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A reflexão que pretendemos apresentar acerca dos conceitos de classes sociais, lutas de classes e as relações de classes, raça9 e gênero10, tem como categoria central o trabalho e as contradições das relações de produção na sociedade capitalista. O presente texto, propõe uma leitura apoiada na perspectiva da Teoria Social Marxista11, contribuição bastante relevante, para compreender o processo histórico das relações e reproduções sociais do modo de produção capitalista. Para elucidar o debate no cerne dessa discussão, faz-se necessário, apontar algumas considerações fundamentais e seus mecanismos sócio históricos, que corrobora com processo de organização das “classes trabalhadoras”, reverberando ainda, sobre as diversas formas de resistências e rebeldias da “classe-que-vive-do-trabalho” contra a exploração, desigualdades racial, sexual, de classe e a dominação capitalista.

Não é por acaso que, as estruturas basilares do capital (relação de propriedade, trabalho e de classes) orientam e determinam ainda hoje, as condições materiais de acumulação e dominação do modo de produção capitalista. Por esse viés teórico, Graça Druck afirma que, Marx e Engels formularam a teoria sobre classes sociais em dois eixos estruturantes sobre o capitalismo

[...] explicam a gênese e formação das classes na sociedade capitalista, analisando quando e como as classes se fizeram e, portanto, como se estrutura a sociedade baseada na exploração do trabalho e na sua apropriação privada. É a materialidade social no desenvolvimento histórico, onde o trabalho ocupa lugar central.

[...] recorte analítico [...]. Isto é, as análises que buscam identificar e compreender, ao longo das diferentes conjunturas históricas, quais são as (novas) configurações das classes, através das lutas e enfrentamentos quais elementos permanecem desde a gênese e quais são acrescentados a partir da experiência das lutas de classes, do desenvolvimento das forças produtivas capitalistas e dos processos estritamente políticos expressos nas formas de organizações do Estado, dos partidos, dos sindicatos e dos movimentos sociais (DRUCK, 2015, p. 108-109).

9 “Por trás da raça sempre há contingência, conflito, poder e decisão, de tal sorte que se trata de um conceito

relacional e histórico. Assim, a história da raça ou das raças é a história da constituição política e econômica das

sociedades contemporâneas” (ALMEIDA, 2018, p. 19). Ver também, Ianni (2004) e Gorender (1998).

10 “Não há dúvida de que, na “transição do feudalismo para o capitalismo”, as mulheres sofreram um processo excepcional de degradação social que foi fundamental para a acumulação de capital e que permaneceu assim desde então”. (FEDERICI, 2017, p. 146).

11 Uma teoria social da sociedade burguesa, portanto, tem que possuir como fundamento a análise teórica da produção das condições materiais da vida social. (NETTO, 2011, p. 40).

Notadamente a partir da acumulação intelectual dos filósofos revolucionários, Friedrich Engels e Karl Marx, subsidiaram o aporte teórico que culminou na elaboração da crítica da economia política capitalista, bem como: Ideologia Alemã (2001); Manifesto do Partido Comunista (2008); A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra (2010); O 18 de Brumário de Luís Bonaparte (2011); O Capital: Crítica da economia política (2013), dentre tantas outras obras. Dito isto, a teoria marxiana tem como objeto de análise, a “estrutura e a dinâmica” da sociedade burguesa, em outras palavras, “a teoria é, para Marx, a reprodução ideal do movimento real do objeto pelo sujeito que pesquisa: pela teoria, o sujeito reproduz em seu pensamento a estrutura e a dinâmica do objeto [...]”. (NETTO, 2011, p. 21).

Todavia, em tais circunstâncias Marx (2013, p. 127), destaca que, todo e qualquer “[...] período histórico possui suas próprias leis [...]. Tão logo a vida tenha esgotado um determinado período de desenvolvimento, passando de um estágio a outro, ela começa a ser regida por outras leis”. Tais considerações nos permitem inferir que essas relações subsistem no capitalismo, por sua vez, afirmamos segundo a teoria social, tão-somente possível existir classes na relação social de lutas de classes; de tal modo, suas conformações e configurações de organização dependem do grau de exploração exposto em determinada conjuntura política e social em que estão inseridas.

[...] a heterogeneidade ou a homogeneidade, a complexificação ou a simplificação das classes são processos e como tais devem ser analisados tomando por referência as realidades concretas, especialmente as transformações que redefinem a condição de subordinação do trabalho ao capital e as decorrentes implicações na conformação de uma e outra classe (DRUCK, 2015, p. 109).

