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A CONCEPÇÃO HISTÓRICO-CRÍTICA DA EDUCAÇÃO E SUAS POTENCIALIDADES ORGÂNICAS NA FORMAÇÃO DO DESIGNER

INDUSTRIAL

“A teoria materialista de que os homens são produto das circunstancias e da educação e de que, portanto, homens modificados são produto de circunstâncias diferentes e de educação modificada, esquece que as circunstancias são modificadas precisamente pelos homens e que o próprio educador precisa ser educado”

Karl Marx

A Pedagogia Histórico-Crítica é uma denominação que se atribuiu à produção teórica e metodológica referenciada no educador paulista Dermeval Saviani, natural de Santo Antônio de Posse, Professor Titular de História da Educação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, ex-Professor da PUC SP, pesquisador destacado na área de Filosofia e História da Educação, no Brasil e no exterior. Esse educador é autor de uma vasta produção teórica, com inúmeras obras escritas, pesquisas, publicações, participações em congressos, simpósios, conferências, entrevistas, pareceres e declarações públicas sobre Educação.

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Sua formação em Filosofia e História vincula-se ao referencial materialista dialético, de inspiração marxiana ou marxista. No entanto, com originalidade, fez aproximações reflexivas, analíticas e interpretativas, a partir do método critico- dialético, no campo da Educação, que o colocam como um dos maiores pensadores marxistas sobre Educação no século XX e XXI no Brasil. Trabalha conceitos e categorias do pensador A. Gramsci e se tornou a referência do que entendemos como concepção histórico- crítica da Educação ou Pedagogia Histórico- Crítica.

Nosso trabalho político consiste em buscar articular a originalidade igualmente política e epistemológica da Pedagogia Histórico-Crítica61 no

campo de pesquisa e formação do Designer no Brasil.

1. Os Fundamentos Políticos E Epistemológicos Da Pedagogia Histórico- Crítica

A grande maioria dos educadores e pesquisadores em Educação, nos anos mais recentes, logrou tomar contato e admirar-se de um opúsculo assinado por SAVIANI em 1983 denominada Escola e Democracia. Depois, na seqüência dessa reflexão provavelmente aprofundou-se no campo temático e no reconhecimento desse autor ao ler o texto precioso de SAVIANI publicado em 1991, denominado Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. Foram duas obras referenciais de suma importância para a educação brasileira e para o esclarecimento dos fundamentos políticos e epistemológicos desse autor e de sua original forma de questionar e analisar a educação brasileira. Tratava-se de uma conjuntura nova aberta pelas condições sociais de luta na sociedade brasileira para a superação do estado

61 Usaremos a designação PHC para expressar a Pedagogia Histórico-Crítica, em função da necessidade de constante referência e repetição dessa expressão.

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de arbítrio determinado pela vigência da ditadura militar que se instalara no Brasil com um golpe militar em 1964, permanecendo até 1985. A década de 1980 foi um tempo de luta, de greves, de enfrentamentos com a ditadura militar decadente e de recuperação do estado de direito, de reposição das eleições diretas assumidas em 1989, depois da promulgação da Constituição Federal em 05 de outubro de 1988. A educação emergia como tema prioritário na pauta nacional e essas duas obras marcaram a identidade epistemológica e política da atuação de Saviani e seus orientandos e pesquisadores integrados a seu pensamento e reflexão, com destaque para seus orientandos no programa de pós-graduação da PUC- SP, “Carlos Roberto Jamil Cury, Neidson Rodrigues, Luís Antônio Cunha, Guiomar Namo de Mello, Paolo Nosela, Betty Oliveira, Mirian Warde e Osmar Fávero” (SAVIANI, 2008, p.70).

