• Nenhum resultado encontrado

CHAPITRE 13. APRENDENDO EM COMUNIDADE: A CONSTRUÇÃO DE “NOVOS TERRITÓRIOS” NA AMAZÔNIA

8- Conclusão: a dialética da aprendizagem

O presente artigo pretendia traçar e analisar o processo da aprendizagem de comunidades rurais com vistas à preservação de seus recursos naturais e de seu modo de vida nos seus respectivos ecossistemas – terra firme e várzea – resultando num “novo território”. Graças a uma aprendizagem semelhante iniciada no ano de 2007, outras comunidades do município localizadas na outra margem do rio Xingu, conseguiram também formar um Projeto de Assentamento Extrativista (Paex), a ser administrado por elas e que quiseram vivê-lo em regime de uso coletivo, à diferença da Resex. Um mesmo processo de aprendizagem via sindicalismo rural tinha sido realizado nos anos 1980 por seringueiros do Estado do Acre a primeira Resex, como mencionado acima; estão se desenvolvendo, no Estado do Pará, diversas versões interessantes de populações vivendo em “terras tradicionalmente ocupadas”: terras indígenas, terras de quilombo, terras de castanhais do povo, etc. (Almeida 2008). Duque & Costa (2002) se refere, também, a ações coletivas de aprendizagem contemporâneas, semelhantes às de Porto de Moz, e bem sucedidas no Semi-Árido do Nordeste do Brasil. Encontram-se em regiões pobres, principalmente do Semi-Árido do Nordeste muitos outros tipos de ações coletivas locais para o desenvolvimento rural, mas, freqüentemente por iniciativa ou por forte apoio de agências governamentais ou de ONGs. Sabourin (2007 : 153) nos seus trabalhos numa região do nordeste reflete que “a metade das inovações dos vinte últimos anos provêm dos agricultores”. A particularidade da Resex Verde para Sempre é o tempo longo de sua luta e de sua

aprendizagem. Acreditamos que pedagogias semelhantes pudessem ser eficientes em outras regiões e, até, em outros países de cultura predominante oral propícia à evocação da memória coletiva dos anciãos e de intercâmbios comunitários.

Como processos sociais, estes processos de aprendizagem e de construção de territórios não escapam a dificuldades, tensões e conflitos. Os momentos fortes destes processos são freqüentemente seguidos de momentos de depressão. A fragilidade da Resex apresenta-se pela composição do Conselho Deliberativo de Gestão da Resex, que se limita a 50% mais um de moradores, sendo destarte expostos a uma oposição, que não se manifestou até hoje favorável à reserva, mesmo porque outros membros não estão muito fiéis às reuniões. No presente caso, a formação e o exercício do Conselho deliberativo da gestão da Resex envolveu concorrências e divisões internas entre comunidades ou, mesmo dentro delas que se resolvem atualmente em boa parte pela criação de um Comitê de desenvolvimento sustentável que reúne a maioria das comunidades. O Conselho deliberativo sente bastante a falta da presença regular de seu presidente nomeado pelo governo federal e que não mora no município como conviria.

Referências

Almeida, A.W.B. de (2008). Terras tradicionalmente ocupadas. Manaus: PGSCA-UFAM, 2ª Ed.

Araújo, R. (1991). Campo religioso e trajetórias sociais na Transamazônica. In: Lena, P.; Botelho, A. (2009). Dominação pessoal e ação na sociologia política brasileira. In: Ferretti, S. F; Ramalho, J. R. (Org.). Amazônia: desenvolvimento, meio ambiente e diversidade sociocultural. São Luiz: EDUFMA.

Brasil (2006). Constituição da República Federativa do Brasil. 39ª ed. atualizada. São Paulo: Saraiva.

