por pessoas com nível superior, exceto as spin-offs (definidas acima) e também se dividem em dois tipos:

ƒ Start-ups with transfer effects: são formadas por acadêmicos que produziram novos resultados de pesquisa que são importantes para empresa, mas não indispensáveis.

ƒ Start-ups without transfer effects: são formadas por acadêmicos, porém a empresa não utiliza nenhum novo resultado de pesquisa. O estudo ainda reforça que nas spin-offs os elos com a ciência - resultados concretos de pesquisa ou novos processos - são os veículos para a sua formação e permanecem fortes mesmo após a expansão comercial e autonomia da empresa, o que não ocorre tão intensamente nas start-ups acadêmicas, que tendem a se distanciar mais rapidamente da instituição de origem. Maiores detalhes da pesquisa sobre spin-offs na Alemanha serão apresentados mais à frente.

PIRNAY, SURLEMONT & NLEMVO (2003) realizaram um detalhado estudo sobre as diferentes definições para o termo spin-off encontradas na literatura. Um dos resultados do estudo é um quadro cronológico e comparativo das diversas definições de spin-offs, Quadro 3.2.

Os empreendedores por trás das spin-offs tendem a ser na sua maioria professores, pesquisadores, alunos de graduação e de pós-graduação envolvidos em pesquisas que geram resultados com potencial mercadológico (AUTM; 2002 e SAXENIAN; 1994).

Segundo TORKOMIAN & PLONSKI (1998) o que leva os pesquisadores à criação das spin-offs são basicamente dois fatores: expectativa de ganhos financeiros e avaliação de que essa seja a única forma de colocar no mercado uma tecnologia gerada, exatamente pela dificuldade de transferência pelos canais tradicionais da universidade.

QUADRO 3.2 - Algumas Definições Existentes de Spin-offs.

Autores Ano Definições

McQueen, D. H.

Wallmark, J. T. 1982

“... para ser classificada como uma spin-off universitária, três critérios deverão ser considerados: (1) O fundador ou os fundadores da empresa deverão ser oriundos de uma universidade (docente, staff ou aluno); (2) A atividade da empresa deve ser baseada em idéias técnicas geradas no ambiente da universidade, e (3) a transferência da universidade para a empresa deve ser direta, não por meio de um agente intermediário externo .”

Smilor, R. W. Gibson, D. V. Dietrich, G. B.

1990 “... uma empresa que é fundada (1) por um membro da universidade, docente, staff ou aluno, que deixou sua posição para iniciar uma empresa ou a iniciou enquanto ainda estava afiliado à ela; e/ou (2) com uma tecnologia ou uma idéia tecnológica- base desenvolvida no interior da universidade.”

Weatherston, J. 1995 “. . . uma spin-off acadêmica pode ser descrita como um negócio que é iniciado, ou se torna comercialmente ativo, com o empreendedor acadêmico exercendo um papel-chave em qualquer ou em todas as fases: planejamento, operação inicial, ou subseqüente gerenciamento.”

Carayannis, E. Rogers, E. Kurihara, K. Allbritton, M.

1998 “… uma nova empresa formada por indivíduos que são ex-empregados de uma organização fonte (a universidade), cuja tecnologia central que foi originada na organização fonte e transferida para a nova empresa.”

Bellini, E., et al. 1999 “. . . spin-offs acadêmicas são empresas fundadas por professores universitários, pesquisadores, ou estudantes e graduados com a finalidade de explorar comercialmente os resultados da pesquisa na qual eles possam estar envolvidos na universidade. . . a exploração comercial do conhecimento científico e tecnológico é realizado por cientistas universitários (professores e pesquisadores), estudantes e graduados.”

O’Gorman, C.

Jones-Evans, D. 1999

“. . . a formação de uma nova empresa ou organização para explorar os resultados da pesquisa universitária.”

Rappert, B. Webster, A. Charles, D.

1999 “Spin-offs universitárias são empresas cujos produtos ou serviços foram desenvolvidos baseados em idéias tecnológicas ou conhecimento científico/técnico gerados na universidade por um docente, staff ou aluno que fundou (ou co-fundou) a empresa.”

Clarysse, B. Heirman, A. Degroof, J. J.

2000 “. . . spin-offs de pesquisa-base são definidas como novas empresas instaladas por um instituto hospedeiro (universidade, escola técnica, departamento de P&D privado/público) para transferir e comercializar invenções resultantes de esforços de pesquisa e desenvolvimento dos departamentos.”

Klofsten, M.

Jones-Evans, D. 2000

“. . . formação de uma nova empresa ou organização para explorar os resultados de pesquisa universitária.”

Steffensen, M. Rogers, E. Speakman, K.

2000 “Uma spin-off é uma nova empresa que é formada (1) por indivíduos que são ex-empregados de uma organização fonte, e (2) a tecnologia central que é transferida da organização fonte.”

As spin-offs acadêmicas podem surgir em qualquer momento do processo de inovação, mesmo quando ainda está sendo desenvolvida a pesquisa básica, porém a maior parte delas surge quando já é possível visualizar uma aplicação mercadológica, a identificação de uma demanda ou problema a ser solucionado pela tecnologia em desenvolvimento (NDONZUAU; 2002).

Geralmente as spin-offs localizam-se perto da organização de origem, e os benefícios econômicos das spin-offs são aproveitados localmente. Em contraste, a transferência de tecnologia da universidade para grandes empresas geralmente significa que os benefícios criados serão passados para regiões distantes. Desta maneira as spin-

offs geram impactos regionais positivos: criação de empregos e riqueza passível de

impostos na comunidade local (PÉREZ & SÁNCHEZ; 2003).