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JORNALÍSTICAS DE 1960 (PARCIAL) 303 APÊNDICE B QUADRO PROGRAMAÇÃO DO ATO DE INSTALAÇÃO

3 A MEMÓRIA

3.1 A MEMÓRIA NA PERSPECTIVA DA ECOLOGIA DO MEIO

3.2.2 Concepções de memória institucional

Os indivíduos vivem num mundo social pontuado por culturas próprias e organizados em estruturas sociais institucionalizadas ou não, que apesar de ser um meio comum de convivência, cada ser é diferente do outro, em virtude de suas características físicas, psíquicas

e intelectuais. Ademais, cada indivíduo possui um determinado grau de poder, ou seja, a capacidade de reconhecer e entender determinada forma simbólica através dos saberes. Logo, o cálculo utilizado como ferramenta necessária para a construção de uma ponte, por exemplo, passa a ser mérito do engenheiro civil e do arquiteto, viabilizado pelo conhecimento de especialidades científicas na área de ciências exatas. O saber através do ensino passa a ser, no mundo social, um diferencial de poder.

A fundação de uma organização, com a historicização dos acontecimentos fundadores em “tempos fortes”, para Candau (2016), forma, por meio das pedras numerárias, uma memória forte e, portanto, difícil de ser esquecida. Por isso que a associação de palavras e da imagem, resultando em narrativas, pode ser transitória, ficar retidas, ser excluídas ou ainda armazenadas. Através de um meio de comunicação, passa a fazer parte da memória coletiva, podendo ser transformada de coletiva para institucional (MENDONÇA; PINHO, 2016).

Todavia, surge uma questão com relação ao conceito de memória institucional, por isso recorre-se aos conceitos centrais de campo e habitus de Bourdieu. Campo é um espaço que existe correlação, tanto estrutural como funcional, onde dominantes e dominados lutam, a partir de posições ideológicas e de interesses particulares de cada campo. No mundo social, os campos são providos de formas simbólicas e mecanismos próprios, possuindo, portanto, propriedades particulares como, por exemplo, o campo da ciência, que como todos os demais, segue regras preestabelecidas de funcionamento. Esses campos são formados por objetos e sujeitos que possuem o habitus, isto é, o conhecimento adquirido específico (BOURDIEU, 2012).

Barichello (2004, p. 34) expõe o caso das universidades e dos hospitais, que são organizações formais, como unidades sociais, com um fim específico, mas que em razão do tamanho ou da natureza das operações são complexas, sendo “caracterizada principalmente pelas regras, regulamentos e estrutura hierárquica, que ordenam as relações entre seus membros”. É nesse espaço público que passa a ser efetivada a dinâmica da vida cotidiana, não numa via qualquer, mas num determinado âmbito, que é simbólico e amparado pela comunicação. Nesse ambiente são criados os mitos, ou seja, a significação cuja “presença é uma ordem memorativa” (BARTHES, 1993, p. 143).

Esse mundo social traz como peculiaridade a criação de campos, com funções e funcionamentos diferenciados, que correspondem a qualquer entidade social constituída por sujeitos. No campo da ciência, assim como do artístico, “certos homens podem encontrar uma incitação para se superarem ou, pelo menos, para produzirem actos ou obras que vão para além das suas intenções e dos seus interesses” (BOURDIEU, 2012, p. 73).

Como parte da memória das organizações que, para Bourdieu (2012), é um espaço formado por sujeitos com propriedades específicas para cada campo, será (re)construída pelas suas lembranças (individuais ou coletivas) e pelos documentos. Pelo interesse crescente sobre o tema, como forma de rememorar e preservar a história da humanidade, a memória pode ser identificada como individual, coletiva, social, organizacional, institucional, etc.

No ato de comunicação das organizações, as informações são a matéria-prima na tomada de decisões dos sujeitos, resultando na produção/recebimento de documentos arquivísticos. Esses documentos, como prova de uma ação, passam a fazer parte do seu arquivo, construindo parte dessa memória. Atualmente, por causa do acentuado uso da comunicação instantânea, na opinião de Iacovino (2016), é imprescindível atentar para que haja responsabilidade pessoal, institucional e coletiva, desde a criação, até o uso e a preservação dos documentos para fins de prestação de contas dessas ações, tanto dos indivíduos como das próprias organizações.

