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CONCEPÇÃO DE TEXTO

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2 ESTUDOS LINGUÍSTICOS E O CONTO

2.3 CONCEPÇÃO DE TEXTO

Assim como na subseção anterior, as discussões aqui visam respaldar metodologicamente o que se entende na atualidade como texto. O que pretendemos é nortear esta pesquisa com as atuais discussões sobre como se entende o texto e seu funcionamento na sociedade.

Devido à contribuição dos estudos sobre texto é que, para este trabalho, podemos tentar trazer algumas concepções do que seja o texto, mesmo que ainda seja este um objeto de ressignificação para a Linguística Textual, exigindo contínuos debates. Sobre esta questão nos alerta Adam (2011, p. 25):

O texto é, certamente, um objeto empírico tão complexo que sua descrição poderia justificar o recurso a diferentes teorias, mas é de uma teoria desse objeto e de suas relações com o domínio vasto do discurso em geral que temos necessidade, para dar aos empréstimos eventuais de conceitos das diferentes ciências da linguagem, um novo quadro e uma indispensável coerência.

Na tentativa de nortear a presente pesquisa e na busca do estabelecimento de uma coerência para os trabalhos com os textos destacamos que diversos autores,

tais como Marcuschi (2008) e Antunes (2010), aceitam a ideia de que o texto é um evento de comunicação que se dá de maneira social e cognitiva. Fato de relevância ímpar para entendermos as relações de produção textual com as nossas práticas sociais atuais. Antunes (2003, p. 25) ressalta que os processos de produção textual nas escolas “(...) ignora a interferência decisiva do sujeito aprendiz (...)” o que resulta, como a autora conclui, em uma “prática de uma escrita mecânica e periférica”, quase sempre porque não há conexão entre os textos produzidos e o universo real. É neste fato que pretendemos intervir com esta pesquisa, trazendo a participação ativa dos alunos para a produção textual, valorizando suas sugestões, reflexões e, sobretudo, suas experiências com a prática de utilização de jogos digitais.

As dimensões da área dos estudos linguísticos foram ampliadas a partir das pesquisas em Linguística Textual, quando se incluiu em seu escopo teórico estudos sobre os sujeitos e sobre as situações de comunicação (BENTES, 2001, 248). Desde então, os trabalhos com o texto, como defende a autora, têm buscado ampliar os limites da frase para dar conta dessa elevada unidade linguística que é o texto.

Muito se tem discutido sobre os possíveis formatos de trabalho com os textos e, de acordo com Marcuschi (2007, p. 35) e com Antunes (2010), deve-se concentrar na produção de textos e não de enunciados soltos, por isso o trabalho com a produção textual deve embasar-se nos conceitos relativos ao emprego dos gêneros textuais e, consecutivamente, de genericidade textual (ADAM, 2011) (explicitados na próxima seção) no cotidiano escolar, adquirindo, assim, papel singular na sala de aula.

Diversos pesquisadores (KOCH, 2003, 2006; MARCUSCHI, 2008; ADAM, 2011) que vêm trabalhando com questões textuais têm buscado descrever não apenas o texto em si, mas também as competências necessárias para se trabalhar com os textos com o fim de descrever “(...) a constituição, o funcionamento, a produção e a compreensão dos textos em uso” (BENTES, 2001, 251). Dessa forma, entendemos que há uma multiplicidade de abordagens que podem tratar da questão de como os textos são processados socialmente.

Diante de variados pontos de vista de como se definir um texto, a proposição que adotamos para os nossos trabalhos é a de que o texto apresenta-se como unidade complexa, já que é constituído de variados aspectos, passando a ser entendido, conforme Koch (2003, p.17), como o “próprio lugar da interação” entre os sujeitos. Este pressuposto é o principal aspecto que ressaltamos. O texto, então, realiza-se

com bases linguísticas, mas, no entanto, necessita de um vasto conjunto de saberes, segundo as considerações de Marcuschi (2008, p. 78):

(...) sabemos que para produzir um texto deve-se seguir algumas normas, mesmo que não sejam regras rígidas. Sabemos que não se pode enunciar de qualquer modo os conteúdos, já que isso não favoreceria a compreensão pretendida. Também sabemos que se deve haver pelo menos uma noção clara do quanto se deve dizer e do quanto se pode deixar de dizer, isto é, sabemos que os textos são desenhados para interlocutores definidos e para situações nas quais supomos que os textos devem estar inseridos.

