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Ao buscar uma maneira de abordar o objeto da dissertação, senti a necessidade de compreender a etimologia da palavra método, para atribuir um sentido ao método que orienta o trabalho.

Segundo Brugger (1962), a palavra método origina-se da proposição: “métodos – atalho – vocábulo compostos por hodos – “caminho” e meta – “junto de” “ao lado de” – o conjunto desses elementos formaria o entendimento de método como: “o caminho seguido para construir”.

. Para Gasparin (1994), o termo método se constitui pelo prefixo grego meta que traduz as idéias de comunidade, participação, ou sucessão e do sufixo hodós que significa via, caminho. Na formação dos vocábulos gregos, Gasparim ainda registra a palavra methodos, que formula a acepção de caminho para chegar a um fim determinado, o que nos remete à idéia de participação e sucessão; o autor ainda sugere a presença de um fazer por alguém ou alguma coisa.

As leituras dos dois textos supra citados e as reflexões sobre método que realizei durante o curso da pesquisa, permitiu-me uma aproximação do campo semântico contido na palavra método. Esse processo, possibilitou-me refletir o sentido do método configurado pelo caminho eleito de investigação que permitiu a construção da pesquisa.

Essa reflexão, encontra interlocução na tese de Barbosa Jr (2002), intitulada “O ethos humano e a práxis escolar: dimensões esquecidas no projeto político pedagógico” , na qual a discussão sobre o método da pesquisa institui a necessidade de reflexão sobre o “sentido do método”.

Barbosa Jr (2002) nos indica que “o método é o produto de um processo de complexificação das estruturas de pensamento” desenvolvidas pelo pesquisador a partir da lógica de investigação encontrada no próprio objeto em um movimento que articula as relações entre “leitura, observação, reflexão e exame paciente”. Uma articulação, na qual a formulação do conhecimento caracteriza-se por um estado profundo de busca e criação. É nesse sentido que Barbosa Jr (2000) tece as suas proposições:

Abandonamos, no nosso estudo, a possibilidade de conceber o método como algo que inspira, que se adota ou se utiliza em uma pesquisa. Ao nos afastarmos dessa idéia, fomos invadidos pelo desejo de compreender o método em si e, nos apropriarmos de seu sentido. Nada é mais fácil do que julgar o que tem conteúdo e solidez; apreendê-lo é mais difícil; e o que há de mais fácil é produzir sua exposição, que unifica a ambos (p.55 ).

A compreensão e sentido do método para esse autor se deram em suas pesquisas através da reflexão que formula a existência do método imerso em um lógos5 que o constitui lugar de materialização.

Nessas formulações Barbosa Jr (2002) me convida a pensar a existência do método em uma relação de reflexão e não de aplicabilidade, “O método não é algo

que paira sobre nossas cabeças ou possui uma existência fora do lógos. Ele também não é um instrumento para inspirar ou ser utilizado” (p.55).

Essas relações instituem uma compreensão de que o método da pesquisa é algo pensado e constituído pelo pesquisador quando o mesmo se apropria das teorias que o orientam em suas discussões e passa a construir, na investigação, formulações apreendidas e abstraídas sobre o objeto em si mesmo, atribuindo esse movimento ao que o referido autor vai chamar de “consciência complexificada”. Vejamos o que Barbosa Jr (2002), sugere sobre esta questão:

Só uma consciência complexa é capaz de um movimento que abstrai e apreende diversos aspectos da lógica interna do objeto, enquanto um esta-aí, para num momento posterior produzir uma leitura desse mesmo objeto. (p.58)

A partir dessas formulações, o método da investigação encontra seu sentido na interpenetração que realizei do repertório de leituras construído e o exame paciente sobre vários aspectos do objeto investigado.

Essa concepção de método me permitiu elaborar as seguintes reflexões metafóricas: E se eu pensasse o método pela imagem de um bosque que me convida a escolher a senda que em seu infinito de paisagem quero percorrer? Será que se eu olhar sua infinitude, saberei ao certo qual caminho escolher? Ou terei sempre a sensação de que a busca é a única certeza precisa do encontro com suas folhagens?

Dessa forma, olhar para o bosque ou realizar a leitura cartográfica do seu percurso não me bastaria, assim como não me bastaria identificar e nomear sua vegetação.

Precisaria muito mais que a mera descrição das possibilidades de incursão por suas veredas. Seria necessário descansar ao tronco de suas árvores, conhecer seu microcosmo, sentir o odor e seus cheiros, perceber a textura, as formas e cores de suas folhagens. Precisaria me defrontar com as certezas e incertezas de seu solo e retornar ao começo da senda escolhida com a sensação de que em uma nova incursão, seus caminhos ainda me revelariam elementos desconhecidos.

Estaria assim, em contato com a complexidade e os movimentos cíclicos do bosque, vivenciando o estado de vida e degeneração de suas espécies, percebendo o conjunto de significações que traduzem a sua existência em si mesma.

A ação de pesquisa refletida através da analogia de desvendamento das sendas desenhadas pelas folhagens em um bosque, me sugere pensar no estado permanente de buscas e escolhas as quais o objeto de investigação pode me sugerir.

Nesse sentido, a fim de perceber a complexidade dos materiais didáticos da Escola do Rádio, percorri o caminho de leitura que neles estava sugerido, articulando o ouvir, pintar, desenhar, ler e escrever na formulação das atividades que se apresentavam através da interelação entre a locução radiofônica e o desvendamento das formas, linhas, cores e imagens materializadas nos livros de estudo.

Através desse itinerário de investigação, percorri as sendas do objeto da pesquisa, enveredando pela concepção de material didático formulada pelo

e maneiras de sua utilização pelos alunos e professores que participaram do programa, bem como quais as representações de ensino e aprendizagem acerca do processo de alfabetização que neles estão configuradas.

Dessa forma, o método da pesquisa funda-se na “complexificação da consciência” sugerida por Barbosa Jr (2002), através da articulação entre o objeto de estudo e as apropriações teóricas que possibilitaram pensar essa investigação de análise educacional na perspectiva de abordagem da História Cultural.