Weber (1980) acrescenta que uma organização exerce suas atividades, baseada num modelo organizador, como uma organização escolar (ou universitária), através de uma rotina administrativa. Já uma instituição “é uma associação cujos ordenamentos estatuídos, dentro de um domínio especificável, são impostos de modo (relativamente) eficaz a toda a ação segundo determinadas características dadas” (2000, p. 80). As características, geralmente, vinculada a uma função institucional política, determinada pelo Estado, oferece legitimidade a organização e, portanto, a sua institucionalização.

Desse modo, pode-se compreender que as lembranças são das ações realizadas em uma instituição, portanto pode-se considerar como memória institucional. Porém, conforme constatou Costa (1997), em sua tese, apresentando concepções sobre organização e instituição, concluiu que ainda não existem diferenças significativas que permitam ter um consenso conceitual sobre memória institucional. Todavia, já existem muitas pesquisas sendo realizadas por autores de áreas afins como a Comunicação, a História e a Arquivologia com a temática memória nas organizações, como empresas, associações e instituições ou em arquivos, sejam pessoais ou científicos.

A concepção conceitual de memória organizacional e de memória institucional decorre do cerne de suas atividades, como diz Nassar (2012), sendo que eficácia e mudança caracterizam as organizações e, portanto, a memória organizacional, enquanto legitimidade, criação e identidade caracterizam as instituições e, assim, a memória institucional. Mas, nem todos os fatos (e seus documentos), além das pessoas que contribuíram com as atividades das organizações vão ser rememorados, pois são afetados pela engenharia do esquecimento, chamado de “relações não públicas” (IBIDEM, 2012, p. 126).

Costa (1997) cita outros traços que caracterizam as instituições sociais tais como: exterioridade (realidade exterior); interioridade (incorporação do eu social, como a família, o casamento, a igreja, o Estado e padrões mentais); objetividade (objeto tratado deve ser apropriado/outorgado à instituição); coercitividade (poder da instituição sobre os indivíduos em conformidade com a realidade objetiva); resistência à mudança (formas do saber-poder, com o intuito de preservar os saberes para fins de manutenção); reprodutibilidade (define regras e padrões de conduta que garantem o funcionamento e o exercício de funções reprodutoras); legitimidade (definição de regras do jogo, atores ou parceiros e saberes para fins de legitimação); seletividade (como base de toda instituição estão as bases discursivas que fazem parte da sua memória, cuja instituição seleciona o que deverá ser recuperado e preservado); historicidade (toda instituição tem sua história temporal, carregadas de informações, saberes e memórias em documentos, costumes, hábitos, comportamentos que precisam ser integrados as instituições-memória); temporalidade (o tempo institucional é circular, ritual, voltando sempre a fonte original, em que a própria instituição instaura um domínio de tempo, como nas sociedade disciplinares visto por Foucault); conflitualidade (parte da natureza das instituição, tanto por conflitos interindividuais como interinstitucionais); e, socialização (no processo de socialização devem ser realizadas ações que justifiquem e legitimem a natureza da instituição). De acordo com Rueda, Freitas e Valls (2011), para a construção da memória institucional é preciso considerar os seguintes quesitos: as lembranças e os esquecimentos e sua relação; os documentos e a qualidade das informações; a missão institucional e as estratégias identitárias; e, os meios de disseminação, acesso e preservação.

A história de cada instituição preexiste antes do indivíduo e, ainda, não findam com a sua morte, cuja exteriorização e a objetivação - produzida e construída pelo homem, faz parte de um processo dialético profundo na realidade social. Esse processo pode resultar no aparecimento de uma nova geração, por isso é preciso que as ações habituais tipificadas institucionalizadas, tanto da entidade como dos seus atores. As tipificações são compartilhadas, especialmente, em instituições de ensino, implicando na historicidade e controle (BERGER; LUCKMANN, 1991).

Esse controle é explicado por Foucault (1971), a partir da sua visão sobre sociedade disciplinada, cuja educação faz parte, formando o sujeito sujeitado, cujos limites históricos dessa sociedade foram sofrendo transformação a partir da década de 1970. No contexto da sociedade disciplinar são estabelecidas ações a partir de relações dos indivíduos com o coletivo, em que o poder é do Estado, a verdade é do mercado e o direito é da sociedade civil.

