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As três globalizações do pensamento jurídico dizem muito sobre como é possível transformar e adequar o direito às diversas mudanças econômicas, políticas e sociais. Esta tripartição, proposta por Duncan Kennedy, é particularmente reveladora com relação às transformações vivenciadas pelo direito de propriedade.

A última fase da tripartição – ou globalização – do pensamento jurídico é a menos evidente, principalmente quando adequada à disciplina da propriedade. Duncan Kennedy nada diz a respeito da maneira como a fase do pensamento jurídico pós-social pode ser inserida na disciplina da propriedade, mas tão somente em como a globalização pós-social se manifesta por meio de seus elementos marcantes.

O objetivo deste trabalho foi, portanto, o de adequar a disciplina da propriedade à terceira fase pós-social do pensamento jurídico. Como visto, é possível identificar elementos marcantes da terceira fase pós-social do pensamento jurídico em três exemplos do direito brasileiro.

A Cota de Solidariedade instituída pelo Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo demonstra, a partir do direito urbanístico, que a propriedade tem também a função de aproximar moradias de diversas classes sociais. A disciplina de terras indígenas e dos territórios quilombolas também demonstram que a propriedade vai além das funções estritamente sociais e deve ser mecanismo capaz de permitir a reprodução ancestral, econômica e cultural de uma identidade particular.

Essas evidências sugerem que já é possível articular a função pós-social da propriedade. Porém, o reconhecimento da propriedade marcada por elementos da função pós-social não deve servir somente para o Brasil. Possivelmente existem disciplinas jurídicas exemplificativas da função pós-social da propriedade em outras jurisdições, igualmente adequadas aos parâmetros que aproximam a propriedade aos direitos humanos, direitos individuais, identidades e minorias.

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