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A AIDS é uma doença amplamente conhecida, talvez uma das mais abordadas nos lares, nas conversas cotidianas, na mídia nacional e internacional. Segundo Loyola (1994), a vinculação à mídia não se dava necessariamente pelo seu caráter informativo, enfocando o conteúdo de mensagem, senão funcionando com veículos de alto consumo, divulgando imagens de artistas famosos (ANEXO IV), tratando a doença como celebridade. No seu início, a doença parecia realmente distante, era coisa de artista, gente rica e famosa que vivia na promiscuidade. O levantamento jornalístico da vida pessoal dessas pessoas comumente revelava alguma penumbra em sua conduta, permanecendo assim por anos vinculado o mito da AIDS – o que não demorou a ser incorporado pela sociedade. Atualmente, com o advento de novas interações medicamentosas, é menos provável que se encontrem pessoas com a facies com a qual a AIDS se apresentava. Essa percepção da AIDS como coisa de outro traz consigo uma

série de conceitos pré-formados e condutas que certamente influenciam o comportamento do profissional na sua relação com a clientela.

“Eu acho também que às vezes o que eu percebo é que a gente ainda pensa que a doença não vai chegar na gente, a gente sente muita AIDS no outro, acontece lá longe, eu não tenho ainda nenhum amigo ou nenhuma pessoa próxima minha que tenha AIDS e eu acredito que essas pessoas também não tenham ainda, então eu acho assim que a gente não imagina ainda a doença perto da gente”.

“A própria criação da gente, a gente às vezes é criada num sistema que é aquela coisa, por exemplo, você atende uma pessoa que é prostituta, então tem profissional que já começa a ver com outros olhos essa pessoa, um homossexual você já vai ali querendo ou não tratar de outro jeito, então acho que nós temos que ser trabalhados pra mudar isso”.

Pode-se observar que ainda existe a concepção mítica de que a AIDS é doença

do outro, dos que se enquadram nos anteriormente denominados grupos de risco, como

drogados, promíscuos, prostitutas. No início da epidemia, se instaurou uma confusão geral, acompanhada de uma caça às bruxas, notadamente aos homossexuais. Atualmente a AIDS não causa tanto pânico como no inicio, pois os jovens de hoje não estiveram embalados pelo terror aparente da doença e não participaram da dor pública de uma morte anunciada e aos que presenciaram aquele momento restou a lembrança de uma

história que parece ir pertencendo ao passado. Para Catonné (2001), percebe-se aí um

sinal de maturidade coletiva. A prevenção à AIDS, pautada em medidas que

desencadeiem o terror coletivo, provou não ser a melhor forma de combate à doença, visto que a incidência de pessoas infectadas foi crescendo cada vez mais. Pleiteava-se a noção de que o medo referente à AIDS diminuiria, caso a população fosse informada sobre a doença e suas formas de transmissão. A partir desse pressuposto, foram desencadeadas no País e no mundo diversas medidas educativas, implementadas sobretudo pelas unidades de saúde pública em diversos setores da sociedade. Vários avanços no que diz respeito à prevenção da AIDS no Brasil já foram alcançados, no entanto, apesar de anos de epidemia, ainda se pode observar crescente aumento das doenças apesar dos muitos esforços empreendidos também pela população civil e grupos organizados dos movimentos sociais.

Em seguida vê-se que a dimensão moral encontra sua face singular na problemática do medo e da culpa, no caso do HIV. Vejamos:

Porque o HIV é uma situação extrema aí fica uma coisa um pouco do nosso imaginário e do nosso medo em relação a AIDS e em relação a uma doença sexualmente transmissível concreta, que você tem às vezes ali na unidade um medicamento, que você fez aquele treinamento de abordagem sindromica e você tem mais ou menos a conduta a tomar em relação ao tratamento, esse medo permanece também.

Existe receio do profissional de como lidar com isso tem até um receio em relação às perguntas que o paciente faz pra você naquele momento ali você como profissional “isso foi o meu

marido?” aquela estória do aconselhamento, então o profissional acho que às vezes até naquele momento ele fica com um certo receio até de vim essas perguntas a tona e você tem que ter uma saída, você tem que orientar e como se diz, o paciente observa bem quando o profissional está firme na resposta ou está tentando ludibriá-lo.

Como um desdobramento desse aspecto, vê-se o medo que os profissionais de saúde alardearam que têm, ao lidarem com AIDS. E aqui que aparece de um modo mais forte , a idéia de que seus próprios valores morais podem, interceptar um trato com paciente que seria desejável ter com o paciente observemos:

A própria criação da gente, a gente às vezes é criada num sistema que é aquela coisa, por exemplo, você atende uma pessoa que é prostituta, então tem profissional que já começa a vê com outros olhos essa pessoa, um homossexual você já vai ali querendo ou não, então acho que nós temos que ser trabalhados pra isso.

Eu acho que tem a ver realmente cada individuo a sua carga de conceitos formados ao longo de sua vida, até mesmo a questão familiar, religião e às vezes outros fatores como a sua própria experiência, se ela não tiver tido uma relação bem estruturada na própria vida pessoal, ela pode muito bem carrear pro

paciente e o paciente sair dali com uma outra visão que não é uma visão correta

Do imaginário na relação com a AIDS, vincula-se a esse medo, em grande medida, o problema da culpa, certamente marcado, também, pelo estigma dos guetos, do histórico da AIDS como peste “gay”, da idéia de grupos de risco, impureza e promiscuidade.

O PRESERVATIVO COMO INSTRUMENTO DE INTERMEDIAÇÃO