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Etapa 5: verificação da fidedignidade da narrativa jornalística como fonte de pesquisa

66 Área de terreno que ainda não foi objeto de parcelamento regular, isto é, aprovado e registrado Após o registro

5.1.1 Gêneros jornalísticos das narrativas jornalísticas

Se a informação é fabricada no campo jornalístico para fins de comprovação dos fatos noticiados nos jornais, o receptor precisa ser um leitor crítico e, se possível, ter noções sobre as diferentes competências e técnicas de cada gênero jornalístico (SEIXAS, 2012). Por isso, neste estudo, seguindo as orientações de Melo (2012), foram revistos e classificados os gêneros jornalísticos e seus respectivos formatos das narrativas selecionadas de 1960 e 1961.

Os gêneros legitimados contemporaneamente são: informativo, opinativo, interpretativo, utilitário e diversional (MELO, 2012).

Por gênero, Seixas (2012, p. 27) parte do pressuposto que é um “ato comunicativo relativamente estável” que apresenta a enunciação do discurso, o fazer linguístico, produzido a partir da “relação entre objetos de realidade, tópicos jornalísticos e compromissos realizados pelo ato de linguagem” (IBIDEM, 2012, p. 28). O compromisso com a realidade é possível, principalmente, pela reportagem, dito por Traquina (2005), baseado em Tuchman (1978), que como recurso de fidelidade da narrativa o uso de aspas, ou seja, o gênero jornalístico da reportagem, com a realização de entrevistas, favorece a sua aceitação como verdadeiro, por permitir dar voz a personagens. Esse recurso foi muito utilizado para a composição da personagem do professor José Mariano da Rocha Filho, especialmente, no período em que atuou como Reitor da Universidade de Santa Maria. A personagem tem o poder do discurso motivador como diferencial.

Se a informação é fabricada, para comprovar os fatos noticiados nos jornais, é preciso ser crítico, mas como foi produzido no campo jornalístico, conforme recomenda Seixas (2012), deve-se conhecer desde o gênero jornalísticos até as diferentes competências e técnicas. Como gênero, cita o informativo, interpretativo, de aprofundamento, investigativo, opinativo, diversional e de precisão. Enquanto as competências são os chamados “[...] saberes empregados na prática jornalística de competência de reconhecimento, competência de procedimento, competência discursiva e competência de domínio, que é o saber especializado sobre outro domínio que não o jornalístico” (IBIDEM, 2012, p. 42).

No período analisado, existiram dois momentos em que o jornal "A Razão" publicou um maior número de narrativas da USM: o primeiro, quando da criação da USM, em 14 de dezembro de 1960, e da sanção pelo Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, em 18 de dezembro de 1960; o segundo com a divulgação das festividades em razão do ato de instalação da USM ocorrida em 18 de março de 1961.

Demonstra-se assim, a identificação da categorização dos gêneros jornalísticos utilizados na divulgação dos acontecimentos da fase que antecedeu a criação da Universidade, ano de 1960, até o final do primeiro ano de gestão da USM, no ano de 1961.

Inicialmente, é traçado um panorama dos gêneros jornalísticos empregados no período de 1960, sendo que a maioria das narrativas ficou classificada em informativo que, de acordo com Melo (2012, p. 22), é o “relato dos grandes acontecimentos”, divulgado por meio de notícias, discorrendo sobre o movimento pró-Universidade e as ações que resultaram na criação da USM, em dezembro de 1960.

Outro gênero muito empregado foi o opinativo, referente as “denúncias, críticas e libelos” (MELO, 2012, p. 22). Pela intensidade de narrativas jornalísticas divulgadas, naturalmente, foram utilizados recursos gráficos, como a paginação em “L”, adotando letras do alfabeto para sinalizar a continuidade da narrativa jornalística em outra coluna ou página do Jornal. Esse recurso, próprio do período analisado, foi muito empregado pelo “A Razão”, porém, em 1981, conforme sugere Mário L. Erbolato, já deveria ser eliminado.

Percebeu-se, o emprego desse gênero por um viés positivista, especialmente com comentários de apoio ao movimento pró-Universidade, com a colaboração efetiva das personagens jornalísticas que atuaram em prol da criação e/ou instalação da Universidade, conforme pode ser visualizado no Quadro 2 que focaliza o ano de 1960.

155 Quadro 2 – Gêneros jornalísticos apresentados no jornal “A Razão” em 1960.

Ano/ Fato

Mês Jornalismo Informativo Jornalismo Utilitário Jornalismo Opinativo

nota notícia repor- tagem

entre- vista

roteiro serviço indicador cotação comentário manifesto

artigo caricatura coluna crítica

1960 Criação da USM janeiro 1 1 1 fevereiro 2 2 1 1 março 2 2 abril 1 1 (NS)* maio 1 1 junho 2 julho 2 1 agosto 3 (série) 1 setembro 1 1 (série) 1 1 outubro 3 1 novembro 2 (▪) 3 10 dezembro 1 (●) 15 4 3(◙) 5/13(☼) 4 Total 4 30 9 3 1 24/13 6 1 3

Fonte: elaborado pela autora do trabalho

- apoio das comunas riograndenses à universidade por telegrama; - *NS – Napoleão Sacchis; - (?▪) Secção Filatélica – não foi contabilizada – 3 – (1 crítica)); - (?●) nota (pequeno texto com foto); - (☼) congratulações; - (◙) convite; - Edital (8?)