Em seu livro “Nascimento da Biopolítica”, Foucault (1979) abordou a passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de controle, que deu origem ao um novo sujeito moral com a tendência de corresponder, de modo flexível, as intervenções governamentais do Estado de acordo com as demandas do mercado neoliberal. Nesse tempo, ditado pela modernidade, a partir de uma programação estratégica da atividade dos indivíduos, o indivíduo é transformado em empreendedor, como capital humano, sendo instituídos valores sociais normativos. Tais valores são controlados pelo capital, que cobra produtividade, mas que em contrapartida existe a remuneração. É preciso investir em educação para que esse capital humano tenha aptidão e competência (FOUCAULT, 2008).

Para Foucault (2008), Innis (2006) e McLuhan (1964) as inovações tecnológicas informacionais impulsionaram o crescimento e a capacidade física e cognitiva dos indivíduos, através da comunicação, determinado por McLuhan como a Aldeia Global. Nesse novo contexto o jornal ganhou um campo de interesse mundial. No século XVIII, como arma na luta política, já no século XIX, como um negócio lucrativo, enquanto no século XX, o interesse pelo jornalismo fortaleceu através de novas ideologias, o poder de ataque, como aconteceu com a deflagração da Primeira Guerra Mundial, em que a mudança tecnológica na impressão, conduzida pelos Estados Unidos, contribuiu com o crescimento da indústria dos jornais, influenciando o domínio do idioma inglês (INNIS, 2011).

No caso das notícias, Motta (2013) diz que é preciso fazer a reconstrução da estória de modo cronológico, visando a recuperação da história passada e de sua mimese para entender o sentido no presente. Por isso, o analista deve, inicialmente, fazer uma reorganização da estória, com suas causas e antecedentes, que geralmente são informadas ao leitor, telespectador e ouvinte somente na etapa final. Nessa etapa, é possível identificar os conflitos, o desfecho de intrigas, o posicionamento dos personagens, a revelação de clímax, “[...] a fim de compreender como as fáticas notícias diárias se aproximam da ficção, tornam-se contos, fábulas e mitos da contemporaneidade, impregnando de subjetividade o que antes parecia pura objetividade (MOTTA, 2013, p. 102).

Diante das abordagens de Costa (memória institucional) e de Gordan (memória social) e da contribuição de outros autores como Nassar, Rueda, Freitas e Valls e Berger e Luckmann, identificou-se alguns consensos no conceito de memória institucional tais como: identidade, tradição, historicidade, legitimidade e visibilidade.

Inseridas no termo representações, tanto identidade como memória, visto pelo campo das Ciências Humanas e Sociais são ambíguas, porém relacionadas ao grau de pertinência chamada por Candau de retóricas holistas explicando que é:

[...] o emprego de termos, expressões, figuras que visam designar conjuntos supostamente estáveis, duráveis e homogêneos, conjuntos que são conceituados como outra coisa que a simples soma das partes e tidos como agregadores de elementos considerados, por natureza ou convenção, como isomorfos. Designamos assim um reagrupamento de indivíduos (a comunidade, a sociedade, o povo), bem como representações, crenças, recordações (ideologia X ou Y, a religião popular, a consciência ou a memória coletiva) ou ainda elementos reais ou imaginários (identidade, étnica, identidade cultural) (CANDAU, 2012, p. 29).

Sobre memória, Candau (2012) associa aos saberes e as experiências, aqui relacionada cada indivíduo ao seu grau de pertinência que foram sendo incorporadas, de modo inconsciente, ao longo de sua vida, o seu passado. Para explicar sobre experiências, cita o habitus de Bordieu (1980), que entende ser o funcionamento do corpo e, por conseguinte, as ações de sobrevivência, constituída por disposições estruturadas, como saber agir, falar e caminhar no social, associado por disposições estruturantes, como sentir e pensar, nas mentes, que se transforma num saber herdado. Esse saber é formado por meio da associação de esquemas de percepção, ação e apropriação que são colocados em prática por serem estimulados pelas conjunturas de um campo.

Sobre identidade, Candau (2012) diz ser um estado, uma representação e um conceito. Por estado, entende ser o indivíduo que tem a sua identidade física - como a altura, e seu espaço - como o endereço, enquanto por representação é a imagem que o indivíduo tem do seu eu e, por conceito a associação com identidade e seu grau de pertinência. Passa a ser identidade individual, se aplicado individualmente, ou identidade cultural ou identidade coletiva quando aplicados a grupos.

