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CONCLUSÃO

Diversas microestruturas podem ser descritas nas formações ferríferas bandadas do Quadrilátero Ferrífero, porém se relacionadas à ocorrência de magnetita, sem dúvida as mais significativas são aquelas que de alguma forma provêm da transformação de fases entre magnetita e hematita. Esses padrões de transformação de fase no QF foram analisados e discutidos segundo sua distribuição geográfica e segundo sua evolução textural.

Geograficamente, a compartimentação do QF em setores de maior ou menor deformação já havia sido proposta por Rosière et al., (2001), baseados em trabalhos anteriores, bem como na textura cristalográfica de hematita das FFs do QF. Levando-se em conta os dados obtidos para a magnetita, não há grande discrepância desse zonamento. O que é ressaltado no momento é que não há um limite notadamente marcado no que se refere aos diferentes domínios de deformação para a magnetita. Na verdade, há uma zona de transição entre uma região claramente marcada por microestruturas controladas por processos cataclásticos e entre outra em que a blastese é dominante. Esse setor onde o microfraturamento de cristais de magnetita é comum, bem como a foliação ainda é incipiente coincide com o domínio de baixa deformação proposto por Rosière et al., (2001), embora não abranja toda a região anteriormente prevista. Já o setor do QF em que a blastese de cristais de magnetita é posterior à foliação tectônica pervasiva, composta de grãos tabulares de hematita, encontra-se na região descrita por Rosière et al., (2001) como de alta deformação. O que se ressalta porém, para os dados relativos à magnetita é que a distribuição desses padrões microestruturais não se dá de forma abrupta e sim gradativa. Destaca-se um grande setor central no QF em que as foliações tectônicas ora são incipientes, ora são pervasivas, descrevendo em uma mesma amostra verdadeiras regiões onde há menor e maior atuação da deformação respectivamente. Já os processos de microfraturamento e de blastese são concomitantes nesse setor de transição, sendo possível ainda descrever amostras em que embora haja a cataclase como mecanismo responsável pela deformação de grãos de magnetitas antigos, a blastese atua no crescimento de novos cristais de magnetita sobre a foliação. Não se optou pela compartimentação dessa zona de transição num setor distinto pois a mesma não guarda nenhum tipo de característica que a distinga dos demais setores. Apenas é descrito como uma região em que as condições de deformação e os processos envolvidos são típicos da transição de um setor notadamente controlado por baixa deformação para um setor em que a mesma foi mais atuante. Microestruturalmente, a presença dos processos de deformação no QF atuantes na magnetita torna

Barbosa,
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Caracterização
microestrutural
e
textural
de
agregados
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magnetita
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possível a compartimentação dessa província em dois grandes setores: Setor oeste:

• deformação: baixa;

• mecanismos atuantes: cataclase, dissolução e precipitação;

• microestruturas: formação de microfraturas e foliação incipiente, diminuição do tamanho dos grãos. Setor leste:

• deformação: alta;

• mecanismos atuantes: dissolução, precipitação e crescimento mineral; • microestruturas: formação de porfiroblastos, foliação pervasiva.

Texturalmente, a transformação magnetita-hematita não se distribui conforme setores geográficos. Isso é o resultado da evolução e das condições locais de seu crescimento. Ou seja, um grão que apresenta microfraturamento e se encontra submetido à baixa deformação no setor oeste do QF pode apresentar os mesmos padrões de transformação de um blasto de magnetita que se encontra no setor leste do QF, de maior influência da deformação. Dessa forma, o estudo das texturas que esses padrões de transformação traçam baseia-se na sua evolução cristalográfica. Estima-se portanto que um cristal de magnetita, inicialmente pertencente ao sistema cúbico sofra oxidação (e.g. por fluidos oxidantes, deformação do retículo cristalino). Assim, tendo perdido um elétron, o Fe2+ transforma-se em Fe3+ , desligando-se do retículo cristalino da magnetita. Esses íons antes de serem oxidados, compõem verdadeiras folhas paralelas aos planos octaédricos da magnetita que por sua vez também são paralelas às folhas de íons oxigênio que constroem o retículo cúbico. O Fe3+ que antes era formador da magnetita, encontra-se agora em solução, restando ao retículo isométrico apenas as folhas de oxigênio. Assim, uma das possibilidades é que, a partir do plano octaédrico da magnetita que se transforma, construa-se um novo retículo trigonal da hematita, utilizando para isso os íons oxidados de ferro que já se encontram em solução. Esse processo de dissolução e precipitação coordena a evolução textural da magnetita. Enquanto isso, o agregado formado pela magnetita que se transforma e pela hematita também evolui respondendo aos processos de oxidação da magnetita. Parte-se portanto de um agregado isotrópico de magnetita sem a presença de orientação preferencial de hematita. À medida que a magnetita sofre oxidação, a hematita é formada, aproveitando-se dos planos octaédricos do retículo cúbico. Assim, a orientação cristalográfica da hematita já nasce controlada pela orientação herdada do retículo cristalino da magnetita que é progressivamente transformada. Aliada a esse processo, há ainda a formação da foliação, marcada pela orientação preferencial das hematitas tabulares. Dessa forma, a orientação cristalográfica preferencial dos cristais de hematita do QF não são apenas controlados pela deformação durante os processos de geração e alteração da foliação regional penetrativa, mas também

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Ciências
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Série
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pelos planos cristalográficos da magnetita que é oxidada. Obviamente, essa afirmativa é aplicada somente aos cristais de hematita que são notadamente provindos dos processos de oxidação da magnetita.

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