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Hodiernamente, os princípios norteadores do Direito Administrativo devem ser compreendidos à luz do princípio da probidade administrativa, consagrado expressamente no artigo 37, § 4º, da Constituição Federal, que trata do regime sancionatório aplicável aos sujeitos ativos de atos ímprobos.

A probidade administrativa, como princípio autônomo, constitui o dever de boa administração, que deve ser observado por todos os agentes públicos, impondo a prática de atos em conformidade com os demais princípios administrativos e tendo como finalidade o alcance do interesse público.

Regulamentando o referido mandamento constitucional, a Lei nº 8.429/92 foi elaborada com a finalidade de proporcionar uma maior efetividade na tutela da probidade no âmbito da Administração Pública, elencando, de modo exemplificativo, os atos caracterizadores de improbidade, que podem ocasionar enriquecimento ilícito, prejuízo ao Erário, ou atentar contra os princípios administrativos.

De acordo com a Lei de Improbidade, o conceito de sujeitos ativos dos atos ímprobos é bastante amplo, estando incluídos nessa categoria os agentes políticos, espécies de agentes públicos, que são representados por todos aqueles que possuem vínculo de natureza política com o Estado, atuando com independência funcional e tendo a Constituição como fonte imediata de suas atribuições, responsabilidades e prerrogativas.

Como os demais agentes públicos, os agentes políticos estão sujeitos à responsabilização pela prática de atos de improbidade, que podem ser sancionados em diferentes esferas, quais sejam, a penal, a civil e a administrativa, em conformidade com o disposto no artigo 37, §4º, da Constituição, e no artigo 12, da Lei nº 8.429/92.

Além das mencionadas esferas sancionatórias, determinados agentes políticos também estão submetidos a um regime especial de responsabilização, em decorrência dos relevantes cargos exercidos, que incide quando configurados os crimes de responsabilidade.

Trata-se de regime sancionatório de natureza político-administrativa, aplicável quando praticadas infrações devidamente tipificadas nas leis regulamentadoras dos crimes de responsabilidade, que são se confundem com o ilícito de improbidade, de natureza civil.

A despeito da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Reclamação nº 2.138-DF, não há falar em bis in idem na aplicação em conjunto da Lei de Improbidade e das leis regulamentadoras de crimes de responsabilidade aos agentes políticos, quando forem praticados atos que configurem, ao mesmo tempo, improbidade administrativa e crime de responsabilidade.

A independência das esferas sancionatórias dos atos de improbidade impõe a aplicação da Lei nº 8.429/92 aos agentes políticos, pois em cada instância há a tutela de bem jurídico diverso.

Por sua vez, o princípio da força normativa da Constituição, que tem por objetivo tornar as normas constitucionais mais efetivas, impõe, do mesmo modo, a aplicação da Lei de Improbidade aos agentes políticos, tendo em vista que o artigo 37, § 4º, da Constituição, não faz qualquer restrição quanto a sua abrangência subjetiva. No mesmo sentido, a Lei 8.429/92, que regulamenta o referido mandamento constitucional, também não faz qualquer limitação ao conceito de sujeito ativo de atos de improbidade.

De outra ponta, o exercício de relevantes funções pelos agentes políticos não pode representar tratamento privilegiado em face dos demais agentes públicos, e sim uma atribuição de maior responsabilidade pelos atos praticados. Entender em sentido contrário significaria violar o princípio da isonomia no regime sancionatório dos agentes públicos, pois os agentes políticos estariam sujeitos à sanções menos severas que aquelas aplicáveis aos demais agentes, quando praticassem atos caracterizadores de improbidade administrativa.

O princípio da isonomia também restaria violado caso fosse admitida a possibilidade de aplicação da Lei de Improbidade aos agentes políticos apenas se o ato ímprobo perpetrado não encontrar correspondência nas leis tipificadoras de crimes de responsabilidade. Isso ocorre porque, nesse caso, apenas determinados agentes políticos estariam sujeitos às sanções mais severas da Lei de Improbidade.

Embora a incidência simultânea da Lei de Improbidade e de lei regulamentadora crime de responsabilidade possa ocasionar a aplicação de sanções parcialmente coincidentes, quais sejam, a perda da função e a inabilitação para o exercício de função pública por determinado período, as sanções decorrentes de atos ímprobos são bem mais amplas, não sendo justificável a sua não aplicação

por caracterizar bis in idem, que somente haveria se todas as sanções dispostas nas leis em análise fossem idênticas.

Por todo o exposto, a melhor interpretação, em consonância com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, é a de que não são permitidas restrições injustificadas ao mandamento expresso no artigo 37, §4º, da Constituição, ao qual deve ser dada a máxima eficácia, com a finalidade de promover a observância do princípio constitucional da probidade administrativa.

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