Esses autores já marcavam, por suas teses e produções, o contexto daquela década e a conjuntura do debate sobre educação, marcado pela volta dos intelectuais exilados, como Paulo Freire, Florestan Fernandes e outros, agora convocados a pensar a educação com os olhos da reordenação política do país e dos novos e emergentes sujeitos sociais. Saviani (2008) tinha definido uma expressão originalíssima sobre alguns autores e seus estudos sobre educação: a concepção crítico-reprodutivista, que consistia em analisar até criteriosamente a dependência econômica e ideológica da educação, mas consideravam que a educação seria somente uma instancia de reprodução da ordem social, portanto incapaz de promover a emancipação e a superação. Os estudos e pesquisas orientados por Saviani tomavam sobre si a expressão histórico-crítica, isto é, afirmando que a crítica social e política, econômica e pedagógica se faz no contexto da luta histórica, portanto, marcado pelo conceito de contradição e pela dialeticidade da vida política.

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Além da revitalização de bandeiras já clássicas de educação, vividas antes da ditadura militar, outras no transcorrer da própria ditadura, havia um fato novo a considerar a produção da pesquisa em educação: a organização, pelo regime militar, dos programas de pós-graduação em educação pelo país, no âmbito do tecnicismo educacional, iniciados a partir de 1970. Nesses programas, em maior ou menor escala, havia uma produção de pesquisas e críticas à ditadura militar e seu tecnicismo educacional e pedagógico, aliadas à práticas de reprodução idealista e assistencialistas de projetos de educação de adultos ou de alfabetização de massa. A universidade estava desarticulada dos movimentos sociais e muitos dos programas estavam à margem dos orgânicos debates sobre educação. Em alguns estados do Brasil, nos quais a oposição consentida, no transcorrer da ditadura militar, tinha logrado êxitos parciais, como Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná e São Paulo já despontavam projetos de educação contra-hegemônicos e questionadores, criando uma atmosfera para a erupção de uma nova abordagem educacional e pedagógica. Vejamos:

Em nível estadual, diversos governos de oposição ao regime militar, eleitos em 1982, ensaiaram medidas de política educacional de interesse popular, destacando-se: 1. Minas Gerais, com o Congresso Mineiro de Educação, o combate ao clientelismo e a desmontagem do privatismo, colocando a educação escolar pública no centro das discussões; 2. São Paulo, com a implantação do ciclo básico, o estatuto do magistério, a criação dos conselhos de escola e a reforma curricular; 3. Paraná, com os regimentos escolares e as eleições para diretores; 4. Rio de Janeiro, com os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), apesar de seu caráter controvertido; 5. Santa Catarina, onde a oposição não conquistou o governo do estado, mas realizou um congresso estadual de educação que permeou todas as instâncias político-administrativas da educação catarinense (SAVIANI, 2010, pp.406-407).

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Esse é o cenário de original engendramento do que conhecemos como a pedagogia histórico-crítica. Buscava avançar com relação aos demais projetos de pedagogias críticas, educação popular e outras. As práticas derivadas das metodologias eclesiais, os movimentos de educação de adultos, as lutas por escolas voltadas para o trabalho, outras propostas de educação e escola idealistas articulavam-se à luta dos professores, aos congressos de educação, às conferências brasileiras de educação e outros movimentos, estaduais e nacionais, regionais e gerais.

A condição do trabalho pedagógico e o trabalho como princípio educativo emergem desses estudos iniciais, bem como a articulação entre teoria e prática. Numa obra em meados dos anos 1989 Oder José dos Santos expõe num artigo o que denominou de “Esboço para uma pedagogia prática”, publicado em 1985, na qual defende que o conhecimento é uma forma de saber constituído pela prática social. Os textos relidos de Paulo Freire, como o que define que o ato pedagógico é um ato político assumem aqui a contextualização epistemológica categórica do pensamento de Saviani e de sua exposição.

A PHC assume que o professor tem um papel estrutural na ordenação do ato pedagógico, trata-se do articular dos conhecimentos e saberes clássicos, acumulados na cultura humana, com os conhecimentos e necessidades dos alunos e educandos, não resvalando na falácia da pedagogia da escola nova que realça o papel do aluno e relega a ação política do professor a uma posição no mínimo secundarizada. Saviani (2010) aponta também a necessidade de superação dos pressupostos da pedagogia escolanovista assumindo o rumo da pedagogia crítico-social dos conteúdos, elaborada José Carlos Libâneo e apresentada no livro Democratização da

Escola Pública, publicado em 1985. Com base nos critérios estabelecidos

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O papel primordial da escola é difundir conteúdos vivos, concretos, indissociáveis das realidades sociais, sendo esse o melhor serviço que se presta aos interesses populares. E os conteúdos do ensino não são outros senão os conteúdos culturais universais que vieram a se constituir em patrimônio comum da humanidade, sendo permanentemente reavaliados à luz das realidades sociais nas quais vivem os alunos (LIBÂNEO, 1985 apud SAVIANI, 2010 p.419).

