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3.3 Caracterização da pesquisa

3.3.1 Concepção filosófica, natureza da pesquisa e estratégia de investigação

Em razão do objetivo geral proposto nesta pesquisa (“identificar as práticas de produção/obtenção, compartilhamento e (re)uso de dados de pesquisa em Química, Antropologia e Educação”), foi fundamental a adoção da concepção construtivista e, consequentemente, o aprofundamento do estudo sobre o modo pelo qual os participantes atribuem significados ao mundo. Ressalta-se, ainda, a importância de se considerar os diferentes contextos socioculturais nos quais esses participantes estão inseridos.

Além disso, a pesquisa realizada caracteriza-se por sua natureza descritiva, visto que se preocupará, sobretudo, em descrever os fenômenos pesquisados. Sekaran (2003) afirma que um estudo descritivo é feito com vistas à descrição de determinadas características, oferecendo ao pesquisador um perfil ou uma descrição de importantes aspectos do fenômeno analisado, a partir da perspectiva de indivíduos, organizações, da indústria e de outros tipos de instituições. Nesse sentido, é importante ressaltar dois aspectos:

1. já existem pesquisas relacionadas à produção, ao compartilhamento e ao reuso dos dados de pesquisa, logo o trabalho que será realizado não se caracteriza como exploratório; e

2. não há o propósito de estabelecer correspondências entre causa e efeito ou teste de hipóteses, como ocorre nas pesquisas explicativas.

Para Walliman (2001), a pesquisa descritiva se baseia na observação para a coleta de dados e examina situações. Tal observação assume várias formas, ocorrendo por meio de entrevistas, aplicação de questionários, percepções visuais e, até mesmo, por sons e cheiros registrados. Entretanto, é fundamental que toda observação feita seja documentada de algum modo, possibilitando análises posteriores. Ou seja, para obter conclusões válidas e precisas, os dados coletados devem ser organizados e apresentados de forma objetiva e sistemática.

Bhattacherjee (2012) ressalta quão minuciosas são as observações e a documentação produzida na pesquisa descritiva em relação ao fenômeno analisado. O autor exemplifica, no campo prático, diferentes contextos nos quais esse tipo de pesquisa pode ser aplicado, como os levantamentos estatísticos demográficos, que possibilitam análises comparativas ao longo do tempo e projeções sobre determinado cenário. Relatórios etnográficos como aqueles que visam à compreensão de práticas culturais, religiosas, étnicas em dada comunidade também ilustram a realização da pesquisa qualitativa.

Segundo Deslaurierse e Kèrisit (2008, p. 130), a pesquisa descritiva caracteriza dada situação social, evidenciando os mecanismos e atores inseridos nesse contexto. Portanto, “uma

pesquisa descritiva colocará a questão dos mecanismos e dos atores (o “como” e o “o quê” dos fenômenos); por meio da precisão de detalhes, ela fornecerá informações contextuais que poderão servir de base para pesquisas explicativas mais desenvolvidas”.

Ademais, as pesquisas são conduzidas por abordagens metodológicas, o que Creswell (2010, p. 35) denominou de estratégias de investigação. Essas, por sua vez, são definidas como “os tipos de projetos ou modelos de métodos qualitativos, quantitativos e mistos que proporcionaram uma direção específica aos procedimentos em um projeto de pesquisa”. Em razão de sua concepção construtivista, esta pesquisa adotou a estratégia de investigação qualitativa. Isso proporcionou uma análise vertical sobre o tema estudado, uma vez que houve o aprofundamento de questões relacionadas à percepção dos participantes. A seção 3.3.1.1 dedica-se a explorar o conceito de “pesquisa qualitativa”.

3.3.1.1 Pesquisa qualitativa

Deslaurierse e Kèrisit (2008) afirmam que a pesquisa qualitativa apresenta características intrínsecas que a distinguem de outras perspectivas na realização da pesquisa científica. Há axiomas, práticas e postulados específicos, que, consequentemente, também geram resultados específicos. Alguns aspectos se destacam nesse contexto, como: a natureza dos dados e o contato do pesquisador com o campo.

