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Capítulo II Turismo de Base Comunitária

2.2. Enquadramento do Turismo de Base Comunitária

2.2.1. Conceptualização do Turismo de Base Comunitária

As definições atribuídas ao turismo de base comunitária divergem de autor para autor no que se concerne ao âmbito da participação da comunidade na condução do mesmo. Portanto, não existe uma definição universal, porém existem aspetos comuns às várias definições, assim como aspetos diferenciadores. Por um lado, alguns autores afirmam que a comunidade deve ser a proprietária e a gestora, por outro lado, outros autores aceitam a participação de externos, aceitando, assim, diferentes níveis de envolvimento e acordos de parcerias (Giampiccoli & Kalis, 2012; Pawson et al., 2017). Desta flexibilidade do conceito, Goodwin & Santilli (2009) ressaltam a falta de rigor na definição de turismo de base comunitária. Giampiccoli & Kalis (2012) descreve o TBC como sendo uma estratégia para o desenvolvimento comunitário que deve ser atingido através do aumento da autoconfiança e empoderamento dos membros da comunidade, por medidas de sustentabilidade, e por medidas de promoção e conservação da cultura. Porém aceita a participação de atores externos para que estes providenciem plataformas facilitadoras para que a comunidade seja capaz de tomar decisões e colocar em prática ações independentemente, e que seja capaz de controlar o próprio desenvolvimento.

Para Asker et al. (2010), o TBC é uma forma de turismo de escala reduzida que tem como premissa a gestão integral por parte da comunidade e em prol da mesma, sendo essencial que a comunidade sinta que possui e se encontra envolvida na condução do TBC, tanto na fase de planeamento, como nas tomadas de decisão e no desenvolvimento de operações. Porém, devem ser os locais os principais a ditarem a forma como o turismo é gerido no local de residência destes (CBI Ministry of Foreign Affairs, n.d.).

Nessa sequência, autores como Goodwin & Santilli (2009), Kayat (2014) e a WWF Internacional (2001) também definem esta forma de turismo alternativo como um turismo gerido pela comunidade e/ou de propriedade comunitária que tem como intuito distribuir benefícios pela comunidade envolvida. O planeamento ao nível da comunidade também é defendido por Simmons (1994) que ressalta este aspeto como um aspeto essencial para garantir a satisfação dos visitantes e a obtenção de benefícios para os residentes.

Coriolano, Araújo, & Vasconcelos (2009) salientam que o turismo de base comunitária deve- se caracterizar não só pela participação comunitária, mas também por uma gestão integrada

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de combinações produtivas locais que fortalecerão as atividades económicas pré-existentes, como a agricultura, a pesca e o artesanato, por exemplo.

Brohman (1996, p. 60) talvez apresente a definição de turismo de base comunitária mais completa ao defender que:

O desenvolvimento do turismo de base comunitária procuraria fortalecer as instituições destinadas a aumentar a participação local e promover o bem-estar económico, social e cultural da maioria popular. Também procuraria buscar uma abordagem equilibrada e harmoniosa do desenvolvimento que enfatize considerações como a compatibilidade de várias formas de desenvolvimento com outros componentes da economia local; a qualidade do desenvolvimento, tanto cultural como ambiental; e as necessidades, interesses e potenciais divergentes da comunidade e seus habitantes.

Assim, esta forma de turismo alternativo tem como base a premissa do envolvimento da comunidade residente e a participação da comunidade no planeamento e gestão das atividades turísticas. Esta premissa é essencial para a indústria do turismo uma vez que são os residentes que, ao se envolverem, permitem o desenvolvimento de projetos e a geração de benefícios para a comunidade (Blackstock, 2005; Goodwin & Santilli, 2009; Kayat, 2014). Murphy (1985, 1987, cit in Blackstock, 2005), ressalta a importância do envolvimento da comunidade ao defender que os valores e visões dos membros da comunidade devem ser incorporados nos processos de planeamento em turismo e na fase de implementação.

Blackstock (2005) aponta que a literatura, na perspetiva do turismo de base comunitária, falha quando adota uma abordagem funcional para o envolvimento da comunidade, quando trata a comunidade local como um grupo homogéneo, e quando negligencia as restrições estruturais ao controlo local da indústria turística.

Segundo Blackstock (2005), verifica-se uma falha ao adotar uma abordagem funcional para o envolvimento da comunidade, porque o turismo de base comunitária procura garantir a longevidade da indústria do turismo e não procura a justiça social. Por outras palavras, procura obter principalmente benefícios económicos descartando a importância do empoderamento local. Em certos casos, a comunidade ao ter uma ilusão de empoderamento,

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aceita e apoia o turismo, porém não possuem poder para rejeitar o turismo como uma forma de desenvolvimento local.

Verifica-se outra falha ao tratar genericamente a comunidade local como um grupo homogéneo, assumindo que os interesses são partilhados e que existe um consenso entre todos os membros da comunidade. Porém, não se deve generalizar uma vez que existem comunidades heterogéneas e estratificadas. Outro aspeto mencionado por Blackstock (2005), é que o controlo local não se traduz automaticamente na participação nos processos de tomada de decisão uma vez que essa participação encontra-se dependente de quem se encontra em poder ao nível local. Portanto, desse modo, o turismo de base comunitária não salienta as diferenças estruturais existentes nas comunidades que influenciam os processos de tomada de decisão ao nível local.

Por fim, Blackstock (2005) também identifica a negligência das restrições estruturais ao controlo local da indústria turística como uma falha na literatura. Esta autora defende que é necessário compreender as divisões estruturais internas às comunidades, assim como é necessário compreender as barreiras externas à participação e controlo locais.

Vários são os obstáculos ao sucesso do TBC. Segundo Giampiccoli & Kalis (2012), esses obstáculos podem passar pela atuação de estruturas de poder de características tradicionais que promovam o poder desequilibrado, podendo esse desequilíbrio de poder verificar-se ao nível do género e/ou da etnia. Também a nível interno, a inconsciência e a falta de conhecimento relativamente ao setor do turismo prejudica o desenvolvimento positivo de projetos, e o acesso desigual às oportunidades locais. A deficiência na capacidade de comercialização e a natureza periférica das comunidades também constituem obstáculos ao sucesso e à obtenção de benefícios através da aplicação do TBC.

Desenvolver empresas que ofereçam benefícios à comunidade local enquanto protegem o ambiente e cultura indígenas ao mesmo tempo que são economicamente viáveis, segundo Simpson (2009), é um desafio chave para esta forma de turismo que procura promover a sustentabilidade.

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