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CAPÍTULO 6 ANÁLISE DOS MOVIMENTOS DE SENTIDOS: DIFERENTES

6.2 ANÁLISE DOS MOVIMENTOS DE SENTIDOS NOS DADOS PRODUZIDOS COM A

6.2.2 Currículo integrado nos discursos dos interlocutores da pesquisa

Nesta seção, será descrita a percepção de currículo integrado, partindo do entendimento e percepção dos interlocutores em relação à questão: qual sua concepção de Currículo Integrado?

Como diretriz, consta no Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2014-2018, que a concepção de currículo integrado na instituição é,

[...] um projeto que visa a constituir um processo de ensino-aprendizagem que estrutura a educação básica juntamente com o ensino profissionalizante. Para desenvolvê-lo, faz-se necessária a articulação entre os campos do conhecimento

do ensino básico, do profissionalizante e destes com a pesquisa e a extensão (PDI,

2014-2018, p. 50, grifo meu).

Diante desta concepção, faz-se necessário percorrer os discursos dos professores, para compreender quais contrastes existem nas percepções de currículo integrado. Apesar de alargadas discussões sobre o tema, a noção de CI é ampla e complexa, o que permite diferentes entendimentos dentro do mesmo contexto, o que propicia uma falta de consenso dos sujeitos da escola. Perante inúmeros elementos que caracterizam o CI, torna-se imprescindível conhecer discursivamente os reflexos na ótica dos colaboradores da pesquisa. Entre, os discursos dos professores,

//A integração deve ocorrer no entendimento do estudante que deve ser capaz de associar os conteúdos e conceber na sua formação a integração. É preciso proporcionar aos acadêmicos subsídios para que ele seja capaz de integrar os conteúdos e fazendo com que essa associação seja capaz de melhorar a sua compreensão// (P1).

Ramos (2012, p. 122) explica que, “a integração exige que a relação entre conhecimentos gerais e específicos seja construída continuamente ao longo da formação, sob os eixos do trabalho, da ciência e da cultura”. Cabe salientar, na abordagem do professor(a), o destaque para integração na perspectiva do estudante, perceber a importância do Trabalho Pedagógico, na produção de conhecimento, a mediação deste processo professor x estudante,

na possibilidade de estimular o estudante a ter autonomia na produção do conhecimento. Nesse sentido, no discurso de P2 encontrou-se

// Considero o currículo integrado como um conjunto de práticas e saberes que envolvem a dimensões diversas da vida social sob um planejamento específico que privilegia objetivos distintos, mas harmônicos, ou, ao menos, complementares, como por exemplo, a formação profissional em dada área e a formação geral no campo das disciplinas curriculares tradicionais//(P2).

Nesse viés, o currículo integrado, na perspectiva da totalidade25, movimenta-se no intuito de superar a hierarquização e/ou privilégios de determinadas disciplinas em relação a outras, em que área básica e técnica tenham consonância com o objetivo de formação humana, imbricada na formação social e profissional.

//É a integração entre disciplinas, conhecimentos, saberes que serão compartilhados e abordados de forma que todos contribuam com os temas a partir de diferentes aspectos. Nesse “sistema” as disciplinas deixam de ser o centro do processo, dando ênfase ao conhecimento de forma global e não parcelada// (P3). Tal afirmação caracteriza-se por aspectos particulares para o universal, ou seja, da perspectiva da educação considerada tradicional (formal), para proposta de integração, não como contradição entre uma e outra, no entanto, como parte da totalidade, sendo assim,

o currículo integrado organiza o conhecimento e desenvolve o processo de ensino- aprendizagem de forma que os conceitos sejam apreendidos como sistema de

relações de uma totalidade concreta que se pretende explicar/compreender

(BRASIL, 2007, p. 42, grifo meu).

Ao referir ao currículo integrado como responsável pela organização do conhecimento, recorre-se a Saviani (2016, p. 55), quando afirma que, “o conteúdo fundamental da escola se liga à questão do saber, do conhecimento. Não se trata de qualquer saber e sim do saber elaborado, sistematizado”. Com isso, vai-se compreendendo que o conhecimento elaborado no contexto da sala de aula é determinado pelo contexto educacional que,

Ao olhar os intercâmbios dos conhecimentos sistematizados e das vivências

educativas no âmbito da escola, fica evidente que o currículo não pode se

configurar simplesmente como um rol de disciplinas, um produto acabado,

25

Categoria central na dialítica marxista. “A categoria totalidade significa [...], de um lado que, a realidade objetiva é um todo coerente em que cada elemento está, de uma maneira ou de outra, em relação com cada elemento e, de outro lado, que essas relações formam, na própria realidade objetiva, correlações concretas, conjuntos, unidades, ligados entre si de maneiras completamente diversas, mas sempre determinadas (LUKÁCS, 1967, p. 240).

desvinculado da experiência dos alunos e das realidades sociais (MARTINS, 2010, p. 16, grifo meu).

