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CAPÍTULO 6 ANÁLISE DOS MOVIMENTOS DE SENTIDOS: DIFERENTES

6.2 ANÁLISE DOS MOVIMENTOS DE SENTIDOS NOS DADOS PRODUZIDOS COM A

6.2.1 Concepção de Currículo na perspectiva dos professores

Para iniciar a discussão referente à pergunta, “Como você explica o que é Currículo”?, optou-se por desenvolver uma “nuvem” de palavras com as respostas (Figura 24). A elaboração aconteceu com um programa informático com licença aberta. Tal recurso foi aplicado na perspectiva de salientar as palavras recorrentes, conhecimento e conceitos.

Figura 24 – Nuvem de palavras para concepção de currículo

Fonte: SIQUEIRA, 2020.

Evidencia-se, na figura gráfica, as palavras listadas em frequência na ordem maior para menor incidência nos discursos: currículo (7), curso (3), conteúdos (2), disciplina (2), escola (2), integrar (2), processos (2), projeto (2), saberes (2), as demais palavras aparecem uma única vez. Esse procedimento metodológico aponta para articulação do que é recorrente nos discursos dos interlocutores. Potencializa a AMS como técnica de análise dos dados, de modo que os sentidos mobilizem a compreensão, e a produção de sentidos pode e deve ser (re)construída, assim como, pode ser (re)elaborada a compreensão. Partindo desta concepção, o “discurso é materialidade, é produção de sentidos entre sujeitos que, ao produzi-los, constituem seu mundo, reafirmam ou rearticulam crenças, dão sentido ao seu trabalho e à pertença social” (FERREIRA, 2020, p. 11).

Adentra-se nas percepções e reflexões inseridas nos discursos produzidos como resultantes da pesquisa, relacionados ao currículo. Em síntese, as respostas remetem a perspectivas conceituais de currículo. Para P1,

//Currículo é a distribuição de conteúdos em disciplinas para a formação e

compreensão do estudante durante sua trajetória acadêmica// (P1).

Para Lopes e Macedo (2002, p. 81), “[...] as diferentes lógicas de organização que estruturam os tempos e espaços escolares ao longo dos anos sempre estiveram submetidas ao currículo disciplinar, na medida em que as disciplinas funcionam como instrumento de organização e controle da escolarização”. Nesse contexto, P2 considera que,

//Currículo é composto por saberes, disciplinas, ritos, projetos, movimentos, processos e estruturas que são mobilizadas em dados momentos ou períodos incluindo-se as culturas diferentes que convergem para o ambiente escolar, em nome dos processos formativos dos atores escolares//(P2).

A análise deste discurso remeteu a considerar que:

Em sentido lato, o currículo corresponde ao conjunto de conteúdos (conhecimentos vários, valores, técnicas, etc.) que suportam as aprendizagens que os membros de uma sociedade devem fazer, pois eles foram considerados fundamentais por essa sociedade e garantem a sua sobrevivência enquanto entidade coletiva (MOGARRO, 2018, p. 279).

Moreira e Candau (2007, p. 18) esclarecem que, “a palavra currículo tem sido também aplicada para indicar efeitos alcançados na escola, que não estão explicitados nos planos e nas propostas, não sendo sempre, por isso, claramente percebidos pela comunidade escolar”.

//Currículo é um conjunto de saberes que são desenvolvidos em um determinado curso. Eles podem estar definidos em um plano de curso ou nas práticas de uma determinada instituição// (P4).

De maneira mais ampliada, para Moreira e Candau (2007, p. 17), no que se refere ao entendimento de currículo, expresso documento Indagações sobre currículo: currículo, conhecimento e cultura do Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica,

(a) os conteúdos a serem ensinados e aprendidos; (b) as experiências de aprendizagem escolares a serem vividas pelos alunos; (c) os planos pedagógicos elaborados por professores, escolas e sistemas educacionais; (d) os objetivos a serem alcançados por meio do processo de ensino; (e) os processos de avaliação que terminam por influir nos conteúdos e nos procedimentos selecionados nos diferentes graus da escolarização (MOREIRA; CANDAU, 2007, p. 18).

Nesse sentido, essas dimensões estão presentes dentro da perspectiva de currículo, evidenciando um par dialético “certo ou errado”, para prescrever a percepção dos professores no contexto sala de aula. Levadas em conta essas dimensões, entende-se currículo “como as experiências escolares que se desdobram em torno do conhecimento, em meio a relações sociais, e que contribuem para a construção das identidades de nossos/as estudantes” (Idem, p. 18). Em contrapartida, sabe-se que na realidade, é diferente: “O currículo está aí com sua rigidez, se impondo sobre nossa criatividade. Os conteúdos, as avaliações, o ordenamento dos conhecimentos em disciplinas, níveis, [...]” (ARROYO, 2013, p. 34).