Notoriamente, as classes são historicamente deliberadas pelas condições materiais das relações sociais de produção. Por essa razão, Marx “extraiu a lei geral da acumulação capitalista, segundo a qual, no modo de produção capitalista, a produção da riqueza social implica, necessariamente, a reprodução contínua da pobreza (relativa e/ou absoluta); [...]”. (NETTO, 2011, p. 23). Do mesmo modo, o campo conceitual observado pelos autores se estrutura, a partir das leis internas que determinam as bases materiais e as suas relações sociais na sociedade burguesa. Em suma

Os fatores dinâmicos das transformações sociais devem ser buscados no desenvolvimento das forças produtivas e nas relações que os homens são compelidos a estabelecer entre si ao empregar as forças produtivas por eles

acumuladas a fim de satisfazer suas necessidades materiais. (GORENDER, 2013, p. 30).

Não obstante, em o Manifesto do Partido Comunista (1848), Marx e Engels (2008), escreveram sobre “a história das lutas de classes”, ocupando-se especialmente sobre a sociedade capitalista. Afirmam que, todas as sociedades estão estruturadas e hierarquizadas sobre os moldes das contradições e antagonismo de classes. Os autores, criticam as condições econômicas, as estruturas hierarquizadas da sociedade de classes e a exploração entre “capital- trabalho”, sendo ainda, a fonte mais rentável de acumulação do modo de produção capitalista. Assim, segundo o materialismo dialético, Gorender (2013, p. 39), reitera que, “para os proprietários dos meios de produção e de subsistência, a exploração da força de trabalho assalariada é a condição básica da acumulação do capital mediante relações de produção já de natureza capitalista”.

Desse modo, “[...] a especificidade da exploração do trabalho pelo capital, inserida num modo de produção que leva ao extremo o tradicional conflito de classes que marca toda a história”. (GIANNOTTI, 2013, p. 86). Como observaram os autores, assim como, o trabalho é a base da acumulação capitalista, as lutas de classes, são forjadas no interior do antagonismo e das contradições do capitalismo, e por meio dessa dimensão, no processo das lutas de classes que as “classes trabalhadoras” desenvolvem a consciência de classe e sua emancipação social. Como apontado por Marx e Engels (2008, p. 42), a dissolução e o desaparecimento dos antagonismos de classes, ocorrerá somente pelo processo da luta política e pela ruptura radical “com as relações de propriedade remanescentes; [...], com ideias do passado”.

Em vista disso, a tradição marxista contribuiu evidentemente, para elucidar as concepções das relações sociais de produção, a superação desse sistema, suas condições materiais, culturais, ou seja, a totalidade concreta do desenvolvimento do modo de vida das(os) trabalhadoras(es), categorias determinantes que delineiam as relações fundamentais na luta de classes. Determinam que, historicamente as classes são

Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, membro das corporações e aprendiz, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em contraposição uns aos outros e envolvidos em uma luta ininterrupta, ora disfarçada, ora aberta, que terminou sempre com a transformação revolucionaria da sociedade inteira ou com o declínio conjunto das classes em conflito.

Toda a sociedade se divide, cada vez mais, em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes diretamente opostas: a burguesia e o proletariado. (MARX; ENGELS, 2008, p. 8-9).

Marx e Engels (2008) estruturam a teoria social, buscando compreender a economia política, as relações sociais e as condições materiais sócio-histórica da sociedade burguesa. “Ao dotar os conceitos de historicidade, Marx atenta para as diferentes vias de suas particularizações, assim como para as diversas maneiras pelas quais o universal e o particular se relacionam”. (GIANNOTTI, 2013, p. 89). Sobretudo, Marx (2013, p. 128) sustenta, “que cada etapa de desenvolvimento tem sua própria lei da população [...]. Com o desenvolvimento diverso da força produtiva, alteram-se as condições e as leis que as regem”. Observa-se que as leis e suas reformulações, ainda se aplicam na atual sociedade capitalista.

