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2.2 O TRABALHO LABORATORIAL NO ENSINO DAS CIÊNCIAS

2.2.2 Objectivos do Trabalho Laboratorial

Embora não haja consenso completo por parte dos investigadores em relação aos objectivos que se atingem com as AL´s desenvolvidas pelos alunos, há uma concordância que as actividades devem estar interligadas com a teoria.

O recurso ao TL deve contribuir para o desenvolvimento de competências específicas, pertencentes ao domínio do conhecimento substantivo, processual e

epistemológico, ao raciocínio, à comunicação, e às atitudes científicas. Pretende também desenvolver as competências gerais, tais como tomada de decisões, resolução de problemas, autonomia e cooperação com os outros.

Quadro 1: Objectivos das Actividades Laboratoriais segundo alguns autores

Autores Finalidades/ objectivos

Woolnough e Allsop

(1985)

· Permitir a vivência de fenómenos;

· Desenvolver o uso da metodologia científica, através da resolução de problemas;

· Desenvolver capacidades e técnicas científicas básicas: observação, medição, manipulação de materiais e a aquisição de hábitos de tenacidade, honestidade e rigor.

Hodson (1993 e 1994)

· Ensinar técnicas e procedimentos laboratoriais fundamentais para o conhecimento procedimental;

· Promover a aprendizagem de conceitos científicos, princípios, leis e teorias; · Desenvolver habilidades e competências para trabalhar no laboratório; · Desenvolver atitudes favoráveis face à ciência e motivar, estimulando o

interesse pela aprendizagem da Ciência;

· Familiarizar com a metodologia científica e desenvolver perícia para a usar; · Desenvolver atitudes científicas, tais como objectividade, disponibilidade para

a mudança e espírito de abertura e não emitir juízos apressados.

Barberá e Valdés

(1996)

· Promover a mudança conceptual;

· Proporcionar experiência directa sobre os fenómenos, fazendo com que aumentem a compreensão sobre os fenómenos naturais;

· Comparar a abstracção de conhecimentos científicos com a realidade, dando ênfase à resolução de problemas na construção do conhecimento;

· Desenvolver o “raciocínio prático” com o desenrolar da actividade laboratorial;

· Desenvolver habilidades e técnicas.

Almeida (2001)

Sintetizou as seguintes finalidades propostas por diversos autores:

· Favorecer a compreensão de certos aspectos da natureza da ciência; · Desenvolver a capacidade de resolução de problemas;

· Desenvolver capacidades de comunicação e cooperação com os outros; · Explorar o alcance e as limitações de modelos e teorias;

· Testar ideias experimentalmente;

A importância que o TL tem no processo ensino-aprendizagem é consensual no seio da comunidade científica, mas o mesmo não se pode dizer em relação aos objectivos atingidos por estas actividades. Embora não sendo consensuais, apresentam aspectos comuns. Os seguintes autores (Woolnough e Allsop, 1985; Barberá e Valdés, 1996; Hodson, 1993; Almeida, 2001) referem objectivos ou finalidades, conforme a terminologia usada, que podem ser cumpridos com a actividade laboratorial (Quadro 1).

Os objectivos definidos constituem um argumento a favor da inclusão do TL no Ensino das Ciências, uma vez que para Hodson (1992) a educação em Ciência tem três componentes principais:

Ø Aprender ciência – adquirir uma gama de conceitos e familiarizar-se com algumas das teorias científicas;

Ø Aprender acerca de ciência – compreender a natureza da ciência e a prática científica e a relação complexa CTS;

Ø Fazer ciência – adquirir conhecimentos, habilidades e capacidades fundamentais para a realização da investigação científica e real.

É no aprender e no fazer ciência que o TL poderá dar uma especial contribuição. É com este que os alunos poderão experienciar alguns dos fenómenos do dia-a-dia (Hodson, 1992).

Ao aprender ciência, os alunos poderão fazer observações, formular e testar hipóteses e fazer uma interpretação científica destas. Como consequência, fazer ciência é relacionar a teoria com a prática. Numa investigação define-se o problema, como o abordar e qual a estratégia mais adequada para o resolver. O TL tem pois um importante papel no fazer ciência que deve ser encarada como uma actividade holística. Nas aulas laboratoriais, os alunos devem estar envolvidos activamente, discutindo os seus pontos de vista, consultando diversas fontes de informação, recolhendo dados e analisando documentos, formulando hipóteses, observando, interpretando e delineando soluções para diversos problemas quer oralmente quer por escrito. O professor deve organizar as actividades, de forma variada, atendendo às características da turma e aos objectivos a atingir. Também a selecção dos materiais e das estratégias utilizadas devem permitir aos alunos a compreensão progressiva da natureza do conhecimento científico, evolução dos conceitos e implicações sociais económicas e tecnológicas da sua descoberta.

Um dos objectivos mais apontados pelos diversos autores é, sem dúvida, a motivação que as AL´s podem despertar nos alunos. A maioria dos investigadores afirma que o TL pode ter um papel importante na motivação dos alunos para o estudo das ciências experimentais, porque este pode ajudar na compreensão e no desenvolvimento do pensamento científico, e desenvolver atitudes fundamentais com o conhecimento científico (abertura ao diálogo e às ideias dos outros, curiosidade entre outras). No entanto Hodson (1994), considera que nem sempre isto acontece. Considera pouco motivadoras a maioria das actividades propostas, uma vez que são do “tipo receita”, no qual não se sabe se os alunos estão ou não a compreender o que estão a fazer e podem gerar alguma confusão conceptual, metodológica e epistemológica, em vez de serem interessantes do ponto de vista da construção de conhecimentos. O mesmo autor defende o ensino de skills laboratoriais que podem ser úteis para aprendizagens futuras e reconhece que o TP é um dos recursos disponíveis e adequados para o ensino-aprendizagem das Ciências (Hodson,1988).

Para Leite (2001) deve ser feita a distinção entre as potencialidades do TL e os objectivos que na realidade se conseguem com a realização destas actividades: “ Usar algum trabalho laboratorial não é necessariamente melhor do que não usar nenhum, dado que a sua utilidade e eficácia dependem do modo como é usado” (p.10). Para se atingir determinado objectivo, a AL tem que ser estruturada e integrada com a teoria de modo adequado. Qualquer que seja a actividade, os objectivos relacionados com a motivação e o desenvolvimento de atitudes científicas têm de estar sempre presentes.

As potencialidades teóricas que estão na base dos argumentos que se usam a favor da utilização do TL são de três tipos: a) afectivos, b) cognitivos, e c) os que são associados a capacidades/habilidades. São estes os principais argumentos que favorecem a utilização deste tipo de trabalho no Ensino das Ciências.

Do que foi exposto anteriormente conclui-se que há algum consenso sobre as potencialidades que estão associadas ao TL. Há, no entanto, algumas discordâncias no que concerne aos objectivos alcançados com este trabalho.