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econômicas e a consequente instabilidade, redução de recrutamento de mineiros moçambicanos e diminuição da utilização dos portos e caminhos de ferro moçambicanos por parte da África do Sul.

Moçambique passou a se interessar mais claramente pelo Brasil quando adotou a economia do mercado e, especialmente, com a subida de Lula ao poder. É verdade que, para além desses aspectos, o fim da guerra civil tornou Moçambique seguro para investimentos, ao mesmo tempo em que o fim da Guerra Fria significava o termo da ideologização das relações internacionais.

As relações entre o Brasil e a África, em especial Moçambique neste pós-Guerra Fria, vem demonstrar que as teorias sobre as vantagens comparativas (vantagens da especialização da produção de cada país em função dos seus recursos naturais ou do seu serviço tecnológico), desenvolvidas pelo economista David Ricardo, deixam de ser as únicas capazes para servir de explicação para o desenvolvimento do comércio internacional sendo, em parte, enriquecidas pela a teoria de vantagem competitiva, desenvolvida por Michael Porter. Porter defende que a competitividade nacional depende da produtividade nacional. Mas, como nenhum país é competitivo em todos os sectores, e porque as economias são altamente especializadas, o sucesso de cada país depende da forma como as empresas de sectores inter-relacionados se organizam para competir em nível global, pois são as empresas que concorrem e não os países.

Moçambique é detentor de fatores necessários para competir em nível regional.

A localização geoestratégica na região Austral da África constitui uma vantagem competitiva, nomeadamente, os sistemas e relações estabelecidas durante o colonialismo com os países do hiterland. Os portos moçambicanos, com as linhas férreas e estradas ligando a maior parte dos membros da SADC, para além de se constituir em espinha dorsal dos corredores de desenvolvimento, representam a essência da vantagem competitiva de Moçambique no âmbito da integração regional.

Também constitui vantagens competitivas do país as grandes potencialidades na produção de energia, principalmente os imensos recursos hídricos, carvão e gás natural.

É nesta área tão importante onde se centra a cooperação e o investimento directo brasileiro em Moçambique. Empresas brasileiras de renome como a Vale do Rio Doce, a Petrobrás e a Camargo Corrêa competem com as demais empresas internacionais na

exploração de recursos energéticos, que pelo seu valor tenderão a abastecer não só Moçambique, mas toda a região da África Austral, em especial a África do Sul.

Portanto, o crescimento constante do investimento directo estrangeiro em Moçambique está abrindo espaço para o país reforçar a sua posição na região da SADC.

A dependência externa do Estado é a mais séria das ameaças que presentemente Moçambique enfrenta, na medida em que limita a possibilidade de um desenvolvimento nacional forte e autônomo. Tal desenvolvimento não pode se produzir sem que um papel dirigente seja desempenhado pelo aparelho de Estado, o qual ao menos deve possuir poder e autonomia suficientes para lograr definir e controlar a influência sobre os acontecimentos internos que será exercida pelo mercado mundial e pelo capitalismo internacional. Sendo assim, a cooperação com o Brasil nas áreas energéticas , recursos minerais, saúde , formação de recursos humanos e melhoramento no sector de serviços sem imposições sobre o modelo de governança à moda das instituições financeiras internacionais e países desenvolvidos, nos permite afirmar que Moçambique a breve trecho deixará de ser apenas um país corredor na região Austral. A atenção dada pelo governo brasileiro e pelo seu sector privado permite que Moçambique eleve a sua posição perante os demais países da SADC e demais investidores na região, como China, Índia e outros

Tal como em todos os países da África, o principal desafio de Moçambique, como um país em desenvolvimento, consiste nos esforços tendentes a minimizar os efeitos de várias epidemias e para isso é importante ressaltar que a cooperação entre o Brasil e Moçambique é ímpar na área social, pois pela primeira vez um Estado transfere tecnologia a custo zero para o continente africano, afetado pela pandemia da AIDS. Os produtos enviados à Moçambique para esse fim serão para o consumo interno e regional, minimizando, assim, os seus custos de importação. Portanto, os vários acordos entre Moçambique e Brasil estão direcionados a acções de cooperação institucionais voltadas para a formação e transferência de tecnologia na Agricultura, Educação (em especial à educação técnico-profissional e o Ensino a Distância), Saúde e Energias Renováveis (Biocombustíveis).

Há perspectivas de alargamento da cooperação bilateral tomando em consideração o interesse moçambicano nos seus diferentes sectores como Turismo,

Meio Ambiente, Administração Pública, Ciência e Tecnologia, entre outros. Este cenário reflecte a existência de um campo ilimitado de oportunidades de cooperação com o Brasil, mas de forma a tornar esta mais viável e exequível, afigura-se necessário um melhor enquadramento e concentração das actividades para que estejam em consonância com as prioridades de desenvolvimento. .

Os contactos embrionários entre a SADC e Mercosul revelam outra natureza: a exploração de vias de relacionamento Sul-Sul, projecto muito referido por políticos e economistas deste hemisfério, mas, até aqui, com pouca base material. Dessa forma, as relações entre o Brasil e Angola na zona atlântica e entre o Brasil e Moçambique na zona do Índico adquirem algum destaque na África Austral, mais pela inexistência de relações entre os dois blocos econômicos regionais.

Em geral o quadro da cooperação com o Brasil é extenso, abrangendo um leque bastante amplo de sectores caracterizados pela existência de muitos acordos e memorandos de entendimento enriquecidos pelos factores históricos e culturais. Um dos aspectos deste fenômeno é manifestado pela presença da Igreja Universal do Reino de Deus, que tem sido pioneira em apoiar populações carentes ou vítimas de calamidades naturais pela presença de sua rádio e de sua televisão RECORD, que pela audiência é, sem sombras de dúvidas, o canal mais concorrido devido às novelas, seus programas musicais e desportivos, reforçando a presença brasileira. Esta se deve também aos programas de intercâmbio de estudantes.

A China é o único país do grupo BRIC com assento permanente nas Nações Unidas, enquanto que a Índia e o Brasil são actualmente membros não permanentes.

Esta composição deverá lançar uma estratégia consistente para a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que a maioria dos países em desenvolvimento tem estado a exigir.

Os países em desenvolvimento dizem que o Conselho de Segurança continua a viver no passado e trata os membros da Organização de modo desigual, com as nações mais poderosas a abusar e a ameaçar as nações mais fracas. Esta situação tem estado a ameaçar as relações entre os países, bem como regiões e continentes. A África está a olhar para o Brasil, para a Índia, para a China e para a África do Sul como parceiros para criar equilíbrio nas suas relações internacionais. São estes países que estão

aumentando a sua ajuda aos países em desenvolvimento em África em sectores como agricultura, manufacturas e mineração.

O Brasil está aumentar investimentos em Moçambique, numa altura em que outras fontes tradicionais de investimento externo directo estão a reduzir, devido à crise financeira global. Da mesma forma, a estratégia da diplomacia brasileira de articular coalizões de geometria variável para reforçar a posição dos países em desenvolvimento em negociações nos organismos econômicos internacionais, é do máximo interesse para Moçambique.

Numa perspectiva política, a adesão à economia de mercado, e em especial o fim da Guerra Fria, proporciona um bom ambiente para o desenvolvimento de Moçambique, sendo que a cooperação com o Brasil ocupa um lugar privilegiado por motivos de identidade histórica e cultural, bem como por interesses econômicos e político-diplomáticos comuns, que vêm impulsionando não só o intercâmbio entre os povos dos dois países , mas também a aproximação entre os governos de Moçambique e do Brasil.

Mas ainda resta muito a fazer.

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