Durante o ato de instalação foram utilizados recursos iconográficos como a charge que, para Melo (2012), como a função institucionalizada da atividade jornalística é informar, chama a atenção que existe uma incerteza no que realmente é produto jornalístico, como é o caso do

cartoon, que citou como não resultante da função de informar e, sim de entreter. Entende-se

porém, que no caso estudado foi um produto resultante da divulgação do Jornal, que teve um viés de entreter mas ao mesmo tempo de divulgar um feito de interesse da comunidade e do próprio veículo de comunicação a partir da instalação da USM na cidade de Santa Maria (RS). Considerando o produto final do jornal "A Razão" no período analisado, por não existir ainda a internet, o gênero documental utilizado foi somente o textual, produzido em suporte papel. Agregando ao textual foi empregado, também, o recurso iconográfico, com fotografias e charges. Para Innis (2006), o incremento das ilustrações tinha como objetivo comunicar através do olhar, com ênfase no regionalismo, mas também, o controle de grandes áreas, buscando a descentralização. No entanto, considerando a sua articulação tempo-espaço, cujas alternâncias ocorriam devido as organizações políticas e a própria tecnologia, em determinado momento o monopólio era sobre o tempo (passado-presente), já em outro sobre o espaço (local-global).

A descentralização, tanto das atividades de ensino como administrativa, foi sempre uma das metas da personagem, para tanto utilizou-se das mídias, especialmente, o jornal, como estratégia comunicacional de divulgação de suas ações, como suas viagens noticiadas pelo Jornal. Recorreu, também, à publicação de artigos afirmando ao leitor que o sonho de ter uma universidade em uma cidade do interior era possível e, de fato, aconteceu.

Como gêneros jornalísticos, o jornal “A Razão” recorreu, principalmente, ao emprego de notas, notícias e reportagens, sendo que a maioria com entrevistas com a personagem professor e, então, Reitor José Mariano da Rocha Filho. Outro recurso adotado foram os artigos, cujos respectivos autores determinaram o fato de concretização do ideal de interiorização do ensino superior como um momento histórico para a comunidade santa-mariense, com méritos ao professor Mariano Filho.

No Quadro 3 é possível reconhecer o cenário de gêneros jornalísticos utilizados pelo “A Razão”, visualizando-se um número considerável de narrativas inseridas no jornalismo opinativo no ano de 1961, com artigos trazendo um posicionamento favorável ao acontecimento “ato de instalação da USM”. No ano de 1961, aconteceu o ato legitimatório de instalação da Universidade de Santa Maria, ocorrido em 18 de março de 1961.

157 Quadro 3 – Gêneros jornalísticos presentes no jornal "A Razão" em 1961

Ano/ Fato

Mês Jornalismo Informativo Jornalismo Utilitário Jornalismo Opinativo

nota notícia repor-

tagem

entre- vista

roteiro serviço indica- dor cota- ção comentário manifesto artigo caricatu- ra coluna crítica 1961 Instala- ção da USM janeiro 2 6 3 (☼) fevereiro 1 (foto) 5 1(☼) março 11 (foto) 16 4 19 (congr) 12 2 (charge) abril 1 3 6 1 maio 3 junho 1 julho 1 1 3 agosto 3 setembro 2 2 outubro 3 1 novembro 2 (foto) 5 1 dezembro 6 2 Total 21 45 16 28 5 12 2

Fonte: elaborado pela autora do trabalho.

 apoio das comunas riograndenses à Universidade por telegrama  (?▪) Secção Filatélica – não foi contabilizada – 2 (coluna de Cárrion)  (?●) nota (pequeno texto com foto)

 (☼) congratulações  (◙) convite Edital (8)

O próprio sujeito, a partir da adoção de práticas comunicacionais, utiliza-se racionalmente desses rastros na construção da sua imagem, como por exemplo, o uso de documentos iconográficos. A imagem, através da fotografia, segundo McLuhan (1964, p. 2015) “[...] estende e multiplica a imagem humana em proporções de mercadoria produzida em massa”. Mercadorias são produzidas, ou melhor, fotografias captadas pelo rastro cerebral transformado em rastro documental, que passa a ser replicado em razão do aperfeiçoamento da comunicação, que para Innis (2006) favoreceu o desenvolvimento de mercado e de indústrias. Uma fotografia pode dar origem a um fenômeno social, como aconteceu com a imagem captada em comemoração pelo final da Segunda Guerra Mundial, registrada no dia 14 de agosto de 1945, pelo fotógrafo Alfred Eisenstaedt, conhecida como “The Kiss”71.

No caso da USM, uma fotografia que marcou foi a da personagem deste estudo, já como Reitor José Mariano da Rocha Filho, em sua comemoração com a multidão que foi recepcionar a caravana das ASPES, em 23 de dezembro de 1960, no aeroporto de Camobi. Foi um retrato da vitória da ASPES, da comunidade local, regional e federal, concretizada diante da luta por um ideal. Outro gênero utilizado como recurso foi a charge, trazendo a figura da personagem jornalística, o Reitor José Mariano da Rocha Filho, iluminada pela luz (do seu ideal), apresentada durante a comemoração festiva, em 18 de março de 1961, da instalação da USM.

Por fim, salienta-se a participação efetiva dos jornalistas do A Razão nas comemorações do chamado “Dia da Universidade”, considerado o “acontecimento máximo do ano”. Naquele período, além do jornal, as informações divulgadas na rádio sobre as ações da Universidade já eram de interesse da comunidade local, conforme relata o entrevistado Oliveira (2016), como por exemplo, o acompanhamento da programação de colação de grau da primeira Turma de Medicina da USM, em 1961.