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Figura 01 Grau de comprometimento normativo, calculativo e afetivo dos três grupos de

7. CONCLUSÃO E AGENDA DE PESQUISA

Os estudos sobre Comprometimento Organizacional e Locus de Controle, como o de Medeiros e Enders (2002), podem ser entendidos como de suma importância para as organizações, no que diz respeito à Gestão de Recursos Humanos, visto que auxiliam na compreensão dos tipos de vínculos que os empregados estabelecem com o trabalho.

Dentre os principais objetivos do presente estudo estavam a avaliação e a comparação do Comprometimento Organizacional Afetivo, Normativo e Calculativo e da orientação de Locus de Controle de jovens trabalhadores participantes, ex-participantes e não participantes do Programa de Aprendizagem, em uma empresa de contact center (central de atendimento) e a análise da correlação entre a orientação do Locus de Controle, variáveis pessoais e profissionais e Comprometimento Organizacional nestes mesmos jovens.

No que diz respeito ao Programa de Aprendizagem, ele foi aprovado pelo Governo Federal, por meio das Leis nº 10.097, de 19 de dezembro de 2000 e a 11.180 de 23 de setembro de 2005 e destina-se a menores de baixa renda, que tenham entre quatorze e vinte e quatro anos incompletos, que estejam matriculados ou já tenham concluído o ensino fundamental. Tem como objetivos a formação do menor como cidadão e como trabalhador qualificado e procura fornecer uma formação técnico-profissional progressiva, por meio de organizações de trabalho públicas ou privadas, que cumprem com a cota mínima de 5% de menores aprendizes, em seu quadro de funcionários.

Este estudo mostrou que os jovens que participam do Programa apresentam níveis mais altos de Comprometimento Organizacional Afetivo.

Deste investimento, parece decorrer, durante e após a formação profissional recebida pelo Programa, um comprometimento afetivo com a organização gestora deste, uma vez que

os menores aprendizes e os ex-menores aprendizes reconhecem, mais do que os associados, o que esta faz e já fez por eles no passado.

Os jovens trabalhadores que não passaram por esta formação profissional diferenciada, denominados associados, valorizaram mais os benefícios que recebem da empresa do que os demais, enquanto que os menores aprendizes, que são os que fazem o curso oferecido por meio do Programa de Aprendizagem, mostraram-se um pouco mais entusiasmados e animados com a organização.

No que se refere às correlações entre Comprometimento Organizacional e Locus de Controle, os resultados deste estudo são consistentes com outros já desenvolvidos com trabalhadores em geral, nos quais os níveis mais altos de internalidade e mais baixos de externalidade relacionam-se com um maior comprometimento afetivo.

A importância de estudos que correlacionem estas duas variáveis já foi citada por Mathieu e Zajac (1990) e Medeiros e Enders (2002) ao afirmarem que características pessoais como locus são antecedentes da diferença de desempenho e de comportamento de um trabalhador para outro no âmbito empresarial e, por esse motivo, deveriam ser mais bem exploradas, a fim de servirem para o campo de conhecimento do Comportamento Organizacional, para as organizações na gestão de pessoas e também para o meio acadêmico. É sugerido que esta relação seja mais investigada nos trabalhadores jovens que, com suas peculiaridades, decorrentes da idade e do contexto sócio-cultural, mantêm relações diferenciadas com o trabalho e com a organização, quando comparados com os trabalhadores em geral.

Algumas limitações deste estudo são evidentes. Primeiramente, por se tratar de um estudo de caso, a generalização dos resultados pode ser questionada, ainda que se tenha tido o cuidado com os procedimentos da pesquisa. Outro problema diz respeito à coleta de dados no

ambiente organizacional e institucional, considerados não neutros e que também influenciam nos resultados alcançados.

Outras variáveis organizacionais, tais como, Percepção de Suporte Organizacional e Social no Trabalho, Justiça, Clima e Cultura Organizacional, são pouco pesquisadas entre os trabalhadores de pouca idade e serviriam de base para outros estudiosos e para as próprias organizações, visto ser uma faixa etária cada vez mais freqüente no mercado de trabalho, devido à baixa renda familiar e à inquietude pela independência financeira (Marques et al., 2002; Sales, & Loureiro, 2004; Maciel, 2005).

É freqüente a participação de adolescentes em pesquisas em que a variável Locus de Controle está sendo analisada, porém, pouco se encontrou sobre o Locus de Controle neste mesmo público em um contexto laboral. Este foco pode vir a ser um objeto de pesquisas futuras, a fim de se certificar ou não, o predomínio da orientação Locus-internalidade entre os jovens e os fatores que levam a tal achado.

É possível sugerir mais pesquisas que utilizem a Escala de Comprometimento Calculativo em jovens, a fim de averiguar a adequação da mesma para estudos com adolescentes recém-contratados.

Outra sugestão mais abrangente refere-se à análise do relacionamento existente entre empregado e empregador através dos tempos, o qual passa por mudanças substanciais: as crises econômicas, a vivência de tempos de guerra e escassez, as inovações tecnológicas introduzidas na execução do trabalho, o aumento das exigências e de maiores habilidades gerais e específicas para o provimento dos cargos, as leis trabalhistas, entre outros, geraram modificações nas relações de trabalho.

Se no passado era comum a dedicação do indivíduo a uma só carreira profissional e um único emprego, hoje se observa diminuída a fidelidade ao empregador e, conseqüentemente, ocorre uma maior troca de emprego na busca constante do atendimento às

necessidades individuais, sejam elas econômicas, de segurança ou de bem-estar, troca esta que pode dificultar a formação de vínculos com a organização e a vontade de continuar na mesma. Entende-se que esta nova realidade requer maiores estudos, a fim de se compreender, de maneira mais longitudinal, os tipos e os graus de comprometimento estabelecidos entre trabalhador e organização.