• Nenhum resultado encontrado

A CONCEPÇÃO DE HOMEM NO BEHAVIORISMO RADICAL DE SKINNER

2.3 – U M TERCEIRO NÍVEL DE SELEÇÃO A EVOLUÇÃO DA CULTURA

3. A CONCEPÇÃO DE HOMEM NO BEHAVIORISMO RADICAL DE SKINNER

Enfocamos nos capítulos anteriores os principais aspectos traçados por Skinner que propiciaram a evolução do comportamento humano. Assim, buscamos as variáveis filogenéticas que proporcionaram a evolução não só do organismo enquanto estrutura, mas também do organismo que se comporta. O organismo evoluído apresenta, como conseqüências da seleção natural, comportamentos herdados (reflexos incondicionados e comportamentos liberados) e a capacidade de que seus comportamentos sejam modificados por condicionamento respondente e operante. Sendo assim, o organismo evoluído apresenta uma das características mais importantes para o desenvolvimento de comportamentos tipicamente humanos – as suscetibilidades ao reforço. Essa suscetibilidade, como fruto da evolução natural, permitiu a evolução de comportamentos sob o controle de um segundo nível de seleção: os comportamentos sob o controle das contingências de reforço. Na espécie humana, um comportamento ‘especial’ passou também a ser sensível ao controle operante: o comportamento verbal; atrelado à evolução desse comportamento temos a evolução dos ‘ambientes verbais’: a cultura. Portanto, comportamento tipicamente humano é, em uma análise skinneriana, produto das inter-relações entre as contingências filogenéticas, ontogenéticas e culturais.

O percurso tomado neste trabalho, enfocando na obra skinneriana sua teoria sobre a evolução do comportamento, foi um meio para chegarmos à concepção de Homem em Skinner defendida neste trabalho. Para compreendermos a concepção de Homem em sua teoria o comportamento foi o foco, uma vez que é sempre através de

uma análise comportamental que Skinner propõe sua teoria sobre os fenômenos psicológicos. Ou seja, o comportamento é seu objeto de estudo.

Discorremos que o comportamento humano é amplamente sensível às suas conseqüências e, como fruto das contingências culturais, o comportamento humano é principalmente sensível às conseqüências fornecidas pela cultura. Sendo assim, quando nos referimos ao comportamento humano, três tipos de ‘bem’ ou de ‘valores’ podem ser relacionados a ele. Como dito anteriormente, o primeiro ‘bem’ é o ‘bem’ do indivíduo, o segundo é o ‘bem’ dos outros e o terceiro é o ‘bem’ da cultura.

É a partir da análise que Skinner (1971; 1971/1972) faz desses ‘julgamentos de valor’ que buscaremos sua concepção de Homem. Defende-se, portanto, que a concepção de Homem em Skinner é de um homem que deve se comportar para o ‘bem’ da cultura. Deve no sentido de que, para que isso ocorra, a concepção de Homem também volta-se para um homem como planejador cultural.

Comportar-se para o ‘bem’ da cultura implica, como argumentado anteriormente, algo como se comportar sem ser afetado pelas conseqüências últimas de seu comportamento. As conseqüências últimas do comportamento em benefício da cultura seriam a transmissão de práticas culturais que aumentem as chances de que a cultura sobreviva. Além disso, para que exista um ‘interesse genuíno pela sobrevivência

da cultura’ (Skinner, 1971/1972, p. 136), essas práticas devem proporcionar o ‘bem’

dos outros, porém dos outros do futuro.

Ao defender o ‘bem’ da cultura como um valor no terceiro nível do modelo da seleção pelas conseqüências, Skinner (1971/1972) permite duas possíveis direções de interpretação para sua teoria. A primeira seria defender que o

comportamento que possibilita a sobrevivência da cultura é um comportamento ‘altruísta interessado’ – interpretação inferida de algumas de suas colocações, como:

As instituições podem derivar reforçadores eficazes para eventos que só ocorrerão após a morte do indivíduo. ...Naturalmente, o indivíduo não é de modo direto afetado por tais coisas; ele apenas se beneficia dos reforços condicionados utilizados pelos demais membros de sua cultura... (Skinner, 1971/1972, p. 135-136) (Meus grifos).

A segunda seria defender que o comportamento relacionado ao ‘bem’ da cultura seria ‘genuíno’ apenas se este fosse um comportamento ‘altruísta desinteressado’:

Nada disso (reforçadores condicionados utilizados pelos

outros membros da cultura para o comportamento relacionado ao ‘bem’ da cultura) basta para explicar aquilo que poderíamos chamar

de preocupação genuína com a sobrevivência da cultura...(Skinner,

1971/1972, p. 136) (Meus grifos).

Um passo adiante é a emergência de práticas que induzam seus membros a trabalharem pela sobrevivência de sua cultura. Tais práticas não podem ser traçadas para bem do indivíduo, mesmo quando utilizadas para o bem dos outros, uma vez que a sobrevivência da cultura, que está além do tempo de vida do indivíduo, não pode servir como uma fonte de reforçadores condicionados. (Skinner, 1971/1972, p. 143-144) (Meus grifos).

Sendo assim, estamos considerando o comportamento como sendo uma espécie de ‘altruísmo interessado’ quando este pode permitir o fortalecimento da cultura, mas promove, concomitantemente, o ‘bem’ do indivíduo. Por outro lado, estamos considerando o comportamento como um ‘altruísmo desinteressado’ quando este fortalece a cultura e não deriva reforços que promovem o ‘bem’ do indivíduo. Tal

comportamento estaria relacionado com o legítimo ‘bem’ da cultura, o que Skinner (1971/1972, p. 136) estaria designando como a preocupação genuína com a

sobrevivência da cultura.

Assim, uma vez que se defende a concepção de Homem em Skinner como um Homem que se comporta para o ‘bem’ da cultura, então a cultura deve proporcionar que o comportamento humano seja sensível a um tipo diferente de conseqüência: conseqüências que vão além do tempo de vida do indivíduo. Para isso, a cultura deve primeiramente exercer um controle efetivo para que seus membros trabalhem por sua sobrevivência, ou seja, derivando reforçadores condicionados aos comportamentos direcionados para a sobrevivência da cultura. Posteriormente, instalado tal repertório, a cultura pode então, aos poucos, ir retirando esse tipo de controle. Só então o comportamento humano seria sensível às suas conseqüências últimas. Ou seja, o comportamento humano seria reforçado ao proporcionar a sobrevivência da cultura e então poderíamos falar de um Homem cujo comportamento torna-se altruísta desinteressado.

Para que seja possível a apresentação dessa concepção de Homem, alguns aspectos relacionados ao controle exercido por uma cultura devem ser primeiramente mencionados.