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3 A INTERSECCIONALIDADE GÊNERO E DIVERSIDADE SEXUAL NO LIVRO

3.3 CONCEPÇÕES DE DIVERSIDADE SEXUAL NOS LIVROS DIDÁTICOS DE

Trabalhar sexualidade no ambiente acadêmico, apesar de já estarmos no século XXI, ainda é um tabu que por vezes faz com que a temática não seja desenvolvida pelos professores em aula, apesar de se tratar de um processo fisiológico do corpo e inato a condição de ser humana. Nesse sentido, Iuri Oliveira Mateus e Fernanda Telles Márques (2018, p. 93) evidenciam que o tema é

Cercado de tabus, o assunto sexualidade envolve uma dimensão cultural, valores morais, crenças sociais e também embates políticos, o que dificulta sua abordagem pelos professores. Além de apresentar diretrizes e propor políticas públicas, cabe ao Estado atentar à formação deste profissional e à formação daqueles que serão seus formadores.

Desta forma se apresenta complexa a abordagem do tema em razão, sobretudo, das pressões sociais vivenciadas, porém, omitir, se fazer calar o desenvolvimento da diversidade sexual no ambiente escolar também se apresenta uma tarefa árdua, já que vai além do querer e como dito, trata-se de um processo fisiológico do corpo humano, ainda mais na adolescência, onde a sexualidade está ainda mais aflorada, fase de maior transformação do corpo, que se enfrentam sensações e descobertas do corpo.

Assim, apesar da “escuridão” que permeia a temática, a sexualidade se faz presente na escola por meio das atitudes, pelas expressões e gírias usadas pelos alunos, nos trejeitos dos alunos, nas dúvidas e questionamentos em sala de aula e, principalmente, na convivência entre os alunos e alunas.

Nas representações textuais da diversidade sexual observamos o conteúdo apresentado, os temas desenvolvidos em cada uma das unidades e em cada capítulo do livro didático, como a diversidade sexual é abordada.

Nas representações da diversidade sexual em imagens analisamos as figuras que ilustram todas as unidades e capítulos do livro didático, utilizando como critério as representações da diversidade sexual presente nas imagens e o que cada imagem representa em um contexto sexual.

3.3.1 O livro didático de História

A leitura e análise do conteúdo nos permite a apresentação das concepções de diversidade sexual presentes no livro didático de História de Boulos Júnior (2015), que é escrito em quatro unidades temáticas.

Em nenhum momento das quatro unidades do livro didático são apresentadas construções textuais que dissertam sobre a sexualidade, sobre a diversidade sexual de forma direta, tão pouco é citado, em qualquer passagem do livro, uma sexualidade diversa da heterossexualidade.

Apesar de não abordar a diversidade sexual de forma direta, podemos constatar no livro de Boulos Júnior (2015) a representatividade heterossexual pela formação das famílias nas imagens que ilustram o livro:

FIGURA 34 - Família do imperador russo Nicolau II (1895-1917).

FIGURA 35 - Família em seu abrigo nuclear construído no quintal de casa

Fonte: Boulos Júnior (2015, p. 163).

Além da representatividade heterossexual pela formação das famílias nas imagens que ilustram o livro de Boulos Júnior (2015), podemos observar ainda a heterossexualidade nas propagandas em cartazes com o objetivo de conseguir dinheiro para as campanhas militares e convencer homens a se alistarem, em uma imagem que exibe uma mulher branca de braços abertos:

FIGURA 36 - Propaganda para atrair investidores e soldados para participarem da guerra.

Podemos observar também, de forma velada, em várias passagens textuais do livro de Boulos Júnior (2012), a representatividade heterossexual pelo uso da expressão “a família”, utilizada em um contexto de formação pela presença do marido, esposa e filhos, assim como, das expressões “a mulher” e “a esposa”, utilizada em um contexto de posse ao retratar chefes de estado e da família. Visível ainda, a heterossexualidade ao abordarem o papel da mulher no nazismo:

O papel da mulher era definido nos seguintes termos: responsável pela reprodução da raça, cabia a ela o desempenho de funções relacionadas à sua natureza biológica, ou seja, procriar, cuidar dos filhos e da família. Eram identificadas com a maternidade, o trabalho doméstico; no plano profissional lhes era permitido, no máximo, o exercício de algumas profissões essencialmente femininas, como professoras, enfermeiras, parteiras. Ainda que fossem consideradas inferiores, ganharam relevância no papel de mãe dos filhos da pátria (BOULOS JÚNIOR, 2015, p. 119).

Desta forma o livro de Boulos Júnior (2015) evidencia a heteronormatividade presente em toda a história da sexualidade, sequer abordando qualquer outra sexualidade existente, optando pela negação/omissão da diversidade sexual nos períodos históricos abordados, e, destacando, mesmo que de forma indireta, apenas a heterossexualidade.

3.3.2 O livro didático de Ciências

O livro didático de ciências de Canto (2012), conforme anteriormente evidenciado, é escrito em quatro unidades temáticas. A unidade 1 e 2 em momento algum, em suas construções textuais e imagéticas, desenvolvem a temática da diversidade sexual de forma direta ou indireta.

A terceira unidade, Vida e Ambiente, apesar de não abordar a diversidade sexual de forma direta, apresenta algumas passagens textuais e imagéticas, que representam a sexualidade, aliás, a heterossexualidade, conforme se observa na imagem 29 (p.117).

O capítulo 17, desta unidade, desenvolve a temática da Reprodução dos seres vivos e variabilidade dos descendentes, evidenciando a reprodução sexuada e por natureza, heterossexual.

FIGURA 37 - Família interracial que ilustra a seção cromossomos e reprodução humana.

Fonte: Canto (2012, p. 247).

No capítulo 17 ainda encontramos a explicação textual da reprodução heterossexual por meio da cópula, onde “os machos, em várias espécies, são dotados de um órgão tubular, o pênis, que é introduzido num órgão reprodutivo feminino com abertura para o exterior” (CANTO, 2012, p. 250).

A quarta unidade do livro de Canto (2012), Ser Humano e Saúde, aborda o corpo humano, a reprodução humana e a genética. O capítulo 18 disserta de forma textual e imagética sobre a sexualidade, aliás, a representação textual disserta sobre a heterossexualidade. A unidade inicia com uma imagem que representa a diversidade sexual, porém, todo o restante do capítulo aborda a heterossexualidade e ilustra os órgãos genitais masculino e feminino e suas funcionalidades.

A diversidade sexual é ilustrada de forma direta apenas na imagem de abertura do capítulo 18, expondo uma imagem da campanha contra a Aids e o slogan: “A AIDS não tem preconceito. previna-se” escrito em meio a um arco-íris:

FIGURA 38 - Campanha do dia mundial contra a Aids.

Fonte: Canto (2012, p. 260).

A representação textual da sexualidade do capítulo 18 se inicia com a seção “Motivação”, seção que mostra, de forma direta, a heterossexualidade que será abordada e ilustrada neste capítulo, como nas passagens “Se um casal planeja ter filhos”, “É direito dos casais optar por ter filhos ou não”.

O capítulo 19 aborda a genética e a hereditariedade, não dissertando ou ilustrando, em momento algum de suas construções textuais e imagéticas, a diversidade sexual de forma direta ou indireta.

3.4 REFLEXÕES SOBRE A INTERSECCIONALIDADE GÊNERO E DIVERSIDADE