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Concepções e práticas dos professores em Portugal sobre o Trabalho

2.2 O TRABALHO LABORATORIAL NO ENSINO DAS CIÊNCIAS

2.2.5 Concepções e práticas dos professores em Portugal sobre o Trabalho

As concepções dos professores acerca da utilização do TL têm também sido alvo de estudo por diversos autores.

Em 1994, Lopes fez um estudo com uma amostra de dez supervisores de Ciências Físico-Químicas e concluiu que os objectivos enunciados por estes professores eram preferencialmente do domínio psicológico, nomeadamente a motivação, e do domínio

psicomotor, nomeadamente o desenvolvimento de capacidades manipulativas. Foram poucos os que referiram a possibilidade de formulação de hipóteses e a tomada de decisões em relação à actividade prática.

Também Almeida (1995) realizou um estudo sobre as concepções dos professores de Ciências Físico-Químicas através de uma entrevista, e obteve resultados similares. Os trabalhos laboratoriais permitem a realização de experiências por parte dos alunos, envolvendo a manipulação de material, recolha e análise de dados com vista à elaboração de conclusões, mas seguindo as instruções fornecidas pelos professores. Alguns professores envolvidos neste estudo concebem o TL com as mesmas características do trabalho científico e seguindo o método científico. Apenas uma professora concebe o TL como uma actividade de resolução de problemas e com carácter investigativo.

Os objectivos mais valorizados pelos professores (Cunha, 2002; e Araújo, 1995; citado por Cunha, 2002) em relação ao TL, são os que se relacionam com o desenvolvimento de capacidades de observação, bem como auxiliar da aprendizagem de conceitos. Consideram ainda que as aulas laboratoriais contribuem para a motivação dos alunos. Também o estudo efectuado por Leite (1997), com professores e futuros professores, verificou que os professores pensam que a realização das actividades laboratoriais permite que se atinjam os objectivos relacionados com a aprendizagem de conceitos e de metodologia científica e com o desenvolvimento de atitudes científicas, enquanto os futuros professores, indicam essencialmente que a realização do TL serve para o desenvolvimento de skills laboratoriais, isto é, a manipulação de material e o domínio de regras de segurança. Ainda em relação às concepções sobre o TL, Oliveira (2000) realizou um estudo com futuros professores de Ciências Físico-Químicas de oito Universidades portuguesas e concluiu, com base nos dados recolhidos com um questionário, que o TL serve para os alunos aprenderem técnicas de laboratório e regras de manipulação de materiais e promove a compreensão de conceitos.

Foram também realizados estudos sobre as práticas dos professores em relação ao TL.

Cachapuz et al. (1987a) levou a cabo um estudo com 704 professores de Ciências Físico-Químicas e concluiu que o TL:

Ø ocupa lugar de destaque nas aulas, Ø está centrado no professor,

Ø é do tipo ilustrativo/demonstrativo,

Ø do tipo investigativo quase nunca é utilizado.

Outro estudo (Cachapuz et al., 1989c) realizado com os mesmos objectivos, mas apenas para professores do Ensino Secundário, verificou que a maior parte das actividades realizadas nas aulas serviam principalmente para o desenvolvimento de capacidades manipulativas e cognitivas.

Lopes (1994b), no trabalho que desenvolveu, concluiu que o formato do tipo investigativo, onde os alunos têm um papel importante no planeamento e execução para dar resposta a problemas propostos, não é utilizado ou é-lhe atribuída uma frequência muito baixa.

Em 1995, Cachapuz concluiu que o TL que é realizado nas escolas não tem sido utilizado para ajudar o aluno a compreender conceitos e o mundo real, uma vez que a exploração de ideias não tem constituído o centro do processo de aprendizagem.

As actividades desenvolvidas por professores no estudo realizado por Almeida (1995) caracterizaram-se pelo envolvimento dos alunos em procedimentos previamente definidos por um guião, que fazia referência aos materiais, às observações, recolha e análise de dados. Trataram-se de actividades fechadas, uma vez que as etapas estavam bem definidas e organizadas. Apenas um dos professores realizou TL de carácter investigativo, envolvendo a resolução de problemas. A estrutura das actividades desenvolvidas consistia essencialmente na análise e compreensão da situação problema, na concepção e execução de procedimentos, na avaliação e interpretação dos resultados. Os alunos tinham a iniciativa da planificação e selecção de estratégias experimentais para a resolução da situação problema proposta, e no final deviam interpretar os resultados obtidos. O professor apenas assumiu um papel de orientação e coordenação das actividades dos alunos e estimulou a discussão e o confronto de ideias entre o grupo e posteriormente entre a turma no que dizia respeito à interpretação e avaliação dos resultados obtidos.

Em 2000, Afonso realizou um estudo com 77 professores de Ciências Físico- Químicas e Técnicas Laboratoriais de Física e verificou que os professores empreendem

mais a actividade laboratorial nas Técnicas Laboratoriais porque os objectivos são diferentes. É valorizado o desenvolvimento do conhecimento procedimental e a capacidade de resolução de problemas. As AL´s, desenvolvidas em Ciências Físico-Químicas, têm como objectivo motivar os alunos e elaborar/construir conhecimentos teóricos a partir de dados recolhidos.

Feita a análise das investigações sobre as concepções e práticas é necessário verificar a articulação entre estes dois aspectos.

Freire (2000) realizou um estudo com 14 estagiários de Ciências Físico-Químicas sobre as concepções e práticas do TL, verificando uma certa coerência entre as concepções e as práticas. Os estagiários discordavam do TL usado para a descoberta e utilizaram nas suas aulas laboratoriais, protocolos com o desenho fornecido, de forma a ilustrar a teoria fornecida anteriormente. As actividades eram do tipo fechadas. Foram em número reduzido os professores que não utilizaram um protocolo. Para estes, o TL deveria obrigar os alunos a pensar, pedindo explicações para os fenómenos estudados, para que a teoria surgisse pela prática. Estes estagiários valorizaram o desenvolvimento de competências científicas e a investigação para assim haver um maior envolvimento dos alunos.

Também Silva (2001), num estudo que envolveu a observação directa de aulas de Ciências Físico-Químicas, constatou que havia articulação entre as concepções e práticas dos professores. Um dos professores, envolvidos no estudo, referia que a actividade laboratorial deve ser realizada com a ajuda de um protocolo. Os alunos devem manipular os materiais, recolher e analisar dados com vista à elaboração de conclusões, mas os procedimentos devem ser sempre definidos à priori. Este professor considera ainda que este tipo de trabalho motiva o aluno, favorecendo a compreensão dos assuntos abordados, permitindo assim o desenvolvimento de conhecimento procedimental e conceptual. Nas aulas, o professor interage com os grupos, fazendo algumas questões mais fechadas do que reflexivas. Nas aulas do outro professor, foram desenvolvidas actividades de resolução de problemas. O problema era formulado com algumas questões e apenas era indicado o material. Aos alunos competia a tarefa de planificação e a interpretação dos resultados. A sua análise era feita posteriormente pela turma, havendo interacção entre o professor e os alunos, mas as questões nem sempre eram do tipo abertas. Este professor valorizava a construção dos conceitos teóricos com carácter formativo.

2.3 O MANUAL ESCOLAR COMO SUPORTE PRINCIPAL DE ENSINO DOS