Tratava-se de uma opção mediadora integradora e articulada que não propunha a superação ou o fim da escola, ou até mesmo a descaracterização do papel do professor nessa relação, tão a gosto das pedagogias idealistas e alienantes vigentes à época.

A PHC fundamenta-se na tese categórica de que a educação é uma expressão ou fenômeno derivado da prática social. Não se concebe a educação separada dos determinantes objetivos da realidade social. A escola é filha da sociedade, os conflitos que se expressam na sociedade estão presentes e são determinantes na esfera da escola e da educação. No entanto, ao assumir a contradição como categoria de análise igualmente histórica e política a PHC não se reduz ao reprodutivismo que caracteriza as teorias crítico-reprodutivistas, pois assume que o trabalho pedagógico, como espaço e ação política, também influencia e transforma a sociedade, ao articular nossas práticas e novos conhecimentos na direção da superação de um viés determinista ou fatalista.

Ao buscar definir os fundamentos da PHC encontramos no prefácio da 4ª edição da obra Pedagogia histórico-crítica um esclarecedor e precioso texto de Saviani (2008), no qual ele expressa convictamente sua opção pelo materialismo histórico, assumido como teoria social e política que antecede sua concepção educacional ou pedagógica de modo a lograr atingir a concepção de trabalho e modo de produção:

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Trata-se de explicar como as mudanças das formas de produção da existência humana foram gerando historicamente novas formas de educação, as quais por sua vez exerceram influxo sobre o processo de transformação do modo de produção correspondente. É um estudo que não se move sob o acicate das urgências imediatas de conjuntura, mas que se propõe captar o movimento orgânico definidor do processo histórico (SAVIANI, 2008, p.2).

Desse modo, a adoção do referencial marxiano e marxista para a análise do fenômeno da educação e da escola, e suas teorias e disposições integradas para a superação desses condicionantes é o pressuposto basilar da PHC. Ao assumir a concepção marxista, em sua dialeticidade histórica e política, Saviani (2007) retoma a vertente humanista e materialista da concepção de mundo e sociedade nascida de Marx e Engels, nos fins do século XIX, e a transpõe para a realidade do Brasil e suas urgentes e emergentes tarefas.

Do ponto de vista da educação o que significa, então, promover o homem? Significa tornar o homem cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação para intervir nela, transformando-a no sentido de uma ampliação da liberdade, da comunicação e colaboração entre os homens. Trata-se, pois, de uma tarefa que deve ser realizada. Isto nos permite perceber a função da valoração e dos valores da vida humana (SAVIANI, 2007, p46).

Desse modo fica definida a necessidade de um conhecimento histórico, cientifico e crítico da realidade social. A educação e a escola precisam ser devidamente analisadas, de modo a lograr desvendar seu papel ideológico e político, o que exige uma consciência e atuação objetiva dos educadores e professores.

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(...) quanto mais adequado for nosso conhecimento da realidade, tanto mais adequados serão os meios de que dispomos para agir sobre ela. Com efeito, já dissemos que promover o homem significa torná-lo cada vez mais capaz de conhecer os elementos de sua situação a fim de poder intervir nela transformando-a no sentido da ampliação da liberdade, comunicação e colaboração entre os homens (SAVIANI, 2007, p.61).