Sobre essa questão, P4 pontuou que o,

//Currículo integrado deve refletir sobre um conjunto de saberes necessários para a

formação humana e profissional dos estudantes. Deve permitir a integração entre

os diversos saberes e sua aplicação em diferentes contextos// (P4).

Frigotto (2012, p. 167) destaca que a “concepção de educação ou de formação humana que busca levar em conta todas as dimensões que constituem a especificidade do ser humano e as condições objetivas e subjetivas reais para seu pleno desenvolvimento histórico”. Diante da afirmação de P4, o conjunto de saberes necessários para a formação dos estudantes perpassa os diferentes contextos de produção do conhecimento, possibilitando a formação de um sujeito capacitado a agir e a interagir nos diferentes contextos de inserção.

//Mesmo compactuando de um dito currículo integrado no IFFar, acredito que não estamos praticando essa perspectiva// (P5).

Ciavatta e Ramos (2011, p. 25) reiteram sobre currículo integrado que,

[...] a questão conceitual ainda é objeto de muita interrogação e de controvérsia entre professores e gestores, seja pelo insuficiente estudo e conhecimento de seu significado, seja pela opção pela proposta gerada no contexto do Decreto nº 2.208/97 e de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais, elaboradas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) para sua implementação (CIAVATTA. RAMOS, 2011, p. 35).

Com base na afirmação de P5, quais as limitações e implicações da proposta currículo integrado? Os estudos de Frigotto, Ciavatta, Ramos (2014) apontam algumas dificuldades dos professores em relação ao currículo integrado, porque “não houve preparação dos professores para atuarem de acordo com a proposta da formação integrada no ensino médio” (FRIGOTTO et al. 2014, p. 2016). A seguir a figura 25 mostra alguns pontos apontados pelos autores.

Figura 25 – Dificuldades referentes ao Currículo Integrado.

Fonte: A autora com base em Frigotto; Ciavatta; Ramos; Gomes (2014, p. 16).

Em contrapartida, P6 afirmou que:

//Entendo que o currículo integrado tem como objetivo de formar o aluno de

maneira completa, integrada, holística, onde o discente entenda que um conteúdo (de uma determinada disciplina) se associe, se complementa e se completa com o conteúdo de outras disciplinas// (P6).

O discurso indica uma perspectiva de integração, na mesma direção P7 caracterizou:

//Aquele que temas, conteúdos são trabalhados por diferentes disciplinas, principalmente promovendo a integração do técnico e da área básica. Ambas trabalham juntas o conteúdo// (P7).

Destacam a formação humana, a não hierarquização de conteúdos e/ou disciplinas, a relação entre os saberes na totalidade, não como algo pontual e momentâneo, como um

continuum de conhecimentos produzidos nas diferentes áreas de conhecimento. Como os

estudantes podem articular a integração da área básica e técnica, quando existe esta fragmentação na matriz curricular? A este questionamento, P8 respondeu que,

//Da forma como está instituída não atende nem o Ensino Médio e nem o profissionalizante// (P8).

A dificuldade de envolvimento dos professores temporários, com vínculos precários de trabalho e de compromisso com as instituições

A carência de gestão e de participação democrática nas instituições A falta de condições materiais

O desconhecimento conceitual

A mentalidade conservadora dos padrões pedagógicos vigentes, assim como de posições políticas avessas ao discurso da formação integrada e da educação emancipatória com base na crítica à sociedade de mercado

Esta é uma questão a ser pensada, no sentido de refletir sobre a proposta de integração, a heterogeneidade de professores, discussões da temática, articulação entre as diferentes áreas. Quanto à percepção de currículo integrado na Instituição, os discursos refletem sobre a proposta de CI, há marcas discursivas da fragmentação de conteúdos e disciplinas, que demostram dificuldade de articular a produção de conhecimento de forma integral, sem o dualismo da Educação Básica e Profissional, as disciplinas com uma finalidade em si. Em suma, tendo por referência a aplicação da AMS, os discursos assumem um sentido de aproximação, as falas se entrelaçam diante da concepção de currículo integrado.

6.2.3 Percepção de Integração Curricular no IFFar nos discursos dos interlocutores da