//Currículo é tudo aquilo que acontece na escola, na sala de aula, enfim, no cotidiano escolar, que vai organizar, nortear e colocar em prática o projeto de escola que se tem//(P3).

A escola é um dos espaços onde os estudantes passam a maior parte de sua vida, um lugar de privilégio para muitos, diante de um contexto social desigual,

[...] a construção do conhecimento escolar, sendo necessário aprofundar os fatores que o influenciam e as formas como ele se vai consolidando – esta maior compreensão implica uma agenda de investigação sobre a escola e a sala de aula, o currículo e os professores, o seu desenvolvimento profissional e as suas práticas, mas, principalmente, sobre os alunos e o seu trabalho escolar (MOGARRO, 2018, p. 279).

Partindo dessa ideia, P5 expressou a importância do currículo frente ao contexto local, regional da Instituição, como parte do coletivo social, capaz de agir e interagir para transformação.

P5 //Currículo deveria operar junto às demandas de determinada comunidade, aquilo que confere identidade, realização, prosperidade, crescimento para essa região, o que muitas vezes não ocorre//(P5).

Em consonância com Silva (2019), já citado antes: “aquilo que confere identidade”, porque “[...] além de uma questão de conhecimento, o currículo também é uma questão de identidade” (SILVA, 2019, p. 15).

//Currículo é um projeto, um programa que consta os objetivos gerais e específicos do curso com o intuito de formar um técnico com condições necessárias para atender a necessidade das equipes// (P6).

A noção de currículo como um instrumento de organização de disciplinas e conteúdos ainda é hegemonicamente enraizada no contexto educacional, talvez pelas características conceituais atribuídas no decorrer do tempo. Estas evidências, disciplinas, conteúdos

considerados como sinônimo de currículo, presentes e recorrentes nos discursos não raras vezes aparecem nos discursos dos professores, como se pode perceber na fala de P7,

//Currículo engloba os conteúdos a serem trabalhados e a forma como são administrados, isto é, de maneira isolada, por disciplina, ou integrada// (P7). Neste contexto, “Uma disciplina do conhecimento oferece uma lente através da qual observamos o mundo – um conjunto especializado de técnicas ou de processos pelos quais interpretamos ou explicamos diversos fenômenos” (BEANE, 2002, p. 48). Por sua vez, as disciplinas são importantes para o currículo, quando desenvolvidas em conjunto e/ou de maneira articulada, potencializam o conhecimento produzido, fazendo com que o estudante consiga fazer relações entre textos e contextos, ampliando a percepção de mundo, suas vivências e, de fato assumido o protagonismo como sujeito social.

O currículo integrado nos cursos técnicos na modalidade integrado está para além de acrescer disciplinas da área técnica ao Ensino Médio. Pressupõe coadunar conhecimentos disciplinares fragmentados, de maneira contextualizada com as diferentes áreas do conhecimento e também com o contexto social, político e econômico, porque estes fatores influenciam diretamente na Educação. Deste modo,

Em toda disputa por conhecimentos estão em jogo disputas por projetos de sociedade. Deve-se questionar os conhecimentos tidos como necessários, inevitáveis, sagrados, confrontando-os com outras opções por outros mundos mais justos e igualitários, mais humanos, menos segregadores dos coletivos que chegam às escolas públicas, sobretudo (Arroyo, 2013, p. 38).

A partir do relato de P8, ganha evidência a perspectiva de currículo na formação integrada do estudante, em que a,

//Formação integrada do aluno é formal e pessoal//(P8).

Quanto à concepção de integração curricular, observa-se que a concepção de integração é divergente da proposta de integração curricular fundamentada no Projeto Pedagógico do Curso (PPC) do Curso Técnico em Agropecuária Integrado.

A concepção do currículo do curso Técnico em Agropecuária Integrado tem como premissa a articulação entre a formação acadêmica e o mundo do trabalho, possibilitando a articulação entre os conhecimentos construídos nas diferentes disciplinas do curso com a prática real de trabalho, propiciando a flexibilização curricular e a ampliação do diálogo entre as diferentes áreas de formação (PPC, 2014, p. 22).

Então, evidencia-se um distanciamento e/ou esvaziamento de sentidos entre as respostas, considerando que as perguntas foram formuladas para o mesmo contexto. Em suma, as marcas discursivas presentes assinalam e/ou reforçam a fragmentação das disciplinas, e sua estrutura curricular com alguma ou nenhuma interação.