A caracterização do que é texto, como vimos, depende da concepção que temos de língua (MARCUSCHI, 2008), uma vez que o texto será o produto, o resultado de como se entende os processos comunicacionais nesta língua. Entendemos que através das produções textuais dos alunos o professor poderá verificar o nível de comunicação demonstrado por estes alunos e, diante da análise dessas produções, ele poderá traçar metas a serem trabalhadas no ambiente pedagógico com o fim de auxiliar os discentes a ampliar sua competência comunicativa.

Podemos adotar, juntamente com Marcuschi (2008, p. 88), a ideia “de que o texto é a unidade máxima de funcionamento da língua”, que tem como característica principal ser discursivo, contextualizado e socialmente situado. Para tanto, entendemos que o texto está inserido em situações de comunicação sob a forma de gêneros, sendo assim, uma ação, um evento comunicacional. Para Adam e Heidmann (2011, p. 18), “(...) as línguas e os gêneros são indissociáveis na manifestação textual e discursiva da linguagem”. Dessa forma, o trabalho com os gêneros ganha destaque, ao nosso ver, para que o aluno possa desenvolver suas habilidades dentro do uso da língua, por isso propomos o trabalho com o gênero conto, uma vez que utilizaremos as produções dos alunos nesse gênero textual para guiar nossos trabalhos nesta pesquisa, como elucidaremos a seguir.

Antunes (2010) ressalta que todos os textos funcionam como sendo a expressão de propósitos comunicacionais. Nesta concepção de texto, são requeridas estratégias para seu processamento. Koch (2006) propõe que, para processarmos o texto, necessitamos de três sistemas de conhecimento: o linguístico, o enciclopédico e o interacional. Esses conhecimentos englobam os aspectos gramaticais e lexicais; conhecimento de mundo e as possibilidades de interação através da linguagem, respectivamente, todos interdependentes e necessários para o trabalho com textos.

Elucidamos que dentre as estratégias de processamento propostas por Koch (2006) destacamos, nesta pesquisa, os trabalhos envolvendo os conhecimentos linguísticos, uma vez que tais saberes são necessários para a estruturação dos enunciados nos textos, atribuindo-lhes coesão, coerência, escolha adequada do repertório lexical. Destacamos também os estudos de Beaugrande e Dressler (1997) com os quais pode-se identificar sete8 estratégias para o processamento textual. Para estes autores o texto é um acontecimento comunicativo que cumpre determinadas normas de textualidade; em outras palavras, trabalharemos com a perspectiva de destacar a necessidade de aplicação de tais conhecimentos para os alunos durante as aulas de produção de contos para que eles possam se tornar cada vez mais competentes no trato com a língua escrita.

Retomaremos a discussão de Bakhtin (1997, p. 330) a respeito do texto e que têm a ver com o seu papel na esfera social, analisando que “dois fatores determinam um texto e o tornam um enunciado: seu projeto (a intenção) e a execução desse projeto”. Esclarecemos que este é o propósito deste trabalho: fazer com que os alunos possam desenvolver competências suficientes para executar o projeto de texto que intencionaram.

Como podemos perceber, não há uma definição simples, meramente descritiva para o que se entende como texto. Adam (2011, p. 25) discute que uma definição de textualidade deve ser vista como um conjunto de operações que levam um indivíduo a compreender uma sequência de enunciados como um todo significante. À vista disso propomos neste trabalho entender o texto, como já dito, enquanto evento comunicativo produzido para gerar sentido. Este evento deve ser organizado de forma a cumprir algumas normas linguísticas para poder ser enquadrado neste ou naquele gênero textual; fora disto poderemos ter um amontoado de palavras ou ainda informações soltas, que só se constituirão como texto se processadas pelos sujeitos a quem possivelmente se destinam.

Este aprofundamento, observamos, é necessário aos trabalhos pedagógicos para o ensino da Língua Portuguesa, pois, apenas possuindo uma noção do que pode ser texto e de como o texto é processado socialmente, estará o professor municiado para o exercício da prática pedagógica do ensino da escrita, sobretudo nos momentos em que as aulas de Língua Portuguesa versarem sobre os diferentes textos existentes

8 Coesão, coerência, intencionalidade, aceitabilidade, informatividade, situacionalidade e

em nossa sociedade. Ressaltamos também que nossa pesquisa pretende trabalhar com a construção do gênero conto, buscando ampliar, junto aos alunos do Ensino Fundamental II, as competências necessárias à produção desse gênero como discutido por Bentes (2001).

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