De acordo com Netto (2011), Gorender (2013) e Giannotti (2013), Marx extraiu do estudo do método a realidade concreta, contextualizou a totalidade que determinam as análises tangíveis do modo de vida, para além disso, sintetizou “as categorias” que sistematizam as articulações da “sociedade burguesa”, definiu como “categorias ontológicas (trabalho, valor, capital etc.) ” e as “categorias reflexivas”, isto é, as “categorias são históricas e transitórias”, como de fato, afirma Marx (2013). José Paulo Netto, em sua reflexão sobre a Introdução ao Estudo do Método de Marx, que o referencia afirmando,

[...] se a economia burguesa fornece a chave da economia da Antiguidade, [...] – as categorias não são eternas, são historicamente determinadas e esta determinação se verifica na articulação específica que têm nas distintas formas de organização da produção. (NETTO, 2011, p. 49).

Nessa direção, a teoria marxiana dedicou-se, a estrutura e a dinâmica da realidade concreta do capital, que nos leva a compreender a partir, do processo crítico-analítico os dados factuais e as particularidades reais, que determinam a vida concreta na sociedade moderna de classes. Certamente, o arranjo entre as “[...] forças produtivas e relações sociais de produção, constitui a matriz econômica de todo o modo de produção e é a que determina, inclusive, os demais aspectos do econômico: a circulação, distribuição e consumo de bens materiais”. (CUEVA, 1997, p. 70).

Compondo então, segundo Cueva (1997), a superestrutura social, que condiciona os processos das organizações e instituições fundamentais na organicidade desse sistema, todavia, abriga dimensões ideológica e jurídico-político que representam e reproduz os lastros da sociedade de classes. Trata-se, evidentemente da concretização das articulações complexas e necessárias enquanto, condições da realidade concreta e historicamente determinada no funcionamento do modo de produção capitalista. Sob essa perspectiva, Silvio Almeida (2018) pondera, a respeito da habilidade que as instituições possuem de neutralizar os conflitos e os

antagonismos peculiares à vida social. Argumenta ainda, sobre a capacidade de ordenamento funcional na estrutura social em atuarem sob o comportamento dos indivíduos inseridos no tecido social. Assim, “é no interior das regras institucionais que os indivíduos tornam-se sujeitos, visto que suas ações e seus comportamentos são inseridos em um conjunto de significados previamente estabelecidos pela estrutura social”. (ALMEIDA, 2018, p. 30).

Tais condições, marcam e condicionam o lugar das relações de classes sociais, o papel do negro(a) e da mulher na estrutura da sociedade moderna. Engels, em sua obra clássica da tradição socialista revolucionária – A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, escrita entre (1844-1845) – apresenta uma contribuição fundamental e importante, para o desenvolvimento do estudo sobre a centralidade do processo de revolução industrial; desenvolvimento das forças produtivas; as condições históricas do incremento da industrialização que perfilou as cidades e a formação da então, moderna classe operária.

Com isso, corroborou com a análise que desvenda as causas e os efeitos que origina a miséria e o pauperismo da classe operária; a manutenção da riqueza da classe burguesa; a lei da concorrência “como elemento chave na determinação das relações entre classes e intra classes”. (DRUCK, 2015, p. 113), que evidencia a disputa política. Engels observou tanto, as crises periódicas do capitalismo, como também, a possível revolução da classe proletária de sua época. Assim segundo Netto (2010, p. 25)

É no marco desses estudos que Engels, [...], descobre a importância capital, para a compreensão da vida social, das condições em que se opera a produção da vida material da sociedade – donde a relevância que a revolução industrial adquiriu na sua apreciação da sociedade inglesa. Mais: no seu pensamento desse período já se encontra, embrionariamente, uma determinação que só posteriormente Marx alcançaria, incorporando-a plenamente na sua análise da dinâmica capitalista [...].

Para além disso, Engels (2010) analisou as contradições da condição material e social, as relações de produção na reprodução no desenvolvimento do processo da formação da sociedade, sistematizou a partir, de sua pesquisa empírica e observação, também como, ator social e revolucionário nesse processo, a totalidade concreta da classe operária da época. Concluindo que, a sociedade capitalista se divide em duas classes fundamentais, “[...] de um lado, uns poucos Rothschilds e Vanderbilts, proprietários de todos os meios de produção e de subsistência; de outro, a enorme massa de assalariados, que possui apenas a sua própria força de trabalho (ENGELS, 2010, p. 348), disponíveis a vender por determinada soma e ao mesmo

tempo, produz nessas horas suplementares de trabalho o excedente, constituindo assim, a mais- valia, por conseguinte, sendo apropriado pelo capitalista, originando a miséria do proletariado.