Ao analisar a função social e política da escola na formação do homem e na reprodução da vida cultural Saviani (2008) expressa que, em sociedades mais simples e diretas a educação e acultura tinham um papel auxiliar na reprodução da vida, mas que, com a organização de sociedades mais complexas essas relações se transformaram, de modo que a escola e a educação passaram a ser formas essenciais de reprodução da vida, daí seu caráter proeminente e estrutural na realidade atual. Nas palavras de Saviani:

Esta passagem da escola à forma dominante de educação coincide com a etapa histórica em que as relações sociais passaram a prevalecer sobre as naturais, estabelecendo- se o primado do mundo da cultura (o mundo produzido pelo homem sobre o mundo da natureza). Em conseqüência, o saber metódico, sistemático, científico, passa a predominar sobre o saber espontâneo “natural”, assistemático, resultado daí que a especificidade da educação, passa a ser determinada pela forma escolar (SAVIANI, 2008, p.8).

Ao assumir a perspectiva socialista de superação das atuais condições de ordenamento da economia e da cultura Saviani (2008) aponta a dialeticidade e a função mediadora da escola e dos saberes escolarizados na construção de uma sociedade justa e igualitária. De acordo com Saviani:

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A pedagogia por mim denominada ao longo deste texto, na falta de uma expressão mais adequada, de “pedagogia revolucionária”, não é outra coisa senão aquela pedagogia empenhada decididamente em colocar a educação a serviço da referida transformação das relações de produção (SAVIANI, 2009, p.68).

Dessa filiação marxista, resgatada a partir da premissa de Marx: “na produção social da sua existência, os homens estabelecem relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que correspondem a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas materiais” (MARX, 1977, p.28) a PHC dispõe seu caráter de enfrentamento das condições de alienação e de potencialidade de construção de uma sociedade igualitária, centrada nas condições de trabalho e de usufruto do trabalho disposta para todos.

Para a PHC, conforme expõe Saviani, (2008, p.22) “a ação escolar permite que se acrescentem novas determinações que enriquecem as anteriores e estas, portanto, de forma alguma são excluídas”. Essa premissa expressa a valorização correta da educação e da escola para todos os sujeitos e grupos sociais, de modo a não cair nos discursos e falácias de negação da especificidade dos saberes escolares ou em reconhecer sua importância para a superação da alienação e da reificação das pessoas.

Reconhecer que a dinâmica da sociedade é dialética, que nada está pronto ou acabado, e que todas as expressões da prática social são passiveis de transformação e de mudanças é outra dimensão decorrente da visão de mundo materialista que embasa a PHC. Saviani (2008, p.11) ressalta: “a compreensão da natureza da educação passa pela compreensão da natureza humana”. O trabalho humano consiste em reproduzir a vida material e simbólica de sua própria existência. Ao transformar o mundo e as coisas o

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homem expressa a dimensão material de sua ação, ao criar símbolos e sentidos expressa a dimensão não–material de sua existência, a cultura.

Para a PHC a escola é a responsável por formar o homem com o saber elaborado, isto é, por garantir-lhe o domínio das funções humanas desenvolvidas, da leitura e da escrita, assim como da “linguagem dos números”, da “linguagem da natureza” e da “linguagem da sociedade”. Coerentemente, para que o homem possa assimilar esses dispositivos e domínio, é preciso que seja plenamente transformado o papel específico da escola:

(...) a escola tornou-se um mercado disputadíssimo pelos mais diferentes tipos de profissionais (nutricionistas, dentistas, fonoaudiólogos, psicólogos, artistas, assistentes sociais etc.), e uma nova inversão opera-se. De agência destinada a atender o interesse da população pelo acesso ao saber sistematizado, a escola passa a ser uma agência a serviço de interesses corporativistas ou clientelistas (SAVIANI, 2008, p.17).

A instituição escolar teria, para a PHC, o papel de formar a pessoa humana plena para assumir sua existência subjetiva e a produção coletiva da vida social. A escola seria a instância mediadora. Saviani expõe essa função mediadora ao afirmar (2009, p.72): “Ora, em meu modo de entender, tal contribuição será tanto mais eficaz quanto mais o professor for capaz de compreender os vínculos da sua prática com a prática social global”. A PHC afirma que o professor é um agente de transformação, um mediador da prática social, e que tal dimensão decorre de sua natureza política esclarecida e comprometida. O professor deve exercer sua contribuição especifica na produção/reprodução dos saberes historicamente acumulados, de modo a facultar ao educando o domínio desses saberes e seu original processo de apropriação. Mas, ao assumir suas funções específicas o

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professor abre espaços e condições para que o educando compreenda a complexidade da sociedade. Saviani (2009) supera de maneira dialética a falsa oposição entre “competência técnica” e “compromisso político” que tantas vezes atravessa e confunde o campo de ação e de reflexão do designer no Brasil, em conseqüência de sua matricial análise da educação.

