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3 AS TRANSFORMAÇÕES VERIFICADAS NO CURSO E NA FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA

3.3 A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO FÍSICA ADOTADA NO CURRÍCULO DE

A década de 1990 começou com os impactos das mudanças que concorreram para fomentar a idéia de que uma nova ordem mundial se desenhava no planeta. O contexto era propício à reflexão acerca do homem, do planeta e das políticas de estado que orientariam o novo século. No Brasil, a propaganda dos projetos de arrancada do país para o século XXI tinha em comum os discursos da modernização, do crescimento econômico e do desenvolvimento social da nação brasileira.

Assim, verificou-se que estava em discussão, a educação, a saúde, a segurança e o emprego. A educação, no entanto, já mostrava no setor público ares

de falência e esperava-se que a política educacional contribuísse para as melhorias do Ensino Público no país. Foi nessa expectativa de mudanças que foram engendrados os debates e as articulações para se construir o novo currículo de Educação Física.

Sob a influência das teorias críticas da Educação o curso se vê questionado quanto ao seu papel e a sua dimensão política na sociedade. Houve uma mudança de enfoque com relação a sua natureza que passou de uma visão da área biológica, para uma ênfase nas dimensões afetivas, sociais, cognitivas e psicológicas, vendo o aluno na sua integralidade humana; ampliaram seus objetivos e diversificaram seus conteúdos, deixando para trás paradigmas como aptidão física e esportes (BRASIL, 1997). Todavia, a integralidade humana e suas respectivas dimensões como referencial norteador da Educação Física nos anos de 1990 não foi suficiente para aquietar as críticas ao currículo em questão.

A existência de diversas abordagens resultantes de teorias e concepções psicológicas, sociológicas e filosóficas, ampliou os campos de atuação e reflexão da Educação Física, aproximando-a das ciências humanas, tendo em comum “a busca de uma Educação Física que articule as múltiplas dimensões do ser humano” (BRASIL, 1997, p. 24).

O paradigma contrário ao da aptidão física, conforme o Coletivo de Autores (1993) é o da cultura corporal, que:

busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, [...], que podem ser identificadas como formas de representação simbólicas de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas (p. 38).

Os currículos dos cursos de Educação Física, com a contribuição das disciplinas da área das Ciências Humanas, representadas pela Psicologia, Filosofia, Sociologia e Antropologia, passaram de um currículo esportivizado, centrado em conhecimentos esportivos e biológicos, com uma prática profissional embasada no saber fazer, para um currículo onde o campo de formação básica do aluno é

ampliado através de outras abordagens, que se caracterizam pela realização de uma análise crítica, numa perspectiva de transformação social, dentro de um contexto cultural, político e econômico, onde o movimento humano é entendido em todas as suas dimensões e significados (BRASIL, 1997).

A questão é que essas novas abordagens não se efetivam na prática se não forem pensadas no conjunto da comunidade acadêmica e escolar. A orientação é interessante e instigante; todavia, a complexidade própria da condição humana, dificulta uma ação pedagógica que permita essa dimensão da transformação social de que trata o novo currículo. O desafio, contudo, é colocado. Insinua-se, aqui, a proposição de que a realização desse currículo, com essa abordagem humanista, pode ser uma alternativa para alcançar essa transformação social, porém não é a única. Tem-se, neste caso, como exemplo, as concepções Pedagogicista, Popular, Progressista, Aberta, Crítico-Superadora, Crítico-Emancipatória, Construtivista e Sistêmica etc. que uma vez colocadas em prática apontam os limites e avanços teóricos próprios de abordagens conceituais.

O curso de Educação Física da UEPA, com o PPP 1999 e um novo desenho curricular, sem dúvida superou uma trajetória de curso caracterizado desde sua criação por uma concepção de curso desportivizado, sem uma fundamentação teórica nas disciplinas pedagógicas, filosóficas e sociológicas. A predominância nas disciplinas das áreas de esportes e biológicas, no antigo currículo, corroborou na formação de um profissional acrítico e ahistórico, com um perfil profissional voltado para o técnico-desportivo e instrumental. O novo currículo, no entanto, enfatizava em conformidade com o PPP de 1999, uma formação humanizante que atenderia aos anseios do profissional da comunidade acadêmica e da sociedade. Neste sentido, o que passa a caracterizar o profissional de EF, na atualidade, é a sua capacidade de articular o conhecimento acadêmico e cientifico às necessidades sociais emergentes. Essa articulação deve mobilizar, entre outras coisas, o caráter humanista e humanitário desse profissional.

Após o currículo de 1999, houve uma reorientação nas concepções e práticas no âmbito pedagógico (com um aumento na carga horária de 200%), e científico (com um aumento de 300%), com a finalidade de formar um professor com um perfil polivalente, crítico, com capacidade de decisão e interatividade e com uma concepção de curso voltada para a Licenciatura, para a docência, que tem como

objetivo geral “formar professores qualificados para agir, atuar, desenvolver e implementar a atividade docente expressa no trabalho pedagógico em diferentes campos de trabalho, mediado pelo objeto – práticas corporais, esportivas e de lazer” (PPP 1999). Esse profissional em conformidade ao PPP teria a responsabilidade de participar não somente da educação formal como no passado. Sua responsabilidade social o instigaria a ampliar sua ação à comunidade como extensão da docência. Esta práxis elevaria não só a importância do Curso, mas do próprio profissional que, neste serviço prestado à comunidade, revelaria a concepção humanista presente no PPP de 1999.

O caráter tecnicista e competitivista da Educação Física, neste contexto, são eliminados. O contato com a comunidade e com os problemas vivenciados pelos docentes e discentes, na Academia e nos projetos sociais, acirraram a criticidade e a politização dos profissionais de Educação Física; no entanto, isto não significa dizer que estas posturas críticas e politizadas só se efetivaram a partir dos currículos da década de 1990. Dizer isto seria negar as outras formas e os outros espaços de educação e de formação do indivíduo; seria negar a participação, ainda que sutil e desconhecida, de profissionais da área nas mobilizações e nos protestos contra os regimes ditatoriais vigentes ao longo da história deste país, o que pode ser um interessante objeto de estudo. Quero dizer, aqui, que é na década de 1990 que o currículo do CEDF/UEPA, assume um caráter crítico e politizado em seu desenho curricular; talvez, é claro, pelo diálogo mais profícuo com as Ciências Humanas e com a comunidade, veiculado no Projeto Político Pedagógico.