Netto (2011) destaca que a “teoria social permanece em construção”, tornando possível a abstração da realidade concreta, que implica, no que lhe concerne, na análise da “questão social”, configuração das contradições de classes, desigualdade racial, gênero e das crises econômicas, certamente, intrinsicamente relacionadas ao modo de produção capitalista. Orientado, a partir das bases do materialismo dialético, na convergência conceitual sobre classes sociais e lutas de classes, muitos autores marxistas afirmam essa relação e sistematizam esses conceitos. Por esse viés, desenvolveram seus estudos acerca desses conceitos e construíram um arcabouço teórico qualificado e alicerçados nos estudos de Engels e Marx.

Todavia, ainda hoje, como já mencionado, a tradição marxista permanece em constante propagação, sendo, difundida a fim de responder questões pouco trabalhada na teoria social crítica, principalmente no Brasil. Não que essas abordagens sejam insuficientes, mas analisá- las, com o objetivo de superar os equívocos, o reducionismo e a concepção simplista sobre as categorias analíticas, como apontado pelas(os) autoras(es). Desse modo, avançar as barreiras dentro do próprio marxismo. Nessa direção Gonzalez (1984, p. 232 apud FREUD, 1925), ressalta, “é por aí que a gente compreende a resistência de certas análises que, ao insistirem na prioridade da luta de classes, se negam a incorporar as categorias de raça e sexo. Ou sejam, insistem em esquecê-las”. As considerações da autora, refletem o impasse de algumas analises teóricas, também, no campo marxista por não incorporaram os elementos de gênero e raça, mas priorizaram somente classes sociais, contudo, a partir desse referencial, afirmamos que, essas categorias estão interligadas e são relacionais.

No entanto, esses infortúnios têm suscitado debates que atendem somente a relação das preposições que divide classe e raça em polos dissociáveis e, trata o racismo ou classes sociais como algo secundário. Para mais, as análises que nos interessa, são as que trazem o debate sobre a composição de classes, todavia, articulando classe e raça, a outras categorias que também, são significantemente importantes para dar conta das contradições nas lutas de classes. Nesse sentido, Almeida (2018, p. 145), afirma que essas categorias estão imbricadas, isto é, os sujeitos constituem as categorias, como “indivíduos concretos que compõem as classes à medida que se constituem [...] como classe e como minoria nas condições estruturais do capitalismo. Assim, classe e raça são elementos socialmente sobredeterminados”.

Outra questão ainda que merece atenção, são as teses de cunho pós-moderna e pós- estruturalista, que abordam o fim da categoria de classes. Tais análises equivocadas, “decorrem das interpretações que deformaram, adulteraram e/ou falsificaram a concepção teórica-

metodológica de Marx”. (NETTO, 2011, p. 11). Sobretudo, acreditamos que, para superar os equívocos aqui mensurados, é necessário reconhecer as contradições no interior dessas abordagens e do próprio marxismo, e acrescentar a está, outas contribuições teóricas, ainda que não marxista, todavia de pensamento social crítico, para auxiliar na compreensão da totalidade das relações sociais.

A teoria elaborada por Engels e Marx (2008), refuta a compreensão de teses sobre classes restrita a dimensão de renda e estratificação social, ou, de conjectura que se fundamentam do “esgotamento das sociedades industriais”. Por sua vez, as críticas à teoria de classes da tradição marxista alicerçam suas análises em diversas explicações, dentre elas – “em que o trabalho e as classes sociais não são mais os eixos sociabilizadores determinantes”. (AMORIM, 2015, p. 87). Isto é, reduzindo os estudos analítico-dialético somente a fábrica e/ou a produção industrial.

Há dois contrapontos fundamentais que orienta nossa análise, o primeiro é reafirmar a partir do arcabouço do materialismo histórico a centralidade das classes fundamentais e suas frações de classes no debate teórico sobre as lutas de classes na atualidade. Que contrapõe e supera a perspectiva do economicismo, que não “igualam os diferentes, transformando-os em “nichos do mercado” a serem devidamente seduzidos na condição de “consumidores” passivos” (FREDERICO, 2009, p. 1), havendo, nesse sentido, a supressão do comportamento político de atores sociais de mudança, corroborando para o esvaziamento do ser social na contradição das lutas de classes. O outro é, analisar esses estudos a despeito da “negação da classe como categoria analítica” como traz Davis (2016, p. 75) para considerar questões estruturais.