“É justamente porque a competência técnica é política que se produziu a incompetência técnica dos professores, impedindo- os de transmitir o saber escolar às camadas dominadas quando estas, reivindicando o acesso a esse saber por percebê-lo, ainda que de modo difuso e contraditório, como algo útil à “superação de suas dificuldades objetivas de vida” forçam e conseguem, embora parcialmente e de modo precário, ingressar nas escolas” (SAVIANI, 2008, pp.30-31).

Desse modo não se garante a dialeticidade de ambos com a mera oposição entre esses conceitos. Para a PHC a competência técnica como conceito expressa a categoria de mediação, ou seja, a competência técnica é o meio pelo qual a educação materializa seu compromisso político. Nas palavras de Saviani:

O compromisso político assumido apenas no nível do discurso pode dispensar a competência técnica. Se se trata, porém de assumi-lo na prática, então não é possível prescindir dela. Sua ausência não apenas neutraliza o compromisso político, mas também o converte no seu contrário, já que dessa forma caímos na armadilha da estratégia acionada pela classe dominante que, quando não consegue resistir às pressões das camadas populares pelo acesso à escola, ao mesmo tempo em que admite tal acesso esvazia seu conteúdo, sonegando os conhecimentos também (embora não somente) pela mediação da incompetência técnica (SAVIANI, 2008, p. 36).

Destaca-se aqui a imprescindível articulação entre técnica e política, muitas vezes tão dilaceradas na formação do designer no Brasil. E é

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nosso dever sobressaltar aqui que não se pode admitir a aleatoriedade dessa competência técnica, ela deve ser objetivada na formação do designer, tem que ser expressa numa coerente competência pedagógica, caracterizada com um conjunto de saberes, conhecimentos e práticas que qualifica o educando para compreender como sujeito assujeitado e criativo, criador e autônomo, numa sociedade de contradições. O professor novamente assume o protagonismo:

Daí surge o problema da transformação do saber elaborado em saber escolar. Essa transformação é o processo por meio do qual se selecionam, do conjunto do saber sistematizado, os elementos relevantes para o crescimento intelectual dos alunos e organizam-se esses elementos numa forma, numa sequência tal que possibilite a sua assimilação (SAVIANI, 2008, p.75).

Com maior firmeza a PHC, nas palavras de seu mais original autor, acrescenta:

Como torná-lo assimilável pelas novas gerações, ou seja, por aqueles que participam de algum modo de sua produção enquanto agentes sociais, mas participam num estágio determinado, estágio este que é decorrente de toda uma trajetória histórica? (idem, p. 76).

A PHC expressa que os conteúdos a serem mediados e apropriados nascem de decisão política do educador. Outra decisão refere-se aos métodos, não há aqui a defesa da disciplina febril e paulatina, de cansativa reprodução, mas não há também uma alienante e idealista apologia da criatividade etérea, inefável e abstrata, que fosse posse ou privilegio de pessoas ou de seus dons. O trabalho educativo é um trabalho social.

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Uma pedagogia articulada com os interesses populares valorizará, pois, a escola; não será indiferente ao que ocorre em seu interior; estará empenhada em que a escola funcione bem; portanto, estará interessada em métodos eficazes. Tais métodos situar-se-ão para além dos métodos tradicionais e novos, superando por incorporação as contribuições de um e de outros (SAVIANI, 2009, p.62).

Nessa dimensão a PHC aponta a necessidade de superação tanto dos métodos tradicionais quanto os métodos propalados como nascidos da escola nova, triunfante no Brasil a partir dos anos 1930: buscando acentuar a decisão política do educador:

Serão métodos que estimularão a atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão, porém, da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo dos alunos entre si e com o professor,