A relação tempo e história gera novos problemas na escrita historiográfica (BARROS, 2013; RICOEUR, 2010). Barros apresentou discussões filosóficas do tempo em relação às narrativas e, ainda, da própria língua, que traz potenciais narrativos, porque:

[...] o historiador extrai seus materiais da história-efetiva, e os reordena criativamente para compor a sua história-conhecimento, impõe-se aqui um incontornável confronto entre o ‘tempo dos eventos’ ou ‘tempo vivido’ – intrincado emaranhado de fios com o qual o historiador se depara – e o ‘tempo da narrativa’, com o qual o historiador terá de lidar já como autor que precisa configurar um texto historiográfico de forma coerente e que seja compreensível para os seus leitores (BARROS, 2013, p. 167-168).

Com uma outra visão sobre o tempo e espaço, Innis (2006) formulou a “teoria da matéria-prima” que relacionava o emprego do suporte de comunicação, de acordo com o viés para o tempo ou para o espaço, influenciando também, o tipo de escrita. Sua contribuição auxiliou na compreensão do tempo vivido pelos povos, dos antigos impérios até a produção do papel em grande escala, que favoreceu o surgimento do novo jornalismo na década de 1800, a

partir da melhoria mecânica introduzida em Nova York, nos Estados Unidos. A mecanização, para McLuhan (1977, p. 46) também afetou os sentidos dos indivíduos, com “[...] um novo hábito de percepção em todas as áreas de trabalho e associação”.

Considerando o posicionamento de Innis e McLuhan, entende-se que ocorreram mudanças que afetaram e, continuam afetando, o requisito historicidade, tanto no espaço geográfico, em razão das inovações tecnológicas, como nos indivíduos, diante dos novos sentidos que cada vez mais são articulados, como a visão com a audição. Esses novos sentidos também afetam os historiadores, por serem escritores que "[...] disponibilizam na língua uma série de especificidades discursivas que darão a cada narrativa, em sentido estrito, uma configuração própria singular. [...] Narrar é configurar ações humanas específicas, mas é também discorrer sobre significados, analisar situações” (BARROS, 2013, p. 176).

Diante de tantas mudanças, existem campos sociais, que Rodrigues (2001, p. 143-144) apontou “o religioso, a família, o militar, o político, o científico, o econômico”, organizados em conformidade com critérios específicos por autoridade regulatória e, por isso, passam a ser reconhecidos como uma instituição social num espaço público. Insere-se também o jurídico como um campo social. Tais critérios fazem parte do processo de institucionalização que dão legitimidade as instituições sociais, numa hierarquia ordenada de valores, que vão “[...] desde a sua criação e gestão até à sua inculcação e sanção” (IBIDEM, 2001, p. 145).

Como parte da hierarquia ordenada - uma axiologia - de um campo social, cabe aos seus agentes e atores sociais, como detentores de legitimidade, renunciarem certos comportamentos estabelecidos a partir de valores (RODRIGUES, 2001). Esses valores são estabelecidos por meio de objetivações de ordem institucional tornando-se legítimos se forem conferidos grau de “validade a seus significados objetivados” (BARICHELLO, 2004, p. 23).

Associando instituição à pirâmide, Rodrigues (2001) diz que quanto maior for a competência dos detentores de legitimidade, maior será o seu papel no exercício de criação, gestão, orientação e sanção, permanecendo deste modo, próximo do vértice da pirâmide. Segue deste modo, uma ordem axiológica que permite dar visibilidade as instituições, seja ela formal ou informal. Mas, existe uma problemática da legitimação que, segundo Barichello, é a transmissão das objetivações de ordem institucional à nova geração devendo assim, recuperar os papéis cotidianos, ou seja, a identidade individual ou coletiva, “[...] tanto por elementos representacionais legitimadores quanto por elementos éticos da tradição” (2004, p. 23).

Esses elementos, como parte da carga ou força simbólica dos discursos e gestos, são empregados, segundo Barichello (2004, p. 23), num “contexto de um universo simbólico”

carregados de significação. Tais símbolos, seguindo uma ordenação legítima, dão visibilidade as instituições sociais, como as universidades.