Nesse contexto analítico, um dos autores que têm bastante contribuído no campo marxista e estuda algumas das categorias analisada por Marx; e Engels é o professor sociólogo Ricardo Antunes. Direcionado pelo objeto de estudo sobre a temática “trabalho” e suas novas formas de relação que adentra o mundo capitalista moderno, destaca ainda, a conformação da classe trabalhadora e suas importantes tendências, bem como, a situação da “classe-que-vive- do-trabalho” na contemporaneidade. Para Antunes (2009, p. 51), “[...] a classe trabalhadora compreende a totalidade dos assalariados, homens e mulheres que vivem da venda da sua força de trabalho, a “classe-que-vive-do-trabalho” e que são despossuídos dos meios de produção”.

Conforme o autor, com o advento da reestruturação do capitalismo em escala global, o mundo do trabalho complexificou-se e, transformou as relações sociais e o trabalho humano. Isto, é, “apesar de as determinações de classe continuarem operantes e fundamentais, a dinâmica da sociedade capitalista contemporânea reservou para esse momento uma alteração na sua estrutura de classe”. (RIBEIRO, 2014, p. 108). Desse modo, “a classe trabalhadora hoje é mais

ampla, heterogênea, complexa e fragmentada do que o proletariado industrial do século XIX e início do século XX”. (ANTUNES, 2015, p. 27).

Não obstante, Frederico (2009, p. 1), entende o conceito de classes como “[...], um componente estrutural da sociedade capitalista e, ao mesmo tempo, como sujeitos coletivos que têm suas formas de consciência e de atuação determinadas pela dinâmica [...]” social em que estão inseridos. Esse processo foi também, descrito por Amorim e Silva (2015, p. 10), embasados pela teoria marxiana elucidaram o conceito de classes sociais a partir do entendimento que as classes,

[...] se constituem na luta, ou seja, em termos de relações antagônicas de classe, [...]. Não são apenas as condições objetivas: semelhanças econômicas (renda e/ou ocupação profissional, por exemplo), mas também as semelhanças de interesses e as similitudes culturais o que formam as classes sociais. [...]. Representa tomar a experiência de classes em termos históricos para realçar como os agentes realmente atuam e/ou atuaram em termos políticos, ideológicos, culturais e econômicos em uma determinada formação social.

Por conseguinte, os autores reafirmam a centralidade analítica teórico de classes e lutas sociais, segundo a historicidade da luta de classes na dinâmica da organização da sociedade burguesa. Trata-se, ainda, segundo Ribeiro (2014, p. 103), com tal característica que “assevera centralidade das classes sociais determinada por relações antagônicas entre as forças sociais, considerando a possibilidade de uma solidariedade coletiva que impulsiona formas de organização universalizantes”. Ou seja, se constitui a partir da complexa estrutura contraditória de lutas e conflitos determinado historicamente, que se conformam fundado na “sua experiência, seus fluxos e refluxos, avanços e recuos, sua organização, reorganização e desorganização”. (AMORIM; SILVA, 2015, p. 10). No que lhe concerne, de acordo com a tradição marxista, o desempenho das lutas de classes é como força motriz na história e, corrobora de modo concentrado e contraditório na sociedade capitalista.

De modo que, não podemos fragmentar a composição social de classes e lutas de classes, nem tão pouco, deslocar da relação social e de seu “caráter histórico em que a produção social se realiza”. Não obstante, as transformações no mundo da produção e do trabalho se reconfiguraram e imprimiu mudanças que impactam as “classes trabalhadoras”, contudo, o antagonismo permanece ainda como estrutural na sociabilidade. No que diz respeito, à organização do trabalho, Antunes afirma que houve uma revolução informacional acompanhada de uma heterogeinização da classe trabalhadora, que se concretizou na flexibilização e precarização das relações trabalhistas. “Esse conjunto de metamorfoses alterou em alguma medida a forma de ser da classe trabalhadora” (ANTUNES, 2009, p. 51),

“redesenhando novas e velhas modalidades de trabalho”, diversificando formas de precarização e flexibilização, que desemboca no desmonte da legislação social protetora do trabalho.

Para além disso, delineando “os hábitos, costumes, valores, práticas e identidades de classe, estruturados anteriormente, foram solapados pelas transformações econômicas e políticas impostas pelos interesses capitalistas”. (AMORIM; SILVA, 2015, p. 13). Com a finalidade de escamotear também, o superlucro, sobrepor os interesses e hegemonia burguesa e, que implicam sobre a vida das(os) trabalhadoras(es) e nas formas de organizações, ocasionou de alguma maneira na retração das lutas sociais12 no final do século passado, até determinado