Castellanet, C; Hébette, J.; Henchen, M. (2002). Os níveis pertinentes para a pesquisa- ação sobre a gestão dos recursos naturais nas regiões de fronteira: o caso da Transamazônica. In: Albaladejo, C.; Veiga, I. (Org.). A construção local dos territórios da agricultura familiar (Amazônia-Nordeste). Parte 1. A intervenção local em questão. Agricultura Familiar. Pesquisa, Formação e Desenvolvimento. Belém: UFPA; CA; NEAF, v. 1, n. 2 : 57-87.

Carvalho, F. C. de. O (2009). Ordenamento territorial e impactos socioambientais no distrito industrial de São Luís – MA. In: Sant’Ana Jr, H. A. et al. (Org.). Ecos dos conflitos socioambientais: a Resex de Tauá-Mirim. São Luís: EDUFMA.

Collignon, B. (2000). Les savoirs géographiques vernaculaires ont-ils une valeur? In: Michaud, Y. Qu’est-ce que la société? Paris: Editions Odile Jacob.

Cunha, M. C. da & Almeida, M. W. B (2001). Populações tradicionais e conservação ambiental. In: Capobiano, J. P. R. et al. Biodiversidade na Amazônia brasileira: avaliação e ações prioritárias para a conservação, uso sustentável e repartição de benefícios. São Paulo, Estação Liberdade: Instituto Socioambiental.

Duque, G. & Costa, G. da (2002). Uma ação coletiva para uma política estadual de sementes. In: Duque, G. (Org.). Agricultura familiar, meio ambiente e desenvolvimento. Ensaios e pesquisas em sociologia rural. João Pessoa: Editora Universitária : 110-114.

Geertz, C. (1959). Form and variation in Balinese Village Structure. In: American Anthropology, n.6.

Halbwachs, M. (1938). La morphologie sociale. Paris: Colin.

Hébette, J. (2004). Cruzando a fronteira: 30 anos de estudo do campesinato na Amazônia. Belém: EDUFPA, 4 vol.

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, 2002. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Anuário estatístico. Rio de Janeiro: IBGE,

2000.

Laboratório Agro-Ecológico da Transamazônica. Relatório do IV Seminário de preservação dos recursos naturais - pesca e madeira, Altamira, 1996. Ministério do Meio Ambiente (2007).

Moreira, E. da S. (2010). Mobilização comunitária, ordenamento territorial e territorialidades no rio Xingu, Pará. In: Gomes, A. et ali (Org.). Organização social do trabalho e associativismo no contexto da mundialização: Estudos em Portugal, África e Amazônia. Belém: NUMA/UFPA : 213-238.

Moreira, E.da S. (2006). Mouvement social pour la défense d’un territoire traditionnel en Porto de Moz (Amazonie brésilienne) : une participation par le bas. In : Teisserenc, P. (Org.). La mobilisation des acteurs dans l’action publique locale, au Brésil, en France et en Tunisie. Paris : L’Harmattan : 59-72.

Moreira, E.da S. (2004). Tradição em tempos de modernidade : reprodução social numa comunidade varzeira do rio Xingu/PA. Belém: EDUFPA.

Moreira, E.da S. (2008). Movimento Social Amazônico em Defesa de Territórios e de Modos de Vida Rurais: estudo sociológico no Baixo Xingu. Tese. Pós-Graduação em Ciências; École Doctorale Vivant et Sociétés. Belém: UFPA.

O Liberal. Atualidades. Cidades. P.11. 20.05.2011.

Oliveira, A. E. de (Org.) (1991). AMAZÔNIA: a fronteira agrícola 20 anos depois. Belém: MPEG : 125-163.

Sabourin, É. (2007). Paysans du Brésil. Entre échange marchand et réciprocité. Paris : éditions Quae.

Teisserenc, P. (2002). Les politiques de développement local. 2º ed. Paris: Econômica. Zalio, P-P. (2001). Durkheim, Paris: Hachette.

Informantes

IDALINO, morador das comunidades rurais de Porto de Moz, 1998 SIMÃO, morador das comunidades rurais de Porto de Moz, 2000. SOCORRO, moradora das comunidades rurais de Porto de Moz, 1998.

NOTE SUR ELS AUTEURS

Documentos relacionados