Para dar visibilidade ao interesse e reinvindicação de certos grupos recorre-se a comunicação, para Sodré (2009, p. 124), como “plano de expressão e de circulação de forças” num espaço público que é o “espaço onde a sociedade torna visível tudo aquilo que tem em comum, inclusive a semiose coletiva resultante da representação que os grupos sociais fazem de si mesmos” (IBIDEM, 2009, p. 123).

Como parte dessa dinâmica, a imprensa, funciona como um espaço público que troca informações com os cidadãos por meio de instituições e relações numa esfera pública, apresentando uma conjuntura própria para o discurso, trazendo o conhecimento e, ainda, a argumentação, o debate e a polêmica como parte complementar da comunicação democrática. O jornal tem o papel de ser o narrador dos acontecimentos, como parte do processo democrático de uma sociedade (SODRÉ, 2009).

A imprensa por ser, em sua grande maioria, uma esfera pública de conteúdo não estatal, passa a ter um posicionamento ideologicamente direcionado ao interesse do seu capital interno e externo, identificado no editorial. Os temas são atuais e de interesse público, representando ideias da coletividade do jornal, tanto como produto impresso ou virtual. O seu propósito é ser porta-voz representativo do cidadão a partir do estabelecimento do Estado democrático.

Para Habermas (1984) o jornal é empregado na política como meio de luta partidária e, por isso, utilizam-se estratégias ideológicas, que Thompson (1995) entende ser necessário refletir, em estudos científicos, sobre a questão da ideologia na mídia a partir dos cinco modus

operandi, apresentado no subcapítulo a personagem, registro e estória, as estratégias que são

de legitimação, dissimulação, unificação, fragmentação e reificação.

Os documentos, resultado das ações dos indivíduos, como o jornal, corroboram para a construção do conhecimento histórico e da identidade de uma sociedade. Por isso, que Cook (1997) diz que precisam ser preservados e mantidos atuantes em locais históricos como museus, bibliotecas, arquivos, monumentos, etc. para que uma sociedade seja forte, como também pondera Candau (2016). A sua justificativa deve-se a socialização da memória que é fruto da escrita, servindo para a exteriorização da memória a partir da estocagem de informações, que permite a toda população – letrados e não letrados – a tomar conhecimento da narrativa, independente do gênero. A escrita, portanto, é considerada uma memória forte porque, para o autor, corrobora com a metamemória e, consequentemente, fortalece a questão sobre o pertencimento a um determinado grupo ou cultura (IBIDEM, 2016).

Todo acontecimento gera uma memória forte que vai, gradativamente, se dissolvendo na “banalidade do todo-acontecimento” gerando uma memória fraca (CANDAU, 2016, p. 101). Para evitar que a memória seja fraca, surgem os arquivos, que Ricoeur (2007) diz ser um lugar social, espacial e físico. Por físico, entende ser o rastro documental gerado a partir do rastro cerebral e do rastro afetivo, cabendo as instituições o seu tratamento, como conservação e classificação da massa documental para permitir a consulta pelos historiadores, por exemplo.

Para a estocagem de informações, novas transformações estão sendo perceptíveis a partir do uso do suporte digital. Esse pensamento de Le Goff (1994) foi compartilhado, de certo modo, por Innis (2006) e McLuhan (1964). Ainda sobre estocagem, outra justificativa para a manutenção dos documentos, deve-se em razão de que a memória coletiva, chamada de memória artificial, por Le Goff (1994), possibilita a transformação. Deve-se evitar assim, distorções e inverdades é preciso recorrer aos documentos autênticos.Ainda sobre transformações, Bloch (2001) também concorda, já que os documentos dos arquivos podem ser falseados ou destruídos, diante de forças históricas de caráter geral, portanto, é necessário preservar os testemunhos. E, em razão da investigação partir de pressupostos que precisam ser provados, existe uma dependência testemunhal complementada pelos documentos, por isso deve-se evitar o seu descarte. Sobre as possíveis ocorrências de falsificações, é preciso contar com relatos das lembranças através das gerações para a real verificação dos fatos.

Por isso que em estudos científicos é necessário a consulta em documentos a fim de verificar o tipo de sociedade e o momento histórico em que ocorreu a passagem de um tipo de memória para outro, em razão das incertezas históricas, que geram transformações. Esses movimentos foram perceptíveis, por exemplo, durante a passagem das sociedades antigas, cujo oral era forte, para as modernas ou contemporâneas, com o invento da escrita em suporte físico,