Os dados coletados na pesquisa qualitativa são oriundos de diversas fontes e tendem a resistir a análises com enfoque estatístico. São dados sobre experiências, visões de mundo, opiniões, representações ou que buscam captar o sentido das ações. No que diz respeito ao contato do pesquisador com o campo, estudos contemporâneos no campo da pesquisa qualitativa ressaltam a importância de maior interação entre o pesquisador e o campo da pesquisa (DESLAURIERSE; KÈRISIT, 2008).

Deslaurierse e Kèrisit (2008) ainda destacam que o contato do pesquisador com o campo pode proporcionar o surgimento de novas questões para a pesquisa, como se pode observar:

A pesquisa qualitativa enfatiza o campo, não apenas como reservatório de dados, mas também como uma fonte de novas questões. O pesquisador qualitativo não vai a campo somente para encontrar respostas para suas perguntas; mas também para descobrir questões, surpreendentes sob alguns aspectos, mas, geralmente, mais pertinentes e mais adequadas do que aquelas que ele se colocava no início. Além disso, a própria logística da abordagem qualitativa (campo de pesquisa, observação participante, entrevistas não dirigidas, relatos de vida) obriga o pesquisador a um contato direto com o vivido e as representações das pessoas que ele pesquisa (DESLAURIERSE; KÈRISIT, 2008, p. 148).

Baseado em estudos de diversos autores, como Eisner (1991), Bogdan e Biklen (1992) e Marshall e Rossman (2006), Creswell (2010) elaborou uma lista com as principais características da pesquisa qualitativa, destacando-se:

Ambiente natural – a coleta dos dados ocorre, sobretudo, no ambiente vivenciado pelos participantes da pesquisa. Ressalta-se, ainda, a interação face a face dos pesquisadores com esses participantes, uma vez que muitos dados para o estudo são obtidos por meio de conversas e observações minuciosas, atreladas a diferentes contextos.

O pesquisador como elemento fundamental no desenvolvimento da pesquisa – o próprio pesquisador coleta os dados para a pesquisa, por meio de análise de documentos, observação de determinado fenômeno, realização de entrevistas ou qualquer outro instrumento de coleta de dados.

Construção de significados dos participantes da pesquisa – o foco da pesquisa está no modo pelos quais os participantes atribuem significados à questão estudada.

Interpretativo – é um tipo de pesquisa desenvolvida mediante a interpretação dos pesquisadores sobre o fenômeno estudado. Tal interpretação não está isenta das origens, crenças, valores e experiências vivenciadas pelo pesquisador.

Relato holístico – visto que a natureza dos problemas estudados é complexa, é importante considerar diferentes perspectivas na pesquisa, analisando-se também, atenciosamente, os fatores que contribuem para dada situação.

Groulx (2008) aprofunda as discussões sobre a pesquisa qualitativa, analisando-a à luz de suas contribuições para a pesquisa social. Essa, por sua vez, pode ser entendida como o conjunto de estudos voltados aos problemas sociais, às práticas de instituições e de profissionais. Nesse contexto, a pesquisa qualitativa pauta-se, sobretudo, pela compreensão de significados e atenta-se à diversidade das realidades socioculturais existentes, como se pode perceber:

A pesquisa qualitativa introduz um novo sentido dos problemas, ela substitui a pesquisa dos fatores e determinantes pela compreensão dos significados. Ela opera, poderíamos dizer, um duplo deslocamento na pesquisa social; isto é, da instituição à comunidade, e do profissional ao usuário (...) atenta às especificidades socioculturais das clientelas e dos usuários, a pesquisa qualitativa força a repensar o estudo das necessidades não mais segundo indicadores de medida, mas sim, segundo as especificidades socioculturais dos meios de vida (GROULX, 2008, p. 98).