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Os sistemas energéticos desempenham um papel central na nossa sociedade, seja na produção de bens ou na disponibilização de serviços. O caminho para uma sociedade sustentável

implica o desenvolvimento de políticas coerentes e planos consistentes que fomentem o desenvolvimento de sistemas energéticos sustentáveis (SES), de forma a combater o grande desafio que hoje se coloca: as alterações climáticas. A produção descentralizada de energia a partir de FER é uma das principais características dos SES, onde a biomassa assume um papel fundamental. Contudo, a utilização da biomassa deve orientar-se pelo conceito de eficiência de recursos, para não colocar em risco a estrutura florestal.

Em Portugal, a utilização de biomassa florestal para energia sofreu um enorme crescimento, fruto dos incentivos disponibilizados, principalmente para a produção de electricidade. Contudo, verifica-se que o planeamento destes incentivos resultou, por um lado, no aumento desmesurado da pressão sobre os recursos florestais e, por outro, no investimento em opções tecnológicas menos eficientes, negligenciando outras tecnologias mais eficientes, como é o caso da cogeração.

O tratamento da informação relativa à produtividade da floresta portuguesa e aos consumos do sector da biomassa florestal para energia, no sentido de apurar a sustentabilidade do abastecimento, concluiu que os consumos de RBF (2,7 a 2,9 Mton/ano) excedem a disponibilidade efectiva (1,0 a 2,0 Mton/ano) da floresta Portuguesa. Esta situação, motivada pelo acesso desregulado à matéria-prima, coloca em causa a sustentabilidade a longo prazo da floresta portuguesa e, por consequência de todos os sectores que dela dependem. A par das CTBF, o crescimento do sector de pellets de madeira, alavancado pelos incentivos atribuídos por alguns países do Norte da Europa, foi um dos fenómenos que mais contribuiu para o aumento da pressão sobre a floresta. A falta de regulação e planeamento no sector da biomassa florestal poderá trazer consequências económicas, ambientais e sociais nefastas se a situação se mantiver.

A análise dos consumos de RBF demonstra que as CTBF utilizam a maior quota, com um consumo de aproximadamente 1,3 Mton/ano. As CTBF são entre os consumidores identificados no sector da biomassa para energia os produtores menos eficientes, por apenas produzirem electricidade, e as que mais RBF consomem. Além disso, são sustentadas por uma tarifa de aquisição desproporcional que tem contribuído para agravar a dívida tarifária do sector da electricidade. A operação destas centrais é inviável a valores abaixo da actual tarifa, facto testemunhado pela fuga de investimento ocorrido em 2011, ano em que a tarifa foi revista em baixa para CTBF em fase de projecto, resultando no cancelamento de todos os projectos. Justifica- se assim a aplicação de medidas de eficiência energética que, por um lado proporcionem sustentabilidade económica às centrais sem que estas dependam de tarifas de aquisição penalizadoras para o consumidor, e por outro, reduzam a quantidade de RBF utilizados de forma directa ou indireta, de forma a promover a sustentabilidade florestal.

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Para isso é necessário que as CTBF diversifiquem os seus produtos energéticos, com especial destaque para o calor que é desperdiçado, recorrendo a opções tecnológicas inovadoras. Os dois cenários desenvolvidos, cogeração e CCGIB, apresentam soluções de valorização energética para as CTBF tendo em conta os desafios económicos com que se debatem actualmente. Os resultados obtidos demonstram que é possível uma elevada Poupança de Energia

Primária (PEP) comparativamente com o modelo actual das CTBF. Os resultados para os cenários

propostos foram muitos semelhantes: 40 e 41% de redução no consumo de energia primária (0,4 Mton), respectivamente, que resultaria numa redução global no consumo de RBF de 2,8 Mton/ano para 2,40 Mton/ano. O cenário de cogeração corresponde a um cenário que representa tecnologia em fase de comercialização, enquanto o cenário CCGIB representa tecnologia ainda em fase de demonstração. Por esse motivo, o cenário de cogeração é reconhecido como cenário paradigmático do presente estudo.

O potencial de poupança de energia primária apenas pode ser materializado se for possível utilizar o calor produzido pelas CTBF em modo de cogeração. Em modo de cogeração a CTBF de Mortágua poderia poupar energia correspondente a 41986 ton/ano de RBF, enquanto na fornalha da unidade de produção de pellets são consumidos cerca de 21000 ton/ano, sendo por isso admitida a viabilidade da integração entre as duas unidades. O caso de estudo demonstrou apenas uma das inúmeras estratégias de poligeração que podem ser aplicadas no sistema energético nacional, com o objectivo de aumentar a eficiência energética e consequentemente, o tornar mais sustentável. Actualmente são consumidos cerca de 0,28 Mton/ano de RBF pelos secadores das instalações de produção de pellets. Esta quantidade de RBF poderia ser poupada através da utilização do calor residual produzido nas CTBF em funcionamento, tal como demonstrado em vários dos exemplos apresentados.

A implementação de sistemas de poligeração deste género constitui uma solução inovadora, devido ao potencial que dispõe para o aumento da eficiência energética e de custos do sistema. O caso de estudo é baseado em exemplos que demonstram centrais de poligeração em funcionamento e que apresentam resultados positivos, principalmente em mercados energéticos desregulados, onde é possível vender qualquer volume de electricidade a qualquer instante. Este é um entre muitos exemplos do que pode ser feito melhorar a situação das CTBF e colocar o sistema energético português na rota dos sistemas energéticos sustentáveis.

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